A raiva é uma emoção que não é bem-vista, não é tida como “superior”, porque, quando sai do controle, pode ser altamente destrutiva, para o raivoso e para quem vive ao redor dele. Ela pode ser tão maléfica que há cursos cujo objetivo é aprender a mantê-la sob controle. Embora a raiva tenha essa fama, é importante dizer que não existem sentimentos positivos nem negativos. Todos nós experimentamos uma gama de emoções diferentes ao longo do dia, o que dirá ao longo da vida.
Quando a internet cai no meio de uma reunião importante, é normal ficar colérico. A ira se torna problemática quando é uma emoção que consome a sua vida. Ela não é saudável quando é algo que você sente o tempo todo ou a maior parte do tempo, ou quando é sua primeira reação a algum inconveniente que você enfrenta. O mesmo se pode dizer de outras emoções.
O interessante da raiva é que, quando se aprende a manejá-la, pode trazer benefícios. O primeiro deles é bastante conhecido: a melhora de desempenho esportivo. Quem se lembra do piloto Ayrton Senna que, quando tinha um problema com o carro, canalizava toda a raiva em motivação para vencer a prova? Alguns estudos puderam comprovar isso na prática. Cito um bem interessante. Pesquisadores analisaram a performance de jogadores de basquete (se eles acertavam ou erravam mais os lances livres) depois de sofrerem uma falta no ato de arremessar em direção à cesta e verificaram que o número de bolas acertadas era significativamente maior.
LEIA TAMBÉM: Ser feliz é uma meta realista?
Outro trabalho mostrou que a raiva também estimula a criatividade, mais do que a tristeza e estados de humor neutro. Mas vale uma ressalva: pessoas irritadas usam aquela energia para facilitar a produção criativa, mas isso as deixa cansadas mais rapidamente. É como se a chama da criatividade apagasse rápido demais. A raiva, quando bem dosada e bem manejada, é uma grande força motivadora. No ambiente de trabalho, pode contribuir para o batimento de metas, finalização de projetos, entre outras coisas. Mas, evidentemente, é importante analisar o contexto em que ela se manifesta e a forma pela qual ela se manifesta.
Em 2018, pesquisadores americanos publicaram um estudo que mostrava que em reuniões de negociações, raiva de intensidade moderada levava os participantes a fazerem concessões maiores do que nenhuma raiva. Quando a intensidade da ira era alta, as negociações ficavam mais complicadas porque as concessões diminuíam. Ou seja, a palavra-chave aqui é equilíbrio. Deixar que a cólera extravase sem controle – o famoso “botar tudo para fora” –, como eu disse, tem tudo para só trazer malefícios à pessoa tomada por aquela emoção, mas engoli-la também pode ser maléfico, porque ela se volta para a própria pessoa.
A raiva predispõe as pessoas à dor crônica, mas também é um fator agravador do incômodo. Em outras palavras, ela, por si só, pode causar dor, mas para pessoas que convivem com dor crônica, ela pode piorar o padecimento ou fazê-lo durar mais tempo, além de poder levar a alguns quadros de hipertensão. Como manter a ira a rédeas curtas? Respirar lenta e profundamente é das práticas que comprovadamente tem o efeito de relaxar e acalmar. Praticar atividade física também. Naquele momento em que a cabeça parece ferver, tome uns minutos para pensar, antes de falar qualquer coisa e antes que se arrependa depois. E fuja do álcool. Bebidas alcoólicas estão ligadas ao maior aumento da agressividade.
Ver essa foto no Instagram