Associar a China à competitividade tornou-se um lugar comum, principalmente quando o tema é manufatura. No entanto, existem outros elementos que vão além dos salários baixos e da quantidade de mão-de-obra disponível que determinam o motivo, hoje, do país liderar uma série de iniciativas tecnológicas globais. E um deles está ligado direta e indiretamente a aspectos culturais: os chineses valorizam o reconhecimento e chegam a ser obcecados em relação a medi-lo.
Acompanhe a cobertura especial da Forbes Tech na China:
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Isso explica um elemento fundamental na corrida pela liderança em inovação no mundo: quantidade de patentes. A Organização Mundial de Propriedade Intelectual (WIPO), em seu último relatório, apontou a China como dona do maior número de registros vigentes em propriedades de desenho industrial: 2,5 milhões liderando um ranking cujo segundo lugar é da Coreia do Sul, 388,5 mil, seguidos por Estados Unidos, 381 mil, União Europeia, 268 mil, e Japão, com 263 mil.
Confira as 10 empresas que mais receberam aprovação de patentes em 2022:
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IBM
8.540
-9% -
Getty Images Samsung
8.517
0% -
LG
4.388
-13% -
Canon
3.400
-8% -
Anúncio publicitário -
Michele Tantussi/Reuters Huawei
2.955
-7% -
Divulgação/Intel Intel
2.835
-14% -
Florence Lo/Reuters Taiwan Semicondutor
2.807
-3% -
Foto: REUTERS/Aly Song Toyota
2.753
-2% -
Getty Images Raytheon Technologies
2.694
-16% -
Reuters Sony
2.624
-9%
IBM
8.540
-9%
Esse número pode variar de acordo com segmentos, mas em geral sempre há empresas chinesas entre as primeiras. Desde 2009, o país se esforça para melhorar a qualidade das patentes e ditar um ritmo na competição global por propriedade intelectual. Naquele ano, o governo estabeleceu uma diferença para a aprovação determinando que as patentes sejam, de fato, “novidades” e não “relativamente novidades”, como eram classificadas anteriormente.
Resultados e métricas
A BYD, greentech de Shenzhen, que negocia a fábrica que era da Ford, em Camaçari, na Bahia, e anunciou investimento recente de R$ 3 bilhões no país, mantém 40 mil registros ativos e uma média de 10 solicitações por dia. “Além de garantir os direitos sobre a criação, a patente é uma forma tangível de mensurar a evolução da empresa. E os chineses são obcecados em relação a isso. Existe outro aspecto: o reconhecimento oficial tem um peso enorme na China. É um país que valoriza em outra proporção prêmios e títulos”, diz In Hsieh, cofundador da Chinnovation.
In Hsieh reforça que na esfera pública, acadêmica e privada essa busca por reconhecimento gera a necessidade de medir os esforços. Ele destaca, no entanto, que existe o desafio do equilíbrio entre qualidade e quantidade. “A BYD possui, atualmente, cerca de 70% do percentual global de patentes chinesas, um dos elementos que fizeram a empresa, inclusive, entrar para o TOP 50 das maiores marcas globais chinesas”, destacou Eric Lic, General Manager de Brand PR da BYD, em apresentação na sede da empresa, em Shenzhen, nesta terça-feira, 15.
“Essa é uma discussão importante. Se as patentes trazem diferenciais, de fato, ou são apenas domínios para manter a exclusividade de algo. A BYD está no nível de uma Huawei em termos de patentes, a marca de smartphones lidera em várias regiões, inclusive em 5G. Ainda no caso da BYD, não sei avaliar a distância o nível das patentes, mas é visível que, no caso deles, existe uma estratégia importante de liderança global”, conclui In Hsieh.
Líderes em patente
Das empresas com maior número de patentes no mundo em 2022, a Huawei aparece com destaque em quarto lugar, chegando a 2,8 mil registros somente naquele ano. O ranking é liderado pela sul-coreana Samsung, com 6,2 mil, IBM, 4,3 mil, e Semicondutores de Taiwan, com 3 mil. Rival direta da Samsung, a Apple conquistou 2,2 mil patentes, queda de 10% em relação a 2021.
Mapeamento recente feito pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) mostrou que a China lidera também em patentes voltadas a cidades inteligentes. “A BYD está pronta para desenvolver patentes a partir da nossa presença na América Latina, em especial no Brasil, por aqui vamos investir fortemente em pesquisa e desenvolvimento”, destacou Stella Li, vice-presidente global da BYD, em visita recente ao Brasil.
*De Shenzhen, na China