
Warren Buffett, quinto homem mais rico do mundo segundo a Forbes, anuciou sua aposentadoria neste sábado durante a 60ª reunião de acionistas da Berkshire Hathaway, empresa têxtil que adquiriu em 1965 e que transformou em um dos maiores conglomerados do mundo. Buffett disse que seu sucessor será Gregory Abel, que atualmente supervisiona os investimentos da Berkshire não relacionadas a seguros.
Abel terá “a palavra final” em relação às operações da empresa, como ela investe e muito mais, disse Buffett, de 94 anos, às dezenas de milhares de acionistas da Berkshire na assembleia em Omaha. No entanto, o bilionário acrescentou que “ainda permaneceria na empresa e possivelmente seria útil em alguns casos”.
Ele permanecerá como presidente do conselho da Berkshire — passando essa função para seu filho mais velho, Howard Buffett, após sua morte, e continua sendo o maior acionista individual da Berkshire, com uma participação de aproximadamente 14%, avaliada em cerca de US$ 164 bilhões.
Segundo Buffett, apenas dois de seus filhos, Howard e Susan, que fazem parte do conselho da empresa, sabiam do anúncio. O filho caçula, Peter, não tem função executiva na empresa. A informação foi recebida com uma ovação de pé de um minuto pelos acionistas da Berkshire.
Abel pareceu surpreso com o anúncio do chefe e, em seguida, levantou-se e começou a aplaudir.
Se o conselho aprovar o plano, isso marcará o fim de uma era para uma das empresas mais bem-sucedidas da história do capitalismo moderno e um de seus investidores mais famosos. Buffett acumulou uma fortuna por ser um astuto selecionador de ações, comprando grandes empresas e montando um conglomerado que administra uma enorme operação de seguros, uma grande ferrovia e dezenas de empresas de consumo, além de supervisionar uma vasta carteira de ações.
Entre os ativos mais notáveis da Berkshire estão a seguradora de automóveis Geico, a ferrovia BNSF, a concessionária de energia Berkshire Hathaway Energy, a Dairy Queen, a See’s Candies, a Fruit of the Loom, a empresa de tintas Benjamin Moore e a empresa de jatos particulares NetJets.
Juntos, esses negócios ajudaram a Berkshire a acumular um caixa que agora chega a quase US$ 348 bilhões, mais do que o valor de mercado do McDonald’s.
O poder financeiro da Berkshire fez de Buffett um dos empresários mais influentes do mundo, dando grande peso aos seus pronunciamentos sobre diversos temas, incluindo política. Isso incluiu suas críticas às políticas comerciais do presidente Trump como um erro: “O comércio não deve ser uma arma”, disse Buffett. “Não acho que seja certo e não acho que seja sensato.”
Na reunião, Buffett também falou sobre as tarifas do presidente americano Donald Trump e a guerra comercial com a China, comentou sobre as estratégias de negócios da empresa e a economia em geral.
Pontos principais:
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Buffett abriu a primeira sessão de perguntas e respostas da reunião abordando as tarifas impostas por Trump a parceiros comerciais históricos, afirmando que “o comércio não deve ser uma arma” e que os EUA “deveriam buscar o comércio com o resto do mundo”.
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Buffett, que já havia caracterizado tarifas como “um ato de guerra, em certo grau”, reiterou essa posição e afirmou que os EUA já “venceram”, acrescentando que o país “se tornou incrivelmente importante partindo do nada”.
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Quando questionado sobre a força dos Estados Unidos e seu status como potência econômica, Buffett manteve o otimismo, dizendo: “Eu não me desanimaria”.
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O experiente investidor também disse aos acionistas que gostaria que a Berkshire Hathaway mantivesse menos dinheiro em caixa, possivelmente reduzindo o valor para cerca de US$ 50 bilhões — em comparação aos impressionantes US$ 334 bilhões registrados no final do ano passado.
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Buffett foi questionado sobre a queda do valor do dólar americano, que atingiu o menor nível em três anos no mês passado, e afirmou que não toma nenhuma medida para gerenciar o risco cambial. Ele disse aos investidores: “Não gostaríamos de possuir nada em uma moeda que realmente acreditássemos que está indo para o inferno.”
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Sobre o evento da Berkshire Hathaway
A reunião anual da Berkshire Hathaway – apelidada com justiça de “Woodstock dos capitalistas” – atrai mais de 40 mil participantes do mundo inteiro. A parte formal da reunião leva apenas 20 minutos, enquanto a famosa sessão de perguntas e respostas com Buffett e seu falecido parceiro Charlie Munger se estendia por mais de cinco horas, abordando desde estratégias de investimento até economia global.
O que torna essa peregrinação anual a Omaha tão especial não é apenas a sabedoria de investimentos compartilhada por Buffett, mas a celebração do capitalismo de livre mercado feito do jeito certo – em que as empresas focam na criação de valor de longo prazo e não em lucros imediatos.