Todo mundo tem aquele par de meias velho que adora. Elas às vezes estão esgarçadas e até furadas, mas, ao vesti-las, é como se abraçassem os nossos pés. Outro dia, lendo um artigo no New York Times, fiquei sabendo que alguns pequenos estudos, realizados com um número muito limitado de pessoas, não sendo, por isso, o que chamamos de padrão ouro, têm ligado o uso de meias para dormir – e nem precisam ser as velhas – a uma melhor qualidade do sono.
A primeira reação que tive foi: “Não é possível!”. Fui, então, conversar com um colega especializado em sono. De fato, parece que calçar um par de meias à noite traz justamente alguma dose de conforto, nos ajudando a relaxar e funcionando como uma espécie de convite ao sono. O mesmo conforto que um copo de leite quente ou que roupas de cama cheirosas trazem, para citar dois outros exemplos.
Além disso, observou-se que a meia sobre a pele atua como uma camada de isolamento térmico muito mais eficiente do que o edredom ou o cobertor. Pés quentinhos, a ciência sabe, enviam sinais para a área do cérebro que está envolvida no sono, contribuindo para que consigamos adormecer mais rapidamente e acordemos menos durante a noite.
O mesmo raciocínio vale para mãos aquecidas. Não por acaso, muitas pessoas as colocam sob o corpo ou sob o travesseiro para conseguir pegar no sono.
Passei a sugerir essa dica a meus pacientes. Não é que a maioria deles relatou ter passado a dormir melhor? Evidentemente, calçar umas meias velhas não faz milagre, principalmente para quem tem distúrbios complicados ou graves do sono.
Mas, considerando que passamos um terço de nossas vidas na cama, é importante tentar criar, em nossos quartos e cama, uma atmosfera que seja relaxante e que nos convide a dormir. Criar esse ambiente gostoso é o que nós, médicos, chamamos de higiene do sono. Nada mais é do que um conjunto de hábitos que ajudam a promover o sono. O uso de meias pode ser um desses hábitos. Considere incluí-las na sua higiene do sono.
Parece óbvio, mas sempre vale a pena relembrar: quanto mais confortáveis nos sentimos na nossa cama, melhor dormiremos.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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