Pouca gente sabe que cooperativas são empresas baseadas em princípios e valores estabelecidos por uma doutrina universal, e que podem operar em qualquer segmento de atividade socioeconômica ou cultural, competindo no mercado com as demais empresas. A grande diferença está no fato de que a cooperativa não busca lucro, mas, sim, prestar serviços aos seus associados para que estes tenham lucro. O próprio conceito doutrinário diz isso claramente: “cooperativismo é a doutrina que visa corrigir o social através do econômico”.
A doutrina tem já quase três séculos de idade, mas as cooperativas como empresas de verdade só surgiram para valer na Europa como reação à exclusão social determinada pela Revolução Industrial, em meados do século 19. Costureiras, tecelões, alfaiates, sapateiros, pequenos fabricantes de utiltários domésticos, doceiras, artesãos e tantos outros profissionais que perderam espaço, começaram a se organizar em cooperativas e o movimento se expandiu velozmente. Hoje, está presente em todos os países do mundo – a ACI (Aliança Cooperativa Internacional) estima em 1,2 bilhão o número de cooperados. Se cada um deles tiver três dependentes, estarão ligados diretamente ao cooperativismo cerca de 4,8 bilhões de pessoas, mais da metade da população da Terra. As cooperativas crescem muito durante crises. Foi assim nos primórdios do movimento, foi assim com a globalização da economia e está sendo assim com a pandemia.
Na agropecuária, há um outro fenômeno: com a globalização, as margens por unidade produzida são cada vez menores, de modo que a renda rural só se realiza na escala. Ora, o pequeno produtor não tem escala por definição, mas pode alcançá-la na cooperativa, juntando sua produção com as de seus colegas de trabalho. E assim a cooperativa terá também escala e disputará mercados em igualdade de condição com as grandes empresas capitalistas.
No Brasil, o movimento vem crescendo muito. O anuário 2021 da OCB (Organização das Cooperativas do Brasil), publicado em julho, mostra números significativos: já são 4.868 cooperativas, com 17.237.280 associados e 455.095 funcionários. Seus ativos somaram R$ 655,5 bilhões no ano passado, com patrimônio líquido de R$ 145,7 bilhões e R$ 55,3 bilhões de capital social.
As agropecuárias são as mais fortes, embora as de crédito venham crescendo espetacularmente, com a supervisão e fiscalização do Banco Central. O faturamento das agropecuárias em 2020 chegou a R$ 239 bilhões. Elas originam 54% do valor da produção rural do país. Respondem por 75% da produção de trigo, 52% de soja, 55% de café, 45% do leite, 53% do milho, 43% de aves e 50% de suínos. Em 2020, só 129 coops exportaram produtos para 152 mercados e foram responsáveis por 6,2% do valor exportado.
As 775 cooperativas de crédito registradas no Bacen tinham no ano passado 11.966.563 cooperados, mas crescem todos os dias, sobretudo onde os bancos comerciais não têm interesse. Foram responsáveis por 38% dos contratos de custeio da safra passada, com o ticket médio de R$ 102 mil por operação, contra R$ 905 mil dos bancos privados. É o atendimento ao pequeno.
Em suma, temos já um movimento relevante para a economia do país. As cooperativas têm em seu DNA o moderno conceito de ESG. E, sendo inclusivas, representam um importante aliado de governos democráticos na manutenção da paz.
Roberto Rodrigues é é coordenador do Centro de Agronegócios da FGV
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.
Coluna publicada na edição 89, lançada em agosto de 2021
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