O assunto do momento no mercado pecuário continua sendo a China e a suspensão das exportações de carne bovina brasileira para aquele país por conta do caso não transmissível de EEB (encefalopatia espongiforme bovina), mais conhecida como mal da vaca louca.
Tivemos um caso que chamamos de atípico, que é aquele que aparece de maneira espontânea, uma degeneração do tecido nervoso em animais de idade. De uma maneira grosseira, podendo ser comparado ao Alzheimer nos humanos. Então, não é transmissível, não representa qualquer risco à saúde humana. Mas, por conta do nosso acordo comercial com a China, a gente precisa identificar esses casos, fazer a prova laboratorial nacionalmente e enviar amostras desse material para um laboratório internacional produzir uma contraprova. A partir da contraprova, dando negativo, ou seja, dizendo que é a EEB não transmissível (sua versão atípica, portanto), a gente escreve uma explicação, manda para o governo chinês e espera eles darem o ok. Enquanto isso, ficam suspensas as exportações de carne para lá e, assim que eles derem o ok, retoma-se as exportações.
O caso já foi dado pela OIE (Organização Mundial da Saúde Animal) como encerrado, isso significa que o Brasil mantém o grau de periculosidade como insignificante para esse tipo de doença domesticamente. Não é o caso do Reino Unido, por exemplo, país no qual o grau de risco é controlado para a doença. Até porque, recentemente, eles identificaram um caso de vaca louca clássica, que acontece através de contaminação e traz risco para a saúde humana — não é o caso do Brasil.
E o que acontece? Por que está demorando para retomar as exportações brasileiras e como isso está impactando no mercado?
Essa é uma dúvida que a gente ainda não consegue responder, está faltando uma peça nesse quebra-cabeça. Não sabemos por que o país não voltou e não recebeu a autorização de exportar para os chineses. Está todo mundo em compasso de espera e todo mundo bastante otimista, afinal de contas não há motivos técnicos para se manter essa suspensão por muito tempo. A gente sabe que a China, daqui a pouco, vai começar a sentir falta da carne brasileira, porque o Brasil é responsável por 28% das importações deles de carne bovina.
O segundo colocado é a Argentina, uma carta fora do baralho, já que limitou o volume de carne exportado por uma política populista do governo local para tentar conter os preços domésticos da carne bovina, que influenciam bastante na inflação que tem pesado naquele mercado. Então, a Argentina não vai conseguir ampliar a sua oferta de carne bovina para a China.
Em terceiro lugar está o Uruguai, que também é um mercado importante, mas hoje é mais caro que o Brasil. Então, o Brasil desponta como líder absoluto e possui influência absoluta em toda a carne bovina que a China importa. Então, fica aí a dúvida para saber o que falta para a gente estar no caminho para voltar às exportações.
A China não tem sido a única pedra no sapato do Brasil, tem outros mercados que suspenderam também. Dentre eles, temos:
Árabia Saudita – suspendeu as compras, mas já retomou as importações no dia 19;
Egito – certificações retomadas, mas embarques ainda não ocorreram;
Indonésia – compras suspensas;
Irã – compras suspensas;
Filipinas – compras suspensas;
Rússia – suspensas para os frigoríficos e abatedouros de Minas Gerais e de Mato Grosso, que são os estados em que foram identificados os dois casos não transmissíveis de EEB.
Então, há um impasse. Temos um monte de contêineres parados nos portos, consumindo energia para manter o frio, sem poder embarcar, sem poder ter o certificado [de embarque]. Isso reduziu o apetite dos frigoríficos no mercado doméstico e fez o preço do boi gordo cair. Mas a gente imagina que esses negócios devam ser retomados nos próximos dias, porque não há mais motivo técnico algum para se manter essa suspensão — a não ser que a China queira negociar a carne bovina e abaixar um pouco o preço nos primeiros embarques, o que é comum entre países que negociam. Vamos ver quem é que vai ganhar e quando isso vai voltar.
Lygia Pimentel, CEO da AgriFatto, é médica veterinária, economista e consultora para o mercado de commodities. Desde 2007 atua no setor do agronegócio ocupando cargos como analista de mercado na Scot Consultoria, gerente de operação de commodities na XP Investimentos e chefe de análise de mercado de gado de corte na INTL FCStone.
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