O ano de 2024 foi marcado por um cenário econômico complexo, que desafiou as expectativas. Com inflação acima da meta, juros altos e um câmbio historicamente desfavorável, todos nós tivemos que ajustar estratégias e buscar soluções criativas para preservar patrimônio.
Nesse contexto, você conseguiu seguir seu plano e fazer os ajustes necessários? Está entrando no novo ano com uma carteira planejada para lidar com o cenário e aproveitar as melhores oportunidades?
O efeito calendário
Historicamente, a virada de ano sempre traz junto com as projeções um variado número de expectativas.
Vivemos aquele momento que o mercado convencionou chamar de efeito calendário: o otimismo e a euforia do período de festas se misturam aos gestores de fundos multimercado ajustando carteiras em busca de fechar o ano com a melhor performance, investidores individuais reavaliando resultados para tentar identificar erros e acertos, e um grande contingente de pessoas que não seguiram um plano claro de investimentos, ansiosas por entender como virar o jogo no novo ano que se aproxima.
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É um momento importante e que, a meu ver, separa os adultos das crianças.
Quando digo isso, estou pontuando uma diferença comportamental relevante: quem tem um plano claro aproveitou grandes oportunidades para longo prazo e soube proteger sua carteira nos momentos críticos, enquanto aqueles que protelaram a decisão de investir com consciência agora olham pra trás e percebem o quanto poderiam ter feito melhor, em um ano em que os desafios e oportunidades caminharam lado a lado, na mesma ordem de grandeza.
O ano de 2024 não seguiu o script esperado
Apesar de um início promissor, o ano rapidamente revelou desafios importantes, sendo o maior deles a inversão da curva de juros, o que impactou diretamente os fundos multimercado e a rentabilidade dos títulos públicos, sob efeito da marcação a mercado.
A inflação foi um dos grandes temas de 2024. Embora não tenha atingido níveis descontrolados, nos 12 meses até novembro, o IPCA somou 4,87%, ficando acima do teto da meta de 3% estipulada pelo Banco Central (BC), gerando pressão sobre a política monetária.
Apesar disso, a economia brasileira mostrou-se resiliente em alguns aspectos, como na baixa taxa de desemprego e no crescimento do PIB, mas as preocupações fiscais e cambiais ganharam destaque nas inquietações do mercado. Especialistas têm alertado que essa dinâmica de resiliência pode não se manter em 2025, caso a inflação continue pressionando os juros e reduzindo o ímpeto de investimentos privados.
De antemão, sabemos que o Banco Central já contratou a subida da taxa Selic, atualmente em 12,25% ao ano, para as próximas duas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), o que corrobora integralmente a preocupação do mercado quanto à desaceleração da economia.
Câmbio em níveis recordes
Outro destaque de 2024 foi o mau desempenho da moeda brasileira. O câmbio alcançou níveis recordes, com o dólar superando a marca de R$ 6, consolidando um cenário de preocupação para o mercado. Essa desvalorização afetou diretamente a rentabilidade de investimentos atrelados ao real e aumentou o custo de produtos importados, alimentando a inflação.
Apesar disso, empresas exportadoras e setores dolarizados se beneficiaram dessa dinâmica, sendo alguns dos poucos destaques positivos da bolsa de valores em um ano em que ativos de muita qualidade seguiram bastante descontados.
Quem entrou em 2024 com metas claras e uma carteira organizada pôde aproveitar para aumentar posições e potencializar o crescimento patrimonial para os próximos anos, e eu espero que você, que acompanha minhas análises, esteja nesse grupo de investidores.
Uma importante lição que 2024 deixa para o investidor
O tema diversificação é recorrente em meus artigos, pois considero um pilar fundamental da boa alocação de investimentos. Mas, neste ano, mais do que nunca, imagino que tenha feito sentido pra você toda a minha insistência nesse tema.
Esse foi o ano em que o investidor aprendeu na prática por que a diversificação de carteira é tão importante. Enquanto ativos locais, como ações e fundos imobiliários enfrentaram desafios relevantes, carteiras expostas ao mercado externo, especialmente ao S&P 500, tiveram retornos expressivos, graças à valorização do dólar.
A diversificação geográfica e de moedas foi essencial para mitigar perdas, reforçando que alocar parte do portfólio em ativos dolarizados ou internacionais é algo a se considerar em tempos de incerteza.
O que esperar de 2025?
Com 2024 deixando um cenário fiscal e monetário complexo, as perspectivas para 2025 ainda são bem mistas entre os economistas, mas a maioria aponta para a possibilidade de uma desaceleração econômica, à medida que o impacto dos juros altos se torna mais evidente. Empresas e consumidores devem enfrentar custos elevados e dificuldades para acessar crédito.
No entanto, setores específicos, como infraestrutura e commodities, seguem ainda com certo otimismo. Projetos em infraestrutura, como concessões rodoviárias e privatizações, trazem potencial para atrair investimentos. Além disso, o Brasil pode continuar se beneficiando da demanda global por commodities, especialmente proteínas e celulose, devido ao real desvalorizado.
Para bancos e seguradoras, o cenário também segue positivo em termos de perspectivas de resultados, o que torna esses ativos oportunidades também muito importantes e você deve mantê-los em seu radar de investimentos.
A diversificação continuará sendo sua melhor amiga
Para os investidores, a diversificação seguirá sendo o mantra em 2025. Com taxas de juros elevadas, ativos conservadores, como títulos pós-fixados e fundos de renda fixa, continuarão atraentes. Por outro lado, considere manter o balanceamento de carteira também em renda variável, especialmente em ativos de setores mais resilientes que seguem subprecificados e que representam boas oportunidades de longo prazo.
Adicionalmente, uma pequena parte da carteira deve contemplar ativos dolarizados e, conforme seu perfil e tipo de metas, até mesmo criptomoedas, pois são alternativas que seguem se consolidando como opções interessantes, se você busca diversificação geográfica e cambial.
Cenário global: impactos e oportunidades
No cenário global, a desaceleração mais lenta do que o esperado das taxas de juros nos Estados Unidos e as tensões econômicas na Europa são fatores que vão reverberar no Brasil. A aprovação do acordo entre Mercosul e União Europeia abre possibilidades para o aumento das exportações brasileiras, especialmente de commodities.
Os debates e estudos em contínuo avanço no setor de energia renovável tendem a atrair players internacionais, especialmente da Europa, em busca de alternativas energéticas.
Desafios e aprendizados marcaram 2024
A volatilidade e os desafios macroeconômicos que o mercado viveu ao longo de 2024 reforçaram a importância de estratégias sólidas e diversificação de portfólio.
Para 2025, o cenário ainda exige cautela, mas oferece oportunidades para investidores atentos e bem informados. Setores como infraestrutura, bancos, seguradoras e algumas commodities despontam como promessas, enquanto o foco na diversificação geográfica e em moedas se mantém essencial para atravessar o próximo ciclo econômico.
Em um ambiente de incertezas, fazer um bom planejamento financeiro e acompanhar de perto as condições de mercado serão diferenciais para alcançar bons resultados. Por isso, não negligencie a importância de aprender a montar uma carteira estruturada.
Se por algum motivo você não fez isso em 2024, tenha em mente que o próximo ano será rampa de decolagem para os que estiverem melhor preparados, mas também pode ser “ladeira abaixo” no patrimônio de quem não souber planejar.
Eduardo Mira é investidor profissional, analista CNPI, pós graduado em pedagogia empresarial, coordenador do MBA em Planejamento Financeiro e Análise de Investimentos da Anhanguera Educacional, sócio do Clube FII e sócio fundador da holding financeira MR4 Participações.
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