A Medicina sempre teve na transmissão do conhecimento um dos seus pilares fundamentais. Hipócrates, o pai da Medicina, ensinava aos seus discípulos na ilha de Cós, na Grécia, e em seu juramento, que os médicos fazem até hoje ao se formar, ele recomenda o ensino da arte médica aos colegas mais jovens.
Por muitos anos o ensino foi feito desta maneira, passado pelo mestre diretamente ao discípulo. Atualmente o conhecimento está democratizado pela internet, mas nada substitui o contato pessoal, e os congressos médicos, onde profissionais de vários locais e com diferentes níveis de experiência vão para compartilhar informações, são o local ideal para o aprendizado e aprimoramento.
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Desde o início da pandemia, em 2020, todos os congressos foram cancelados e muitos transformados em eventos online, com suas vantagens econômicas, evitando gastos com deslocamento, e a comodidade de assisti-los de qualquer local. Porém, com a evolução da vacinação em todo o mundo e um melhor controle da doença, os eventos presenciais retornaram e vou comentar neste artigo algumas das novidades do Congresso Mundial de Transplante Capilar que ocorreu em Lisboa, Portugal, no final de outubro.
Do ponto de vista prático, o que pude observar foi um desenvolvimento maior de materiais cirúrgicos para procedimentos menos invasivos, evitando cortes e diminuindo cicatrizes, principalmente pelo uso da técnica FUE (Follicular Unit Extraction), onde as unidades de cabelo são extraídas uma a uma do couro cabeludo. Tanto as apresentações científicas como os estandes dos representantes de material médico focaram mais na apresentação de novos materiais, mais delicados e eficazes para a cirurgia. Sempre observamos todas as novidades, mas apenas algumas se comprovam realmente eficazes no teste do tempo.
Outro ponto que me chamou atenção foi o aumento do número de apresentações sobre transplante de barba. Os homens têm cada vez mais aderido ao uso da barba e aqueles que têm falhas ou mesmo que não têm barba podem recorrer ao transplante capilar para sanar este problema. Esta foi uma das cirurgias que mais cresceu nos últimos anos.
Em pessoas com calvície muito avançada, um dos fatores limitantes do tratamento é não ter área doadora de fios suficiente, em comparação com a necessidade da área calva. Para tentar resolver esse problema, uma promessa é o uso de células tronco no tratamento da calvície, que vem sendo estudado há muitos anos. Porém, assim como ocorre com a clonagem de cabelo, as pesquisas ainda não são conclusivas e eu vejo essa realidade para um futuro mais distante.
Em termos gerais, aprendemos muito mais conversando informalmente com colegas nos intervalos e confraternizações do que mesmo durante as aulas. É nesta conversa informal que expomos a realidade da nossa prática do dia a dia e, muitas vezes, pegamos aquele detalhe que fará diferença na nossa atividade e para nossos pacientes.
Márcio Crisóstomo é cirurgião plástico formado no Instituto Ivo Pitanguy, especialista em Transplante Capilar nos Estados Unidos pelo American Board of Hair Restoration Surgery, com pós-graduação em Surgical Leadership pela Harvard Medical School.
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