Vivemos em uma época de profunda transformação. Este momento traz consigo uma grande angústia e também uma oportunidade de ruptura de comportamentos e sistemas que não nos servem mais.
Tenho escrito que o investimento ético, ou responsável, deve ser a nova agenda da mineração no Brasil, resultado de um movimento cada vez mais refinado em todo o mundo dos investimentos e que afeta todos os setores da economia global.
“O reflexo dessa mudança é percebido quando os grandes fundos internacionais comprometem-se com os mais altos padrões de investimento ético com o propósito de retribuir mais às causas ambientais e sociais locais em relação à abertura e operação de minas em todo o mundo” assim disse, aqui na Forbes, em maio deste ano.
No Brasil, questões claras de crise ética envolvem a mineração. Nas palavras da jornalista Cristina Serra, “a mineração no Brasil é uma máquina de moer gente”.
Não se tem dúvidas que eventos de crise ética são vistos pela sociedade como legado negativo, principalmente quando se joga a lupa em direção a esses territórios explorados pela mineração.
O principal impacto da indústria da mineração no Brasil é a deseconomia local.
A indústria da mineração, historicamente, usa a sustentabilidade fixada em questões de viabilidade financeira de organizações da sociedade civil (OSC) e falha em preparar as pessoas para serem capazes de resistir a mudanças rápidas em seu ambiente, durante e pós exploração mineral.
Os investimentos ESG não podem ser vistos como estratégias de posição e sim uma direção. Assim, aqueles da mineração são imprescindíveis para regenerar as pessoas em seus territórios degradados.
Está na hora do pacto nacional da mineração, ou MiningPact, começar a ser conhecido.
O MiningPact já é um dos realizadores do projeto HousingPact. Aliás, um complemento perfeito considerando suas sinergias e interfaces.
A missão do MiningPact é ser reconhecido na criação de mudanças sociais inovadoras, com experiência em desenvolvimento de capacidades, geração de renda, atração de startups, melhoria da moradia, saúde pública, governança, meio ambiente, energia, meios de subsistência, empoderamento das mulheres, microfinanças e muito mais, claro que no entorno de comunidades de mineração.
O MiningPact vê o desenvolvimento de capacidades para geração de renda como uma abordagem, um processo e um resultado. Até porque o propósito é melhorar a vida das pessoas ao redor de espaços explorados pela mineração e que são afetadas pela pobreza e marginalização, e fazê-lo de uma forma que as capacite a superar os desafios com apoio de uma rede e de tecnologias sociais de forma autônoma.
Isto posto, o coração do pacto está na Plataforma Social Mining (PSM), conjunto de ferramentas de desenvolvimento de capacidades locais bem ampla. Isso começa com o delineamento, mapeamento e análise de sistemas relevantes. O MiningPact, junto com investidores, negócios e startups de impacto, academia, governos e parceiros locais, estabelecem etapas clara para o progresso local, quais sejam:
i. cocriam planos de ação e mudança, incluindo todos os atores necessários para promover uma mudança social significativa;
ii. identificam e potencializam as oportunidades; e,
iii. vinculam as oportunidades às capacidades associadas para apoiar e fortalecer conforme necessário.
A PSM deve capturar dados qualitativos e quantitativos para rastrear e compreender o progresso territorial. Uma ferramenta importante no esforço contínuo do Pacto para mover o local na direção de uma mudança de desenvolvimento e crescimento com prosperidade.
Para os investidores ESG, manter o poder de tomada de decisão requer humildade e confiança nos dados dos negócios. O investimento em rede requerido pelo MiningPact, por certo, alavancará a capacidade de abordar diretamente os desafios enfrentados pelo setor mineral e que, por certo, afetará pessoas e territórios.
Em outras palavras, a PSM rastreia e mede os resultados dos investimentos ESG em rede, baseando-se diretamente na abordagem integrada e colaborativa do Pacto para o desenvolvimento. Agora resta claro que o desafio do MiningPact é mudar a regra do jogo, gerar, como principal resultado, a economia local.
Haroldo Rodrigues é sócio-fundador da investidora in3 New B Capital S.A. Foi professor titular e diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Universidade de Fortaleza e presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Ceará.
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