A taxa Selic é tema recorrente nos sites de economia, especialmente em datas como a quarta-feira (1), quando o Comitê de Política Monetária (Copom), em sua penúltima reunião de 2023, voltou a reduzir os juros. O corte foi de 0,50 ponto percentual, baixando a Selic para 12,25% ao ano. E há a perspectiva de novo corte da mesma magnitude na reunião de dezembro, com a Selic fechando 2023 a 11,75%.
O dia foi muito além da Selic, porém. Tivemos aquilo que o mercado convencionou chamar de super quarta. Além da reunião do Copom foi realizada a reunião do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos. Ambos os indicadores são fundamentais para os rumos da nossa economia.
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Nos Estados Unidos houve a manutenção da taxa de juros, no intervalo de 5,25% a 5,50%. A decisão foi vista de forma positiva pelo mercado. Considerando que a taxa vinha num ciclo de alta, o fato de ter parado de subir já é um grande alento para o mercado global.
Por que a taxa de juros dos EUA é importante para o Brasil
A relevância dos juros americanos é grande no mundo todo. A taxa de juros de longo prazo dos Estados Unidos impacta nos preços e na inflação de forma global. Apesar da postura cautelosa de deixar em aberto a possibilidade de novas altas, o tom da fala de Jerome Powell, presidente do Fed, animou os mercados ao reconhecer a força da economia estadunidense, sinalizando que o Fed deve parar de subir os juros em breve. Isso fez o mercado projetar o início dos cortes para os próximos trimestres.
O comunicado divulgado pelo Federal Open Market Committee (Fomc) apontou que a alta de juros longos parece ser suficiente para desacelerar a economia e baixar a inflação, desde que as taxas permaneçam nos níveis em que estão. Essa postura deve movimentar a economia no mundo inteiro e, principalmente, gerar, a médio e longo prazo, novo fluxo de capital para as bolsas de países emergentes, como é o caso do Brasil.
Como fica o cenário econômico pós super quarta?
De um lado, o tom mais ameno do Fed gerou no mercado uma expectativa para cortes de juros num futuro próximo, o que é altamente positivo para nossa economia. No cenário interno, porém, temos o governo sinalizando um aumento dos gastos e do endividamento, gerando muita incerteza no mercado.
É justamente para esse balanço de riscos que o Copom vai olhar daqui pra frente, a fim de ajustar velas, e manter a política econômica focada em manter a inflação dentro da meta. Certamente por isso, o tom do comunicado do Copom foi de muita cautela, dadas as incertezas no âmbito fiscal.
Por que a Selic não cai mais ainda?
O fato de o Fed pontuar que acredita estar rumando para o fim do ciclo da alta de juros, causou certo alívio ao mercado brasileiro, mas, as condições geopolíticas e macroeconômicas no mundo todo, somadas às incertezas fiscais de nosso país, fazem com que o Copom busque maior parcimônia em suas projeções.
O impacto da queda da Selic sobre a inflação
Nos últimos meses a inflação tem cedido um pouco, contudo, ainda temos pressão inflacionária decorrente do cenário internacional.
Avaliando o IGP-M, que é medido pela Fundação Getúlio Vargas, vemos ainda uma pressão inflacionário significativa para os produtores, ou seja, o custo de aquisição de commodities e bens de produção de forma geral está mais alto, em decorrência da alta das commodities no mercado mundial, além o câmbio, também majorado em função da oferta e procura, dado o fato dos investidores terem migrado fortemente para a segurança e taxas atrativas dos Estados Unidos.
Todo esse contexto pode, em breve, se refletir nos preços ao consumidor e, consequentemente, no IPCA, o que, combinado com a queda recorrente da Selic, pode significar um pouco mais de inflação nos primeiros meses de 2024.
Onde estão as melhores oportunidades para investir
Investimentos de longo prazo na renda fixa, neste momento, trazem boas oportunidades. O Tesouro IPCA 2045, pagando o IPCA + 6%, por exemplo, ou mesmo o Tesouro IPCA 2035 pagando próximo de 6%, são excelentes opções para a parte de sua carteira destinada à renda fixa.
Nos títulos privados também é possível encontrar títulos atrativos nesse momento, com alguns CDBs pagando até IPCA+7%.
É hora de investir em fundos imobiliários?
Essas mesmas boas oportunidades da renda fixa que mencionei acima, você consegue obter na renda variável, através dos fundos de recebíveis imobiliários, que são justamente os FIIS que investem em renda fixa ligada ao setor imobiliário, como CRIs e LCIs.
Atualmente, os fundos de recebíveis são os que estão pagando o maior yield do IFIX, que é o Índice de Fundos Imobiliários, que funciona como principal indicador do desempenho médio do segmento, dentro da bolsa de valores brasileira.
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Enquanto o IFIX performou, até o fechamento de outubro, com DY em torno de 10,4%, os fundos de recebíveis pagaram no mesmo período uma média de 12,7% ao ano, ou seja, mais de 1% ao mês, isento de imposto de renda, sendo pago por fundos que estão com cotas descontadas, sendo negociados abaixo de seu valor patrimonial, isto é, uma grande oportunidade.
Mas, preciso ressaltar que você deve analisar a carteira dos fundos que for adquirir e entender a qualidade e risco dos papéis que eles possuem em seu portfólio. Existem excelentes fundos e o momento é propício, mas isso não significa que você deva comprar qualquer fundo de recebíveis.
Além disso, como sempre recomendo, seus aportes não podem ter um único critério a rentabilidade ou o preço da cota. É importante manter uma carteira balanceada com percentuais pré-definidos para cada classe de ativo.
Por que fundos de papel atrelados à inflação seguem interessantes?
Muitos investidores me perguntam por que os fundos de papel continuam atrativos num momento em que as projeções são de queda da inflação, e aqui, reforço que não existe uma receita de bolo pronta para cada cenário. Variáveis específicas sempre precisam ser levadas em conta, ao analisar e escolher ativos.
As taxas mais longas subiram devido ao risco fiscal ainda muito presente no Brasil e o debate do governo com o Congresso ainda segue agitado em torno do tema. Ainda que o Relatório Focus tenha baixado um pouco a expectativa de inflação para 2023, a mesma foi majorada para 2024, avançando de 3,87% para 3,90%, tal qual a projeção de preços administrados, cuja estimativa para 2024, subiu de 4,20% para 4,47%.
Vemos aí uma perspectiva de que o IPCA em 2024 seja maior, o que significa que os fundos imobiliários de papel atrelados ao IPCA devem melhorar seus rendimentos.
Oportunidades na bolsa de valores
Ações de setores resilientes tendem a caminhar mais devagar, com alguma valorização, porém, nada muito substancial, pois são ativos que no ciclo de alta da Selic, não caíram tanto, e já vinham apresentando recuperação gradativa ao longo dos últimos meses.
A maior tendência de valorização no médio prazo está entre os ativos de setores que vêm de longo ciclo de penalização, tanto pelo ciclo anterior, de alta da Selic, quanto pela pressão da alta de juros dos Estados Unidos.
Empresas com alto endividamento, bem como varejistas, cujo custo de financiamento de estoques é elevado quando o crédito está caro, devem ter algum respiro. Além da redução no custo de suas dívidas, a volta do consumo das famílias tende a se refletir nos resultados dessas empresas.
Como o mercado antecipa bastante os cenários, é provável que esses setores que estavam sub precificados e sofrendo com o cenário inflacionário comecem, gradativamente, a subir.
É hora de mudar a carteira de investimento?
Minha recomendação segue a mesma de sempre: diversificação e balanceamento de carteira devem ser seus mantras.
Você deve estudar os ciclos e tendências de mercado, mas não pode mudar toda sua estratégia cada vez que o cenário muda. Estudar as tendências é importante para calibrar, fazer o ajuste fino, mas, mantendo-se fiel ao seu plano de longo prazo que, se você me acompanha e fez a lição de casa, não deve estar pautado em cenários momentâneos, mas sim, nas suas metas, respectivos prazos e valores.
Manter uma carteira com diversificação em proporções adequadas aos seus planos é a sua real garantia de manutenção do poder de compra, pois é a única variável que está sob seu controle. Todo o resto são possibilidades e expectativas de analistas cujas projeções precisam ser entregues em tempo real, em cenários repletos de incertezas.
Eduardo Mira é formado em telecomunicações, com pós-graduação em pedagogia empresarial e MBA em gestão de investimento. É analista CNPI, certificado CPA10 e CPA20, ex-gerente do Banco do Brasil e da corretora Modal.
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