Não podemos viver só de poesia, nem só de fatos. Equilíbrio? É um pouco de vinho e um pouco de água. Uma constância da gangorra que sobe e desce, de preferência não muito alto, nem muito baixo. É assim no mundo do vinho também, equilibrando a magia e a realidade.
A coluna anterior foi sobre a poesia, a magia que inspira, a paixão que impulsiona. Aqui, veremos a realidade dos fatos sobre a colheita 2021.
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Em agosto, as Nações Unidas declararam código vermelho para a humanidade em relação à situação climática atual e do futuro. Nível emergencial. E a solução é difícil, visto que um terço das emissões são pela agricultura, incluso o uso de pesticidas.
Fumegantes são 300 vezes mais destruidores do que dióxido de carbônio. É uma insanidade colocar isso na comida e no planeta, praticamente um tiro no pé. E, para aqueles que desconhecem a informação de que sem o planeta não importa quanto se lucre, #ficaadica: todos perdem.
O segmento do vinho no mundo, sozinho, gera US$ 434,6 bilhões. Milhões de negócios, indivíduos, regiões inteiras dependem desse cultivo para sua sobrevivência e o cultivo das vitiviníferas são dos mais delicados no setor. Claro que a esperança é a ultima que morre!
Se existe algo que é fato, é que com a dificuldade desenvolvemos capacidades antes inimagináveis. A acomodação é realmente desfavorável ao crescimento, seja ele econômico, físico, espiritual. Isso porque, depois de 2020 com a pandemia, as vinícolas já estavam mais preparadas, mais equipadas. É isso que se relata na Argentina, que teve uma temporada mais fria que o normal, com perda de 25% da produção na região leste de Mendoza. Ao mesmo tempo, com esta situação, os vinhos serão mais frescos e com mais acidez, especialmente para brancos e espumantes. Para os tintos também, pois acontece uma maturação fenólica mais elegante, com menos álcool, e um bom equilíbrio entre açúcar e acidez. Todos já estavam a postos depois do perrengue.
Em Bordeaux, entre 2012 e 2019, foram reduzidas as emissões de carbono em 24% ao usar apenas transporte local e reduzindo químicos nos vinhedos. Agradecemos a Bordeaux, que está encarando uma safra não muito boa por pouco sol no verão e muita chuva. A colheita está quase, mas, com as chuvas do fim de semana existe um grande risco de botrytis (aquele fungo que só é maravilhoso pra fazer vinho doce, afinal há sempre beleza). Os últimos três anos foram excepcionais, mas essa safra vai seguir mais na linha do 2012, 2014 e 2017.
Europa, ui. Em Champanhe, por volta de 70% da colheita foi perdida. Parece que 2021 está sendo o pior ano da história. E o que adianta dar asas para a cobra se ela não pode voar? O Comitê de Champanhe estipulou uma colheita bem maior (eles estipulam tudo, se sua vinha morrer não toque nela, ligue pra eles, se não recebe multa) que o habitual por causa da pandemia em 2020. Não vai ajudar nada pois, não tem o que colher!!
Toda a França está sofrendo e, mesmo sendo uma potência de US$ 17,5 bilhões, uma das maiores em termos de exportação, e com a liberação do imposto maluco de Trump nos Estados Unidos, sentiu-se que a luz estava chegando, mas ela veio forte demais com um sol e uma onda de calor fora do normal. Seguiu com uma geada surreal no Loire, Provença, Borgonha e Rhône e depois chuva demais em Champanhe e Borgonha. Pra fechar, fogo selvagem no sul da França. Comprem tudo o que puderem pois, sabe-se lá o que vai ser da viticultura nessas circunstâncias e imaginem o valor que os vinhos alcançarão com a escassez no futuro?
Na Alemanha, o wein (vinho, em alemão) foi quase dizimado na região do vale do rio Ahr, conhecida pelos seus tintos, por causa de alagamento. Sem escolas, eletricidade e aquecimento a gás, as pessoas estão se questionando sobre a impossibilidade de um inverno sem aquecimento interno. Muitos moradores migraram, mas, os donos de vinícolas não têm essa opção, segundo o Instituto do Vinho Alemão.
Na Itália, ninguém está celebrando ser o maior produtor mundial, em volume. Geadas e incêndios foram os grandes vilões. Se você é fã de Brunello di Montalcino ou Valpolicella Amarone, dos arredores de Verona, ahh Romeu e Julieta, melhor se antecipar, pois a caça a estes vinhos será desleal.
Mas chega de desgraça também afinal, há sempre, sempre beleza. Austrália, Califórnia, Espanha, África do Sul, são alguns, entre outros, que não são citados em estudos, salvos e prometendo!
No final, é sempre um balanço entre desgraça e beleza. Altos e baixos, verde e vermelho (falando de Bolsa de Valores), amor e ódio e, que tédio a mediocridade! Vinho médio é chato, melhor um bom ou ruim (que já eliminamos logo).
Apesar das brincadeiras (afinal, quem disse que era pra deixar de ser criança quando crescêssemos?), o ideal mesmo é que se compreenda as consequências de cada palavra dita, de cada planta plantada e de cada ato que desencadeie um resultado. Que cada atitude seja colhida com frutos positivos!
Só para reforçar: pare, respire, pense, aja e seja responsável pelas suas atitudes em toda a magnitude que elas tenham.
Tchin tchin
Carolina Schoof Centola é fundadora da TriWine Investimentos e sommelière formada pela ABS, especializada na região de Champagne. Em Milão, foi a primeira mulher a participar do primeiro grupo de PRs do Armani Privé.
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.
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