Cafona, paupérrima e limítrofe. Esses são adjetivos à altura da palavra top, que mais parece uma praga do que um vocábulo. Se conto a um colega de trabalho a respeito de um livro que estou lendo, ouço um frustrante top. Se falo do sucesso de uma empreitada, lá vem o top. Se digo que a viagem foi inesquecível, o que escuto? Top.
Pior do que o top são os superlativos topíssimo e topérrimo. Há ainda quem diga topzera. Santos protetores da língua portuguesa, olhai por nós! E, parente de quem fala top seguramente é quem pronuncia o irritante zap (“Mande um zap para mim.”, “Me chama no zap-zap.”). Juízo final, é você?
Salvos os meus rompantes hiperbólicos, a verdade é que caminhamos, a passos largos, para o depauperamento da língua. Não apenas pelo uso excessivo de estrangeirismos, mas pelo forte apreço à simplificação, à redução, à infantilização. Machado de Assis, meu querido, que bom que você já se foi e não testemunha a que ponto chegamos.
O que usar, então, no lugar do top, professora? Opções ricas, elegantes e graciosas não faltam: irretocável, maravilhoso, fantástico, esplêndido, deslumbrante, sensacional, extraordinário, incrível, excepcional, formidável, fabuloso… Como você pode ver, leitor, a língua portuguesa não precisa do top. Chega dessa bobagem.
Cíntia Chagas é uma professora que sempre leva humor e conhecimento ao público. Escritora de dois best-sellers da editora HarperCollins, ela coleciona milhares de alunos nos cursos virtuais que ministra. Palestrante e instagrammer, provou que irreverência, humor e educação podem e devem andar juntos.
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