O mercado em 2022 promete continuar no ritmo de montanha russa de parque de diversões, com muita instabilidade e corre corre no mar. Por isso, eu decidi listar os 3 principais fatores de influência sobre os preços agropecuários para 2022.
O primeiro deles é dólar e taxa de juros, o dólar vai ajudar a precificar o boi internamente e também vai ditar uma boa parte do apetite pelas exportações. A moeda perdeu força e, de fato, considerando o PIB per capita do Brasil, nós vemos um enorme desafio em manter o real alto nessa projeção. Principalmente, quando olhamos o cenário de juros reais que estão em um patamar que não é nada desprezível. Entretanto, o justo não necessariamente representa a realidade dos fatos, especialmente quando a gente fala de uma das coisas mais difíceis de se analisar que são as moedas.
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Então, tem muita volatilidade ainda por vir, especialmente em ano de eleição e dentro de um cenário de extrema insegurança jurídica no Brasil, como a que temos no momento. Atualmente, a gente vive um verdadeiro manicômio jurídico e qualquer complicação que nós tivermos será muito bem precificada sob a moeda norte-americana, já que o mundo é passivo em dólar; todo mundo corre para lá quando tem alguma dificuldade econômica principalmente.
Segundo ponto, o clima. Ele será um ponto de grande influência sobre os preços já que afeta diretamente e de maneira muito incisiva a produção de alimentos. No ano passado, por exemplo, a estiagem e as geadas recorrentes causaram morte de pastagens em importantes regiões produtoras. O efeito dessas adversidades é sentido até hoje sobre a oferta de animais terminados. Já que a gente tem um número reduzido de abate de bovinos hoje. Aliás, a Agrifatto estima que os abates de janeiro de 2022 registraram uma queda de 10% a 12% em relação à dezembro de 2021, tendo como uma das suas principais causas a adversidade climática registrada no ano passado combinada ao ciclo pecuário.
Isso é resultado da influência do La Niña que para quem não conhece é definido como um evento oceano-atmosférico que ocorre quando as águas superficiais da região da linha equatorial do oceano pacífico sofrem um resfriamento anormal. Essa alteração afeta as chuvas e as temperaturas ao redor do mundo todo, com algumas especificidades por região. Em 2022, continuaremos com os efeitos de La Niña que continua até outono, entre abril e maio. Com isso, as chuvas do sul e do Mato Grosso do Sul voltam a ficar irregulares e abaixo da média histórica a partir de fevereiro e março, o que mantém as coisas bastante complicadas nessas regiões. Ou seja, há expectativa de nova estiagem. Então, vocês vem aí que não tem sossego para o produtor rural. Em abril, essa irregularidade avança para todas as regiões produtoras de milho de segunda safra, exceto norte e nordeste.
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E como terceiro ponto de atenção, temos a inflação, que voltou a ser uma enorme pedra no sapato para o aumento do consumo, já que exerce um efeito extremamente corrosivo sobre o poder de compra do brasileiro. Quem mais sofre com isso, são as classes mais baixas já que elas têm dificuldade em proteger o seu capital contra os efeitos nefastos do aumento generalizado de preços. No caso da carne bovina, por exemplo, historicamente o consumo dela é afetado pela inflação de uma maneira muito intensa.
Para você ter uma ideia, para cada aumento de renda de 10%, o brasileiro tende a crescer em 5% o consumo de carne bovina. Mas o contrário também é verdadeiro, para cada queda de 10% de renda , a gente tem uma queda no consumo de mais ou menos 5%. A isso chamamos de elasticidade de renda da demanda, que também pode ser influenciada pelo nível da taxa de desemprego que está diretamente relacionada à renda básica do cidadão.
A sinalização de melhor comportamento do dólar deverá se apresentar como fator importante de comportamento da inflação, mas a taxa de desemprego nas máximas históricas ainda se traduz na dificuldade de imprimir um consumo per capita mais alto para o brasileiro. Só para lembrar, esse consumo está na mínima dos últimos 25 anos, devido a uma combinação de crise econômica e fase de alta do ciclo pecuário. Esse ciclo pecuário é um processo natural e inerente à produção pecuária, que se caracteriza por uma disponibilidade menor de animais para o abate. A única solução para o ciclo pecuário é deixá-lo se desenvolver livremente, sem interferências governamentais como muita gente sugere. Nós sabemos que a interferência do governo na produção de alimentos para corrigir preços não costuma ser algo positivo no longo prazo para a produção e acaba causando o efeito inverso. Por fim, esses são os principais pontos de atenção ao agronegócio em 2022.
Lygia Pimentel é médica veterinária, economista e consultora para o mercado de commodities. Atualmente é CEO da AgriFatto. Desde 2007 atua no setor do agronegócio ocupando cargos como analista de mercado na Scot Consultoria, gerente de operação de commodities na XP Investimentos e chefe de análise de mercado de gado de corte na INTL FCStone.
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