“O Brasil é o país do futuro”. Quantas vezes não ouvimos essa frase ao longo das últimas décadas? A impressão que temos em alguns momentos é que esse futuro nunca chegará.
O jovem brasileiro também parece incomodado com essa espera interminável. O “Atlas das Juventudes”, divulgado no meio do ano, por exemplo, trouxe números pouco animadores. Afetada pelo desemprego e pela crise econômica, quase a metade (47%) da população entre 15 e 29 anos deixaria o país, se pudesse. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), essa faixa etária corresponde a 23% da população brasileira, somando mais de 47 milhões de pessoas.
Outro dado preocupante veio do último Enem. Dos 3,1 milhões de inscritos na edição de 2021, cerca de 2,1 milhões compareceram aos dois dias de provas. É o menor número de participantes desde que o exame foi reformulado, em 2009. Sem educação, não há o tão esperado “futuro” citado no começo desse texto.
Essa tendência precisa ser alterada. A recuperação econômica e as mudanças significativas que irão possibilitar a melhora do país passam pela força e pelo engajamento da chamada geração Under 30. O pessoal nascido quando a internet e a computação já eram realidade tem como características a criatividade, o empreendedorismo, a capacidade de adaptação. Esta edição a Forbes traz alguns destaques jovens que devem e precisam servir de inspiração. Na história, são vários exemplos.
No Brasil, destaco a trajetória de Eduardo Lyra, que apareceu por aqui como um dos jovens mais influentes abaixo dos 30 anos em 2014. Nascido em uma favela em Guarulhos, criou o Instituto Gerando Falcões, cujo objetivo é incentivar os jovens da periferia a lutar por um destino melhor e mudar sua realidade. Hoje, já são mais de 1.500 favelas impactadas por seus projetos, com mais de 200 mil pessoas beneficiadas.
No exterior, lembro a paquistanesa Malala Yousafzai, baleada na cabeça por talibãs ao sair da escola em outubro de 2012, quando tinha só 15 anos. O atentado ocorreu por sua defesa do estudo para as mulheres do país. Já em 2014, com apenas 17 anos, tornou-se a pessoa mais jovem a ganhar o Prêmio Nobel da Paz.
Momentos pesarosos, conturbados, também podem abrir caminho para transformações, como uma janela de oportunidades. É preciso ter resiliência, incentivar, empreender.
Recentemente estive em Brasília, onde participei do seminário “Os Desafios de Empreender e Gerar Empregos”, realizado pelo Instituto Unidos Brasil. O encontro reuniu diversas autoridades, empresários, parlamentares e membros da sociedade civil para debater as questões que impedem o avanço do país na geração de novas vagas de trabalho e no desenvolvimento de uma cultura empreendedora.
Precisamos acabar com os obstáculos burocráticos e criar um ambiente de negócios seguro, preservando e incentivando a abertura de empresas. Obviamente, o governo tem grande responsabilidade nesse processo. Mas tomar a iniciativa é necessário. Como lembrei nos exemplos citados, com ideais e desejo de transformação, é possível avançarmos, mesmo nas condições mais adversas.
O futuro tão esperado, enfim, pode começar agora.
Nelson Wilians é CEO da Nelson Wilians Advogados
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Artigo publicado na edição 93 da revista Forbes, publicada em dezembro de 2021