Quando mudamos uma aparentemente inofensiva premissa em nossa forma de pensar ou em valores sobre os quais sempre estivemos fundamentados, uma reação em cadeia começa a acontecer de forma invisível, alterando, para melhor ou para pior, nossos resultados e a percepção do mundo a nosso respeito. É o chamado efeito borboleta.
Para um líder, esse desvio é percebido pelos seus liderados inicialmente de forma inconsciente, afetando lentamente sua credibilidade, seu prestígio e o respeito que inspira dentro de seu ecossistema. Nessa fase, ninguém sabe explicar o que exatamente está acontecendo, mas já se percebe que o sentimento não é mais o mesmo, e o que antes fazia todo sentido do mundo passa a dar lugar a insistentes questionamentos.
LEIA MAIS: Mario Garnero: O lugar do Brasil no mundo
Até que chegará um momento em que aquele pequeno e inocente desvio virá à tona em forma de uma enorme discrepância. A essa altura, muitos – desta vez de forma consciente e flagrante – não compreenderão como aquele indivíduo tão bem-sucedido e equilibrado no passado pode ter derrapado na curva, tornando-se irrelevante, bem como todos os seus resultados mais recentes. O que a maioria não sabe é que esse processo já havia iniciado tempos atrás, quando, por força da inércia que a todos comanda, tudo parecia correr bem.
A verdade é que o sucesso não ocorre – e não se sustenta – por acaso. As maiores lições, aquelas capazes de nos levar a vitórias extraordinárias, são bastante simples, porém alicerçadas em princípios imutáveis, valores inegociáveis e fundamentos sólidos. Para esse líder hipotético (ao mesmo tempo mais real do se imagina), pior do que perder tais alicerces é vagar pelos meses e anos seguintes sem ser capaz de perceber o que deixou pelo caminho, estacionado em seu novo e medíocre referencial e consumindo o que sobrou da reputação conquistada no passado. Visionário transformado em cego.
A boa notícia é que é possível resgatar as premissas da virtude. Quanto antes resgatar os princípios que abandonou, menores serão os danos das más escolhas. Se, com dignidade, o líder estiver disposto a pagar o preço pela fraqueza moral que o afastou do alvo (do qual jamais deveria ter desviado os olhos), mais rapidamente voltará a colher bons frutos. Mas, se por orgulho ou negação persistir na trajetória errada, em pouco tempo sua jornada desembocará num escuro e triste beco sem saída, onde sofrerá a colisão derradeira.
“Lutar diariamente para que a arrogância que mora dentro de cada um de nós não tome de assalto o lugar da humildade é o que nos torna eternos alunos na escola da vida.”Já vi isso acontecer muitas vezes. A história se repete, movida pelos mesmos motivos, pelas mesmas fraquezas, pelas mesmas presunções – e algumas vezes com os mesmos personagens. Cada vez que vejo gigantes se apequenando, aproveito para ficar ainda mais prudente, para reforçar os princípios que me trouxeram até aqui. Isso vale mais que minha experiência, mais que o know-how que adquiri nesses tantos anos de jornada, mais até que o patrimônio que conquistei. Lutar diariamente para que a arrogância que mora dentro de cada um de nós não tome de assalto o lugar da humildade é o que nos torna eternos alunos na escola da vida. Esse é o único caminho para a perpetuidade de nossas conquistas.
Flávio Augusto da Silva é Presidente da Wiser Educação
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Siga Forbes Money no Telegram e tenha acesso a notícias do mercado financeiro em primeira mão
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.