“Eu acho que as mulheres não têm um papel de protagonismo quando a gente fala de empresa familiar. Então, é algo que eu gostaria muito de inspirar outras mulheres, que é possível, que a gente pode, sim, fazer a diferença naquele negócio da família, no negócio que a gente ama”, diz Fabiana Martins, diretora de marketing e acionista da Rommanel.
Ela é a convidada do décimo episódio do Forbes GX Series, uma série de entrevistas comandadas por Flavia Camanho Camparini, especialista em governança familiar e estratégia de desenvolvimento humano, fundadora do Flux Institute e professora convidada dos programas do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), FBN (Family Business Network) e FIESC (Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina). A série tem apoio da PwC.
Confira a entrevista:
Flavia Camanho: Fabi, quem é você e o que você faz no mundo?
Fabiana Martins: Flavia, obrigada pelo convite. Sou Fabiana, executiva, diretora de marketing, segunda geração da Rommanel, uma empresa de 35 anos que fabrica joias folheadas e também trabalha com venda direta pelo Brasil todo.
FC: Fabi, quando caiu a ficha de que você era membro de uma família empresária?
FM: Demorou um pouquinho para cair essa ficha por mais que eu estivesse desde pequenininha convivendo com o negócio do meu pai. Meu pai era um dos sócios da Rommanel, ele é fundador, mas a empresa não se constituiu como uma empresa familiar. Ao longo do tempo mudou a constituição societária. Nessa mudança de constituição societária também teve que mudar o contexto. Hoje nos consideramos uma família empresária, mas essa maturidade demorou um pouquinho para chegar. Então eu acredito que, apesar de eu estar na empresa desde 2002, me caiu essa ficha lá para 2014, que foi quando a gente começou a estruturar, de fato, a governança e entender que aquele era um negócio que seria passado para os filhos. Então o meu processo foi um pouco diferente. Eu ainda estou nessa construção. Eu faço parte dessa construção e dessa organização.
FC: Como você encontrou o seu lugar no mundo?
FM: Essa pergunta do lugar do mundo, ainda mais quando você faz parte de uma família empresária, é um pouco complexa. Hoje eu estou muito bem, eu me sinto confortável no lugar onde eu estou, me assumo como segunda geração, como herdeira, como sucessora, mas demorou um pouco para eu chegar nesse lugar e ter esse conforto. Primeiro porque, quando eu entrei na empresa, entrei como uma estagiária. A todo momento, como não era uma empresa familiar, meu pai sempre fez muita questão de ter um distanciamento. Nós éramos funcionários, (tínhamos) horário como funcionário. Ou seja, como deveria ser mesmo, sempre muito profissional.
Eu tive a oportunidade de me encontrar na Rommanel. Eu saí de uma faculdade financeira. Eu fiz Insper e achava que ia trabalhar em banco. Minha mãe me via com terninho. De repente, quando eu fui trabalhar na empresa, eu me apaixonei. Eu tinha 20 anos. Fiquei muito apaixonada pelo negócio. Eu já gostava muito de moda. Na empresa, comecei a procurar cursos e pós-graduação que fossem totalmente fora daquilo que eu tinha me formado, que era administração. Fui fazer pós em moda, fui fazer curso de consultoria de moda, que me ajudaram a me encontrar.
Eu tenho um senso muito bacana desse lance da mulher. Eu tenho três filhos. É muito difícil conciliar uma vida de executiva com três filhos. Quanto mais eu ia tendo filhos, digamos assim, mais eu entendia que o meu papel era um papel de executiva também. Como que isso vai ser possível? Estou numa empresa familiar. A gente tem uma régua quando você faz parte da família muito acima do que uma régua de um profissional de mercado, e tem que ser assim. Hoje eu entendo que tem que ser assim.
Quando eu fui tendo os meus filhos, eu falava assim: meu Deus, eu vou conseguir esse desafio? As coisas foram acontecendo e eu percebi que, para eu ser uma boa mãe, era muito importante estar na empresa.
Agora eu tenho muito essa consciência de que eu preciso construir essa perenidade para os meus filhos. Porque além de eu estar lá fazendo o que eu amo, o que eu adoro, eu estou inspirando milhares de mulheres pelo Brasil, porque eu também me apaixonei pela empresa, pelo propósito que a empresa tem. Não é uma empresa que só visa lucro. Temos consciência de que estamos no Brasil. A gente tem essa coisa feminina de ajudar as mulheres a construírem o seu negócio.
Eu também aprendi a conhecer o Brasil. Eu saí muito dessa coisa do eixo Rio-São Paulo por conta da empresa. Hoje a gente enxerga todas as regiões. Agradeço muito aos nossos parceiros, que a gente tem parceiros pelo Brasil todo, por me dar essa experiência também. Esse lugar, apesar de estar sendo construído, eu me sinto muito confortável nele. São muitos papéis, mas eu também acho que eu ainda sou nova e tenho muito para construir ainda.
FC: Fabi, qual conselho você daria para membros de família empresária?
FM: O conselho que eu daria é: conheça o propósito da empresa, conheça o seu propósito. O que eu posso dizer é que o trabalho que nós fizemos como família empresária, de identificar os valores e aquilo que nos une como membros da família, é muito importante. Hoje eu me sinto muito feliz e realizada porque eu sempre valorizei muito o trabalho do meu pai e do meu tio, o que eles construíram. Eu sempre tive muito orgulho disso, mas antes eu não entendia bem o porquê. Quando você formaliza, quando você faz um trabalho que você entende. Olha, eles fizeram isso, essa é a origem. Isso faz parte do DNA. Isso eu preciso manter para ter essa perenidade do negócio. Isso é fundamental. É um trabalho que todos os membros de famílias empresárias deveriam fazer. Mergulhar primeiro na história. Tem uma frase que eu gosto muito que é assim: vamos construir o futuro, mas sempre com uma perspectiva de passado.
FC: Fabi, como você está escrevendo o seu legado?
FM: O meu legado, Flavia, está sendo construído muito em cima dessa questão de inspirar as mulheres num protagonismo também nessa questão da empresa familiar. Eu acho que a gente escuta muito falar, o Brasil já está se profissionalizando bastante, mas a gente não vê muitas mulheres ou executivas ou mulheres que estão à frente mesmo nesse processo. Eu acredito que eu tenho, sim, um papel muito importante, de mostrar que é possível, que a mulher dentro da família empresária pode, sim, ter um papel no negócio, porque, muitas vezes, isso também é difícil. Além, claro, desse outro legado do crescimento da empresa, de eu querer deixar pavimentada essa estrada que a terceira, quarta, quinta e a sexta geração vão trilhar.