Seguir o sonho de ser astronauta, cientista, astrofísica ou até mesmo de ganhar um Prêmio Nobel, pode ser uma realidade distante para muitas mulheres, principalmente brasileiras. Hoje, 83,3% do mercado de tecnologia no Brasil é ocupado por homens (CAGED). Enquanto as mulheres são apenas 33% entre os pesquisadores globais e menos de 4% entre os ganhadores do Nobel (Unesco). Mas essas limitações não impediram Laysa Peixoto, Verena Paccola e Lorrane Olivlet de traçarem seus caminhos na ciência e conquistarem o reconhecimento da Nasa.
“Meu interesse pelo espaço começou aos três anos de idade, quando eu ganhei um livreto sobre o sistema solar. Lembro que fiquei completamente encantada com o conteúdo, mas não tive oportunidades na área, visto que estudava em escola pública e esse tema não era abordado. Mas eu sempre tive um carinho pela área e fiz o seguinte propósito: ‘se algum dia eu tiver a oportunidade de participar de algo relacionado ao espaço, eu não vou desperdiçar'”, conta Lorrane Olivlet, fundadora do grupo de divulgação científica InSpace.
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Conheça a seguir a trajetória das mulheres brasileiras que começaram a sonhar ainda crianças com carreiras na ciência e tecnologia e agora representam o Brasil em instituições como ONU, Unicef, Harvard e, claro, Nasa.
Laysa Peixoto, pesquisadora do programa de formação para jovens cientistas da Nasa e estudante de física na Universidade de Manhattan
Após descobrir um asteroide em seu próprio computador e conquistar o reconhecimento da Nasa, a mineira de Contagem, hoje com 20 anos, mudou sua vida e deu mais um passo em direção ao sonho de ser a primeira mulher astronauta do Brasil. Assim como Lorrane, a paixão de Laysa começou cedo. “Minha paixão pelo espaço vem desde criança, olhando para as estrelas e quando assisti a série Cosmos pela primeira vez. Me imaginava tocando o infinito, indo até às estrelas.”
A busca de Laysa não parou por aí. Em 2023, ela foi a primeira brasileira selecionada pela Nasa para conduzir experimentos em gravidade zero e, além disso, teve dois projetos selecionados pela agência espacial e foi escolhida como cientista principal no plano Orbiter, que será lançado em alguns anos em direção à Enceladus (satélite natural de Saturno), para estudar a probabilidade de existência de vida no corpo celeste.
“No início foi muita informação para minha cabeça e eu cheguei a questionar se daria conta de tudo, mas eu tive muito apoio dos mentores e parceiros de equipe. Uma coisa interessante — inimaginável para quem está de fora —, é que a Nasa é uma grande família, um sempre apoia e ajuda o trabalho do outro.”
Após passar um ano e meio no programa de pesquisa “Star Notes”, de Harvard, onde transcrevia manuscritos e documentos da história de outras cientistas mulheres, Laysa percebeu que além do sonho de ser astronauta, queria inspirar jovens mulheres a seguirem o caminho da ciência e tecnologia. “Eu criei uma plataforma online e gratuita de conteúdos STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) para crianças e adolescentes, chamada Elliptica Foundation. Em dezembro vamos realizar o World STEM Summit, o maior evento de ciência para estudantes no mundo.”
Verena Paccola, Under 30 de 2022, estudante de medicina na Universidade de São Paulo e “cientista cidadã” da Nasa
Um aspecto que conecta as três brasileiras, é a paixão pela ciência desde a infância. Nascida em Indaiatuba, interior de São Paulo, Verena ganhou os holofotes após descobrir 25 asteroides pela NASA em 2022, quando se inscreveu espontaneamente para participar de um programa de pesquisa da companhia. “Sempre fui curiosa, quando era pequena questionava tudo, desde a razão de levantar cedo para ir para escola, até o motivo da cor do céu ser azul. Isso me levou a lugares como a Nasa.”
Hoje, a estudante de medicina da Universidade de São Paulo, pesquisadora de neurociência e embaixadora da Unicef, diz que tem dois grandes objetivos a curto prazo: inspirar meninas e mulheres na ciência e apoiar projetos de impacto social em comunidades periféricas brasileiras. “Estou escrevendo projetos em parceria com o Edu Lyra, da Gerando Falcões, para levar educação científica para as periferias brasileiras.”
Outra meta de Verena é ser a primeira mulher brasileira a ganhar um Prêmio Nobel. “Na verdade, se qualquer outra mulher brasileira ganhar, eu já ficaria realizada. Mas eu realmente desejo um dia ser escolhida para ganhar um Nobel.”
Lorrane Olivlet, fundadora do grupo de pesquisa InSpace, estudante de engenharia mecânica na Universidade Federal de Minas Gerais e colaboradora da Agência Espacial Brasileira
A engenheira biomédica, nascida em Belo Horizonte, Minas Gerais, já escreveu um livro sobre o Sistema Solar, chamado “Meu Primeiro Contato com o Céu”, trabalha em parceria com a Agência Espacial Brasileira para criação de conteúdos, fundou a InSpace, grupo de divulgação científica focado em STEM, e ganhou reconhecimento da Nasa ao detectar 60 asteroides durante sua participação no projeto de “Caçada aos Asteroides”, realizado pelo International Astronomical Search Collaboration, Nasa e Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
“O grupo InSpace é um projeto voluntário que fundei em 2019 e que tem como objetivo abrir oportunidades para pessoas em ciências espaciais. Hoje temos 100 membros ativos, majoritariamente mulheres, de todas as regiões do Brasil, EUA e Moçambique.”
A engenheira brasileira, que está em preparação para um projeto de doutorado em saúde no espaço, também foi escolhida pela NASA para participar de uma imersão durante o lançamento espacial da sonda Psyche. “Esse projeto teve mais de 6 mil inscrições, entretanto apenas 17 pessoas puderam participar. Eu fui a única representante da América Latina. Durante a viagem eu conversei com o diretor do Kennedy Space Center, com toda equipe da sonda Psyche, observei bem de perto o foguete Falcon Heavy, entre outras atividades. Foi incrível.”
Além de tudo, a mineira é entusiasta do movimento de inserção de mulheres no mercado. Lorrane já participou de trabalhos vinculados à ONU para incentivar meninas no setor espacial no Rio de Janeiro e é embaixadora do grupo L’Oreal para mulheres na ciência.
“Justamente por ter visto a discrepância de gênero que existe na área, hoje eu sou ativista. Tenho feito um trabalho gigante para incentivar mais meninas na área. ‘Um ajuda o outro’ é o lema da União Brasileira de Astronomia, e essa frase é verdadeira. A ciência deve ser feita em colaboração, isso é fundamental.”