O boi gordo tem perdido a sua sustentação ao longo das últimas semanas e nós temos sentido uma pressão menor no mercado de carne, sobre as cotações da carne no varejo. Então, estamos em um momento diferente do mercado agora. Ele é uma combinação de fase de baixa do ciclo pecuário tendo início — então não entra ainda aquela derrocada de preços, mas já começamos a sentir preços bem menos firmes — e também entra um momento muito particular do mercado pecuário que é a safra de capim e a safra de boi gordo.
Se pararmos para pensar no regime de chuvas do Brasil, especialmente da região central, que é onde se localiza a pecuária de corte. Como que ele funciona? Nós temos a partir de agora, de abril até maio, teremos um período de menor pluviosidade, luminosidade e temperaturas mais baixas. E o que o capim precisa para crescer? Exatamente do contrário. Ele precisa de calor, luminosidade e muita água. Então agora entramos em um momento em que a pastagem começa a ficar prejudicada de uma maneira muito rápida e intensa. E daqui para a frente os animais não conseguem mais engordar.
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O que veio daqui para trás? O que a gente observou foi o regime de chuvas. Depois dessa época seca ao longo do ano — esqueçam do ano de 2022 e pensem em um perfil de sazonalidade histórica —, a chuva deve voltar a partir de outubro, ficar mais forte em novembro e se estabelecer em dezembro. Então, é a partir de novembro que o gado começa a consumir alguma forragem ou pasto. E daí em diante vai acumulando o peso e ficará pronto para o abate a entre março e junho (a depender da região, qualidade da pastagem, suplementação etc.). O que a gente tem daqui para frente que será necessário entregar e abater esse animal que já está pronto. Ou, se ele não está 100% pronto, ele precisa obrigatoriamente agora de uma suplementação de algo que substitua a pastagem para que ele consiga ser terminado e completar seu ciclo.
Basicamente, o que tem agora, é um aumento da oferta de animais de pasto terminados e, a partir do momento em que os pastos começam a secar, o pecuarista é obrigado ou a suplementar o animal ou entregá-lo para o abate. Ou seja, esse início de seca que vai começar agora em maio começa a forçar os pecuaristas a comercializarem os seus animais que acumularam esse peso ao longo do período chuvoso. Então, isso aumenta a oferta de animais e faz com que a gente veja os preços pararem de subir, ou até mesmo cair.
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Para o pecuarista, agora vai ficando um momento mais perigoso e desagradável, porque, além dos preços estarem caindo, nós temos uma pressão muito alta no custo da diária de confinamento. Logo, quem quiser continuar a engordar o boi daqui para a frente terá um desafio muito grande que é pagar a conta dessa suplementação mais energética.
Então, se a gente fizer uma análise daqui para trás, do começo de 2021 até agora a partir de uma base zero, nós vamos observar que o custo da diária de animais em confinamento nesse sistema de suplementação subiu 59%. Enquanto isso, vamos observar a carne bovina no varejo, que subiu 18% no mesmo período. O boi gordo 17%, a carcaça bovina no atacado subiu 11%, então o varejo continuou imprimindo margem em cima do consumidor. O boi magro, que também, é substrato para gente poder confinar no segundo semestre, subiu 8%. O milho e o bezerro subiram 7% e oo farelo de soja caiu 4%.
Um destaque para esse bezerro que caiu 7%, porque ele é mais um reforço de uma conversa que nós já tivemos nesse espaço falando de ciclo pecuário. O ciclo está virando para a fase de baixa, em que os preços pecuários variam abaixo da inflação, e um sinal desse movimento é o bezerro se valorizando abaixo do boi gordo.
Lygia Pimentel é médica veterinária, economista e consultora para o mercado de commodities. Atualmente é CEO da AgriFatto. Desde 2007 atua no setor do agronegócio ocupando cargos como analista de mercado na Scot Consultoria, gerente de operação de commodities na XP Investimentos e chefe de análise de mercado de gado de corte na INTL FCStone.
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