Na manhã ensolarada do domingo de 11 de julho deste ano, o bilionário Richard Branson, fundador do Grupo Virgin, decolou do Novo México, nos Estados Unidos, a bordo do foguete VSS Unity. O bólido foi construído por sua própria empresa de astroturismo, a Virgin Galactic, para um breve voo espacial. Conforme o farto noticiário, o lançamento ocorreu às 12h25 (horário de Brasília) e o pouso, às 12h41.
A viagem contou com dois pilotos, quatro especialistas da missão e Branson como um dos passageiros. O breve voo suborbital terminou onde começou: na pista do Spaceport America, o primeiro aeroporto espacial projetado para fins comerciais, construído em 2011 pelo empresário.
Foram 16 minutos suficientes para colocar Branson à frente dos também bilionários Jeff Bezos e Elon Musk, envolvidos em uma disputa espacial digna de um grande conto épico.
O marco é simbólico.
Mais do que entediados com os limites de nosso pequeno mundo, essa ambição espacial demonstra que eles querem deixar seus nomes registrados na história – mais uma vez, claro.
Bezos comanda a Blue Origin; Musk, a SpaceX — empresas envolvidas no desenvolvimento de componentes espaciais. Um acusa o outro de imitador. A rivalidade entre esses dois titãs da tecnologia já se arrasta por 15 anos. Além de uma disputa por um contrato bilionário com a Nasa, vencido por Musk, há uma contenda contínua entre eles por patentes e talentos.
Não faço todo esse preâmbulo, porém, com um sentimento de inveja. Estou entre a admiração e a curiosidade para saber aonde isso irá levar. Esses megaempreendedores colocaram toda a sua inteligência, energia e parte de suas imensas fortunas em projetos que, sem dúvida, vão abrir uma nova fronteira para a humanidade.
Bezos, por exemplo, disse ao “Miami Herald”, em 1982, depois de se formar no colégio como orador da turma, que queria criar colônias no espaço sideral para milhões de pessoas. Talvez exista aí um subjetivo interesse desses bilionários em deixar a Terra. Mas o fato é que viajar ao espaço está no inconsciente de muitas pessoas desde que o homem pisou pela primeira vez na Lua.
Como disse Marcia Smith, do “SpacePolicyOnline”, há um interesse deles em “fazer um backup para a Terra e fazer da humanidade uma espécie em vários planetas”.
A disputa deve impulsionar a fortuna desses empreendedores a níveis ainda mais estratosféricos, com o potencial dessas empresas em enviar satélites para clientes em órbita e criar sistemas de telecomunicações. Mas eles não estão apenas com a cabeça na Lua, longe disso.
Independentemente de quão relevantes serão os próximos voos promovidos pelas empresas de Bezos, Musk e Branson, e de reforçar o quanto eles “confiam na tecnologia”, o fato é que esses bilionários encontraram uma forma muito específica de gastar suas fortunas. Eles estão abrindo uma nova era das viagens espaciais humanas, distante do financiamento e da tutela das agências governamentais — ainda que engalfinhados em concorrências públicas.
Além de mudar nossa visão de viajante espacial, esse pioneirismo deve ser anotado como uma nova página do empreendedorismo, que, não tenho dúvida, deve moldar a trajetória do século 21 — da mesma forma que a primeira geração de empreendedores do petróleo, do aço, das ferrovias definiu o desenvolvimento do mundo, há algumas dezenas de anos. Não me espanta assim se, num futuro próximo, em uma galáxia distante, aparecerem os nomes de Bezos, Musk e Branson ao lado de ícones como Neil Armstrong (1930-2012) e Yuri Gagarin (1934-1968).
Porque, acredite, além de não gostar de perder, esse big three de bilionários possui egos exosféricos.
Nelson Wilians é CEO da Nelson Wilians Advogados.
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.
Artigo publicado na edição 89, lançada em agosto de 2021.
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