Um dos sentimentos mais presentes na mente de quem pensa em empreender, mas ainda não tirou a ideia do papel, é o medo de fracassar. É algo que eu ouço com muita frequência nos meus cursos e nas conversas com empreendedores. Quando isso acontece, sempre me lembro de uma fala de Steve Blank, o pai da metodologia que lançou as bases para o movimento Lean Startup, que acabou se tornando o responsável por mudar a forma como essas empresas são construídas hoje em dia.
“Vim de um mundo (serviço militar) onde o mais arriscado que você pode fazer é perder a vida. Em comparação a isso, não há risco algum aqui”. Ele estava respondendo a uma pergunta de um colega de quarto, feita logo que chegou ao Vale do Silício, nos Estados Unidos, que queria saber se ele não tinha medo de apostar em uma startup e a empresa acabar quebrando.
LEIA MAIS: Cenário de maior valorização das startups desafia investidores de risco
Claro que não podemos negar que a vida empreendedora e do mundo de investimentos é feita de riscos. E é isso que movimenta o ecossistema. Aliás, os números estão aí para mostrar que as chances de tropeço são grandes e que, para chegarmos ao sucesso, é preciso levar muito a sério.
Cerca de 25% das startups morrem com um tempo menor ou igual um ano e 50% com um tempo menor ou igual a quatro anos, segundo dados do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral.
Existe um padrão ano a ano dos fatores que levam à morte de uma startup. Os dados da última edição do Top 12 Reasons Startups Fail 2021, realizado pela CB Insights, revelaram que o primeiro deles, com 38%, é ficar sem dinheiro e não conseguir levantar novo capital. Logo em seguida, está o lançamento de um produto que não atende a uma necessidade do mercado (35%). Temas como a ausência de um bom modelo de negócios e não saber estruturar bem o time também estão em posições importantes no ranking como fatores de mortalidade das startups.
Poderíamos dizer que esses dados atestam que o medo do amigo de Blank era real? Sim. Mas o caminho inverso de desistir diante do receio do fracasso é se preparar para vencer.
Não se trata de reduzir a carga emocional que ter um negócio hoje no Brasil representa para os empreendedores. E sim de fortalecer aquilo que pode nos levar à frente, apostando em conhecimento, metodologia e comportamento para criar empresas sustentáveis e blindadas das ameaças do mercado.
Um dos primeiros passos ao criar uma empresa com maiores chances de sucesso é entender qual o seu objetivo e testar hipóteses sabendo de fato o que você está avaliando. Já foi o tempo em que tínhamos que apostar em uma ideia absoluta, imutável. Os experimentos, algo muito forte da cultura das startups e, especialmente, das estratégias de growth hacking, são parte essencial dessa jornada.
Outro pilar fundamental é ter um modelo de negócio que enderece um grande problema não atendido hoje no mercado. E, claro, conhecer o seu consumidor e os concorrentes, e entender como precificar seu produto.
Ao pensar nas pessoas, temos que ter em mente a importância de construir um time complementar. A diversidade é palavra de ordem hoje em dia. E é fácil entender o motivo. A visão do todo é muito mais rica quando incorpora elementos complementares, uma vez que conectamos pessoas com diferentes realidades, com pontos de vista diversos, com formações diferentes e com talentos complementares.
Ter essa mentalidade é positivo porque traz mais inovação, mais empatia e ajuda a construir produtos ou serviços alinhados à realidade dos diferentes tipos de consumidor. Mas também por ajudar a fortalecer as companhias.
O Global Resilience Report, apresentado esse ano pela Deloitte, apontou que as organizações que têm um forte compromisso com a diversidade e a inclusão são mais resilientes. Isso acontece, justamente, porque essa visão mais plural leva a mais criatividade, inovação e, consequentemente, a novas soluções para vencer os momentos desafiadores. O mesmo vale para as empresas que possuem políticas para manter seus colaboradores seguros fisicamente e mentalmente, e que oferecem soluções de trabalho flexíveis. Precisamos cuidar das nossas pessoas.
O medo, assim como outras emoções básicas, como a raiva, faz parte do processo de enfrentamento de situações. Ele é fisiológico, natural e importante, pois nos sinaliza para ameaças. Sempre que surgir algo desafiador, o nosso alarme interno será ativado, hormônios e outras substâncias do estresse, como a adrenalina e o cortisol, serão liberados e o nosso corpo vai se preparar para lutar ou fugir.
Sabe o que pode nos ajudar, e muito, a seguir acreditando no nosso potencial em momentos de incerteza? A convicção de que estamos preparados para o desafio. Cenários difíceis são muito mais transformadores que as águas calmas. A nossa evolução acontece, inclusive, como consequência dos medos que enfrentamos. Esteja pronto para o que vier.
Camila Farani é um dos “tubarões” do “Shark Tank Brasil”. É Top Voice no LinkedIn Brasil e a única mulher bicampeã premiada como Melhor Investidora-Anjo no Startup Awards 2016 e 2018. Sócia-fundadora da G2 Capital, uma butique de investimentos em empresas de tecnologia, as startups.
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.
Siga FORBES Brasil nas redes sociais:
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Siga Forbes Money no Telegram e tenha acesso a notícias do mercado financeiro em primeira mão
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.