ESG não é sinônimo de ODS. É lugar comum perceber que muitos – até fundos de venture capital – confundem os dois conceitos. ESG, em inglês environment, social and governance, ou ASG, em português ambiental, social e governança, refere-se às condutas ambientais, sociais e de governança de um fundo, de uma empresa. Por outro lado, ODS significa Objetivos do Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pela ONU (Organização das Nações Unidas), que extrapolam as práticas internas de cada fundo ou empresa. São os compromissos mundiais em favor do desenvolvimento sustentável.
Percebam que há uma forte relação entre ESG e ODS. Ao adotar melhores práticas de ESG, um fundo, uma empresa, têm maior inclinação para também contribuir com os ODS. Portanto, é forçoso reconhecer: não há como sustentar que um fundo, uma empresa contribuam para atingir os ODS sem que tenham boas práticas e métricas ESG. Porém, ter boas práticas de ESG não significa que automaticamente a empresa contribua para atingir os ODS. É importante uma análise dessa diferença de tonalidade, ainda pouco clara para muitos investidores.
No Brasil, a relação dos ODS com os negócios ESG está mais evidente nas grandes empresas. De acordo com o Pacto Global, entre as companhias que fazem parte do ISE, Índice de Sustentabilidade Empresarial da B3, 83% possuem processos de integração dos ODS às estratégias, metas e resultados. Diga-se, um universo ainda muito pequeno, considerando o tamanho e as desigualdades do Brasil.
A complexidade e a falta de transparência do ecossistema ESG mimetizam os investidores quando da tomada de decisão gerando fragilidade na sua capacidade de alocar capital em empresas que são genuinamente ESG. Boa parte disso se deve ao uso isolado de pontuações, de listas de checagem ou indicadores como únicas formas de avaliar o ESG. Esse balaio – de aparente novidade – parece tirar o sono das empresas, gerando uma miopia nas adaptações necessárias para estar em conformidade com referidas exigências.
Aqui não há espaço para a falta de ética. Dados da Ernest Young indicam que os critérios ESG devem buscar alinhamento aos ODS, realidade de grandes discussões no mercado de capitais. Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável reúnem as grandes dores, desafios e vulnerabilidades da sociedade. Além disso, sinalizam as grandes oportunidades ao se relacionarem diretamente com as necessidades.
O caminho para o investidor ESG é compreender o conceito de sustentabilidade, no sentido amplo da palavra, pois significa reduzir a incerteza em um fluxo incerto, ou seja, uma robusta ferramenta de controle de riscos. Trata-se da própria sustentabilidade da empresa, do fundo. Assim, fica fácil assumir que as decisões de investimento ESG são criações de valor de longo prazo, tanto para os negócios quanto para os territórios. Mais uma vez, há uma conexão direta do ESG com o conceito ODS de criação de “valor compartilhado”, ambos tratam de uma abordagem sustentável e inclusiva para o crescimento econômico e a geração de bem-estar.
O momento atual – de uma crise pandêmica sem igual no mundo – aponta celeridade da comunidade global na direção de cumprir os ODS. A ordem do dia é engajar cidadãos, governos e investidores na indução de empresas que assumam o papel de liderança na abordagem de desafios sociais críticos. Há evidências que essa integração de práticas ambientais, sociais e de governança (ESG) no investimento e na gestão da empresa ajuda a oferecer desempenho superior e retornos financeiros de longo prazo. Em suma, a criação do “valor compartilhado” social e financeiro está interligada.
Embora os ODS sejam mais temáticos do que corporativos por natureza, com certeza ajudam a alinhar as práticas ESG. É obvio que uma abordagem de negócios combinada ESG e ODS levará a empresa a direcionar sua atenção para fatores financeiros e não financeiros, como governança corporativa, pegada ambiental, questões de direitos humanos e muito mais.
Essa é a grande conexão, ESG e ODS facilitando a transição para uma postura ativa na adoção de novos modelos de negócios por meio de estratégias disruptivas. Na essência, é um caminho para a empresa atender aos seus próprios objetivos de “valor compartilhado”, ao mesmo tempo em que possibilita o cumprimento dos ODS.
Haroldo Rodrigues é sócio-fundador da investidora in3 New B Capital S.A. Foi professor titular e diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Universidade de Fortaleza e presidente da Fundação de Amparo a Pesquisa do Ceará.
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