O maior campeonato de automobilismo do Brasil terminou o temeroso 2020 impressionando o mundo. Estatisticamente, a Stock Car foi a categoria mais competitiva em relação à qualquer outra, superando gigantes como a Fórmula 1 e o WRC (World Rally Championship) neste quesito.
Isso porque a categoria, que movimenta aproximadamente R$ 250 milhões por ano, chegou à grande final com 11 pilotos matematicamente com chances de garantir o título de campeão. Sem contar que apenas meio segundo separava o primeiro e o último carro durante os treinos classificatórios para o grid – uma marca realmente notável. Os motivos desses feitos terem sido alcançados somente em solo brasileiro e na Stock Car? Segundo Fernando Julianelli, CEO da Vicar, empresa que promove e organiza o campeonato, a explicação está no regulamento bem desenhado e alinhado a uma série de variáveis como performance e constância dos pilotos, além da gestão das equipes.
E mesmo em meio à pandemia, o grid de 2021 está lotado e estrelado. São 30 pilotos confirmados até agora, seis a mais que no ano passado, o que demonstra que mesmo em um cenário de incertezas, as marcas decidiram investir nas equipes e na categoria. Para somar à constelação de nomes já consagrados, Felipe Massa chegou para integrar a esquadra de ex-pilotos da Fórmula 1. Agora serão quatro que já competiram na maior categoria do mundo tocando rodas pelos circuitos brasileiros, já que Rubens Barrichello, Nelson Piquet Jr., e Ricardo Zonta já participavam do campeonato.
“Eu vejo o nível da Stock Car muito alto, muito elevado”, revela Massa, que hoje em dia está radicado em Mônaco, mas que se uniu à equipe Lubrax Podium junto ao piloto Júlio Campos para se aventurar em uma nova categoria. O vice-campeão mundial da F1 se diz ainda entusiasmado em competir com os habitués da Stock, como Thiago Camilo, Daniel Serra, Ricardo Maurício e Cacá Bueno.
Além disso, pela primeira vez um campeão das 500 Milhas de Indianápolis e da Fórmula Indy disputa uma temporada completa da principal categoria do automobilismo brasileiro. Tony Kanaan, que vai correr pela Texaco Racing, se impressionou ao conhecer a sede da equipe e disse ainda que, “a estrutura não perde nada para a de uma equipe top de Fórmula Indy”.
Já as transmissões das corridas deixaram de ser exclusivas do grupo Globo e ganharam mais espaço na televisão aberta, através da TV Bandeirantes, emissora que também adquiriu os direitos da Fórmula 1. Ao mesmo tempo, barreiras contratuais foram derrubadas, como o “geo fencing” e “geo blocking”, que impediam que fãs assistissem às corridas de outros países.
Mas, o processo de internacionalização da categoria vai, de fato, viabilizar o consumo de conteúdo por parte do público estrangeiro através de uma parceria com o motorsport.com, o maior site de automobilismo do planeta. A plataforma vai contar com uma equipe de narradores e comentaristas para transmitir as corridas em inglês.
O conjunto de novidades implementadas e um ambiente renovado fomentaram o interesse comercial das marcas. O ecossistema reúne aproximadamente 200 marcas, entre patrocinadores das equipes e do campeonato. Este último dobrou o número de patrocinadores em relação ao ano passado. GM, Toyota, Pirelli, Claro, BR Distribuidora, Fras-le, Fremax, Axalta, Blau, Viemar, SKF, Mangels, Protechtor, Real Radiadores e Magic Brazil integram o time de patrocinadores da Stock Car em 2021.
“A Stock Car é um ambiente de negócios, uma plataforma de comunicação, que de vez em quando faz uma corrida”, explica Julianelli, já que o ambiente gerado de negócios de B2B e B2C proporciona e viabiliza que os patrocínios estejam lá. O paddock é um lugar de experiências exclusivas e de networking, onde circulam altos executivos de empresas dos mais variados ramos.
Agora, por que uma marca deveria estar na Stock Car? Julianelli responde que “é um investimento baixo para você conseguir ter um ponto de apoio que pode ser aproveitado 360 graus em visibilidade de marca, geração de conteúdo, em relacionamento com o público B2B e B2C, em programas de incentivo”. Sem contar a possibilidade que as marcas têm de se comunicar com o seu público target, muito bem definido quando se trata do automobilismo.
No entanto, em meio a muitos motivos para comemorar, o setor do automobilismo ainda terá muitos desafios. O maior deles, no caso da Stock Car, é trazer o público de volta para as arquibancadas. Afinal de contas, toda essa evolução está sendo acompanhada apenas virtualmente. Enquanto isso, nos autódromos, os roncos dos motores ecoam sozinhos, sem a paixão dos aficionados para abrilhantar ainda mais os fins de semana de corridas.
Letícia Datena é jornalista de esportes há oito anos, e atua no setor do automobilismo desde 2016. Já foi correspondente internacional dos canais Fox Sports e cobriu alguns dos campeonatos mais importantes do mundo, como o Rally Dakar, Rally dos Sertões, o WRC (World Rally Championship), Fórmula E e hoje é uma das responsáveis pelo departamento de criação de conteúdo da Stock Car.
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