Na última semana, o Federal Reserve (FED), que é o Banco Central dos Estados Unidos, manteve a taxa de juros dos fundos federais em uma alta de 5,25% a 5,5%, que é a maior taxa dos últimos 22 anos. É importante você entender o que isso significa, pois isso pode ter implicações para investidores do mercado de ações brasileiro.
A exemplo do que acontece por aqui, com nossa Taxa Selic, o FED ajusta as taxas de juros conforme o cenário econômico. Sendo assim, em períodos de desaceleração econômica, as taxas são reduzidas, para estimular o consumo e os investimentos na cadeia produtiva.
Por outro lado, quando a economia está muito aquecida, o aumento das taxas é o mecanismo que o Banco Central utiliza para inibir consumo e controlar a inflação.
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O mercado de ações é diretamente impactado por essas medidas, por razões óbvias: as empresas listadas em bolsa são o motor da economia. Taxas baixas significam dinheiro barato para empresas e consumidores, impulsionando a demanda por bens e serviços. Isso aumenta os lucros das empresas e os preços das ações. Inversamente, com o aumento das taxas, os empréstimos se tornam mais caros, reduzindo o consumo, inibindo os resultados das empresas e, dessa forma, fazendo com que os preços das ações caiam.
Como a taxa de juros norte americana impacta a bolsa brasileira
No caso do Brasil, um aumento nas taxas de juros dos EUA pode levar a uma saída de capital estrangeiro, que tende a preferir a segurança dos títulos do governo norte-americano. Isso pressiona nossa moeda, tornando os ativos brasileiros menos atraentes para os investidores estrangeiros, o que pode resultar na queda do Ibovespa.
O que ocorre é praticamente um efeito em cadeia:
- Aumenta a demanda por dólares: quando investidores estrangeiros se desfazem de suas posições em bolsa brasileira, normalmente os ganhos são convertidos em dólares, pressionando a demanda por esta moeda. E, como você certamente já entendeu, o aumento da demanda, eleva o câmbio;
- Dívidas em dólar mais caras: esse é um efeito imediato da subida do dólar e que impacta o resultado de muitas empresas listadas em nossa bolsa. E, se impacta resultados, obviamente, mexe também com suas cotações no mercado.
- Percepção de preço e valor são alteradas: o mercado financeiro é um organismo vivo, que se movimenta de acordo com expectativas. Sendo assim, quando um grande volume de investidores estrangeiros começa a sair da bolsa brasileira, isso afeta a confiança do mercado e os investidores locais também começam a ficar mais reticentes e a reavaliar suas posiçoes em bolsa;
Os eventos que mencionei acima, combinados com um momento em que o Banco Central brasileiro está fazendo cortes na Taxa Selic, como é caso atualmente, pode tornar os investimentos em bolsa menos atraentes, quando numa comparação risco x retorno com o mercado norte-americano, fazendo com que mais investidores estrangeiros cogitem a saída de seu capital do nosso país, retroalimentando esse efeito cascata.
Risco x Retorno é o que determina para onde o dinheiro se movimenta
É claro que a saída de investidores estrangeiros da bolsa brasileira e a valorização do dólar não são eventos correlacionados de forma linear e estanque. Na verdade, ambos os eventos são influenciados por uma combinação de inúmeros fatores políticos, macroeconômicos, além de outros mais pontuais, e tudo isso pode criar diferentes motivações no comportamento dos investidores como um todo.
O que eu desejo, ao trazer essas informações, é que você tenha em mente que os investidores estrangeiros são responsáveis por mais de 50% da movimentação da bolsa de valores brasileira.
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São corporações multinacionais, em sua maioria com origem em países desenvolvidos, e que monitoram milimetricamente risco x retorno em todos os países onde investem, sejam eles países de economia sólida ou emergentes.
A movimentação do capital dessas empresas, com maior exposição ao risco, ocorre quando economias sólidas não estão oferecendo rentabilidade atrativa e baixo risco, que é exatamente o que ocorre hoje, com a política monetária dos Estados Unidos.
Como o pequeno investidor brasileiro deve investir neste momento
Chego ao ponto do artigo em que decepciono aqueles leitores que vêm em busca de uma receita pronta de investimento, pois essa receita não existe. O que existe é informação de qualidade, que contribui para tornar seu olhar mais afiado para identificar riscos e oportunidades que sempre estão presentes em todos os cenários.
Minha preocupação em explicar com linguagem simples um recorte dos acontecimentos de mercado visa enfatizar alguns pontos que você não pode jamais negligenciar, se deseja ter sucesso financeiro como investidor:
- Investimento em bolsa de valores é para longo prazo;
- Ciclos econômicos se sucedem e se alternam nos mercados e é importante entender a mecânica desse movimento, para fazer planos consistentes;
- Você precisa ter um plano de metas definido, com prazo e expectativas de rentabilidade;
- Seu plano precisa ser reavaliado pelo menos uma vez ao ano – ou quando mudanças estruturais no cenário macroeconômico e geopolítico sinalizar alterações estruturais na forma como o mercado atua;
- Não basta ler o noticiário, é preciso saber interpretar a notícia, para separar o que é circunstancial e com impactos de curta duração do que é relevante e demanda que você reavalie seu planos;
- Os Estados Unidos são a maior economia do mundo e sua política monetária influencia todos os mercados, portanto, acompanhar os acontecimentos econômicos irá ajudar você a se antecipar, além de fazer melhores escolhas de investimentos;
- Ninguém sabe o que irá acontecer, todos nós trabalhamos apenas com referências de cenários passados, projeções e expectativas, por isso é tão importante ter um planejamento de longo prazo.
A taxa de juros dos EUA é uma variável relevante a acompanhar, dado seu potencial para impactar a estabilidade econômica do Brasil, o desempenho do mercado de ações e, obviamente, suas escolhas de alocação.
Você não precisa mudar todos os seus planos em função das notícias econômicas, mas precisa acompanhá-las com atenção, aprendendo a filtrar as mais relevantes e que podem auxiliar suas decisões nos momentos de reavaliação de planos e metas.
Eduardo Mira é formado em telecomunicações, com pós-graduação em pedagogia empresarial e MBA em gestão de investimento. É analista CNPI, certificado CPA10 e CPA20, ex-gerente do Banco do Brasil e da corretora Modal.
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