Como colaborador da Forbes Brasil, tenho pautado uma agenda das grandes tendências que são oportunidades para investimentos ESG em negócios que geram benefícios positivos para as pessoas e seus territórios. Investimentos privados são responsáveis por intervenções altamente inovadoras e revolucionárias e que podem ajudar a gerar mudanças nos sistemas, apoiadas por condições sociais, econômicas e políticas favoráveis.
De acordo com a ONU, estima-se que teremos 10 bilhões de pessoas na Terra em 2050. Atualmente, a humanidade e o planeta estão mal equipados para sustentar uma população desse tamanho. A pandemia tem sido a catástrofe que se esperava para promover mudanças radicais na trajetória do futuro. A escala e a urgência da transformação necessária aceleraram a exigência de um amplo consenso sobre os nossos objetivos finais no planeta, bem como a implementação de avanços audaciosos e impactantes que ajudarão a alcançá-los.
LEIA MAIS: Startup Onii leva empreendedorismo social para Paraisópolis com a loja eegloo
Como várias evidências científicas recentes argumentam, alimentar 10 bilhões de pessoas requer uma abordagem que olhe sistemicamente para a cadeia alimentar global, ao invés de focar em aspectos individuais, como aumento da produção ou produtividade.
O escopo da desigualdade social é percebido pela enorme desnutrição ainda existente. Dados da FAO, IFAD, UNICEF, WFP e OMS, em 2019, indicam que pelo menos 3 bilhões de pessoas sofrem de deficiências de micro e/ou macronutrientes, 1,2 bilhão têm insegurança alimentar, 800 milhões vão para a cama com fome e mais de 200 milhões de crianças estão atrofiadas. Quase metade de todas as mortes de crianças menores de cinco anos tem a subnutrição como causa.
Um dos maiores desafios da sociedade, portanto, é alcançar a segurança alimentar para uma população em crescimento, que está mais adensada, ao mesmo tempo em que minimize a degradação ambiental e doenças relacionadas à dieta alimentar.
Inovações são urgentemente necessárias para fornecer dietas melhores para todos; produzir alimentos suficientes com emissões reduzidas e menores impactos nos ecossistemas terrestres, de água doce e marinhos; gerenciar melhor a demanda; e aumentar as oportunidades de subsistência ao longo de toda a cadeia de abastecimento, observando especialmente o enorme potencial nos mercados urbanos em crescimento.
Por outro lado, perceba que a transformação do atual sistema alimentar global vai além da erradicação da fome, desnutrição e riscos à saúde relacionados à dieta. O setor de alimentos emprega mais pessoas do que qualquer outro setor e é uma fonte de sustento para mais de 2,5 bilhões de pessoas, muitas das quais são as mais pobres e com maior insegurança alimentar do mundo, segundo dados do IFAD e UNEP.
As mudanças pelas quais os sistemas alimentares passam têm implicações generalizadas para esses bilhões de agricultores e trabalhadores, por sua segurança alimentar e pela estabilidade social de grandes partes do mundo.
Além disso, a urbanização e a demanda por alimentos de uma classe média em crescimento estão remodelando drasticamente as economias alimentares, especialmente nos países em desenvolvimento.
Reitera-se que os sistemas alimentares precisam ser transformados para atender melhor às necessidades dos bilhões de empregados no setor de alimentos, especialmente os pequenos agricultores, pequenas e médias empresas e trabalhadores em sua cadeia de valor.
Nosso meio ambiente também está em risco significativo: os sistemas alimentares são de longe os maiores contribuintes da degradação ambiental, das mudanças climáticas induzidas pelo homem e da perda de biodiversidade, e de acordo com Renee Cosme e o Banco Mundial, são responsáveis por até 35% das emissões globais de gases de efeito estufa e 70% da retirada de água. Além disso, cerca de um terço de todos os alimentos produzidos para consumo humano vão para o lixo, aumentando desnecessariamente os impactos ambientais da produção de alimentos devido ao desperdício de recursos.
O novo paradigma da produção de alimentos gera oportunidade para inovações disruptivas. O caminho está nas mudanças no atacado se quisermos alcançar a sustentabilidade ambiental e regenerar a base de recursos naturais da qual a humanidade tanto depende.
Haroldo Rodrigues é sócio-fundador da investidora in3 New B Capital S.A. Foi professor titular e diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Universidade de Fortaleza e presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Ceará.
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.
Siga FORBES Brasil nas redes sociais:
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Siga Forbes Money no Telegram e tenha acesso a notícias do mercado financeiro em primeira mão
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.