É impossível falar de mudanças sem falar de desigualdades. Negócios inclusivos e investimentos ESG têm sido cada vez mais relevantes no contexto dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). No Brasil e no mundo, entre diversos desafios, a busca pela erradicação da pobreza extrema e da fome é agenda do investimento. Ao mesmo tempo, esta é uma agenda de oportunidades. De acordo com o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), estimam-se direcionamento de 3 a 4 trilhões de dólares por ano a investimentos em países em desenvolvimento.
O Brasil precisa ser olhado pela lente da maioria dos brasileiros: dados do Instituto Locomotiva apontam que somos 165 milhões vivendo na periferia (classes CDE) e destes, 14 milhões vivem nas favelas, becos, ruelas, travessas, comunidades e quilombos.
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Por outro lado, a diversidade é pauta constante na agenda editorial dos grandes veículos de comunicação, até porque 108 milhões de pessoas no Brasil se autodeclaram mulheres, e 15 milhões, homossexuais. O combate ao preconceito e a valorização da diversidade têm atraído um novo capital, chamado ESG, nas grandes empresas.
É lugar comum entre os trabalhadores brasileiros o conhecimento de alguém que já sofreu preconceito, discriminação, algum tipo de humilhação ou deboche em seu ambiente de trabalho. Esse dado é alarmante.
O maior desafio que se vive é trabalhar para atingir e alcançar novos patamares de desenvolvimento, priorizando a inclusão de grupos mais vulneráveis. Afinal, são gritantes as desigualdades, sobretudo, na participação das mulheres negras, das minorias étnicas e juvenis no sistema econômico e nas esferas da cidadania. Essas lacunas precisam ser removidas do setor produtivo para o país avançar.
Mulheres, negros e classes CDE concentram mais de 80% da intenção de compra do país. Estudos do datafavela, CUFA (Central Única das Favelas) e Locomotiva apontam que 79% dos brasileiros acreditam que muitas marcas se aproveitam do combate ao preconceito apenas para fazer propaganda, mas não têm ações concretas para mudar essa realidade.
Cada dia mais, uma coisa é certa: para as grandes empresas e suas marcas, o custo do erro aumentou. A transparência e a intencionalidade dos negócios de impacto da periferia e dos investimentos ESG são fundamentais para o sucesso dos negócios de uma marca frente a um consumidor conectado.
A decisão do investidor privado em negócios ESG, se não for por uma questão de valor, deve ser por inteligência. Ignorar a diversidade atrapalha os lucros.
Nas diversas periferias do Brasil, há empreendedores e empreendedoras com ideias e soluções com alto potencial de inovação.
A inovação empreendedora das periferias nasce de uma experiência concreta que — ao transformar a realidade de escassez em abundância criativa e de resistência — fortalece todo o cenário de empreendedorismo de impacto, alimenta o sonho e a luta em busca de dignidade.
Nesse sentido, devem-se adotar medidas que levem a novos modelos de negócios capazes de gerar soluções escaláveis e que respondam a problemas concretos em serviços essenciais, bem como estratégias de negócios que incluam a população de baixa renda como parceira em suas cadeias de valor.
Além disso, o setor privado, por meio de sua capacidade de promover a inovação, de construir cadeias produtivas e de geração de valor, pode contribuir de forma proativa para o fortalecimento de uma sociedade mais inclusiva em um país dinâmico, complexo e multifacetado como o Brasil.
A mudança só acontece quando há envolvimento dos que fazem parte da solução, é por isso que se busca ativamente a inclusão e a diversidade nos negócios e nos investimentos ESG.
Conectar empreendedores de diferentes raças, credos, gêneros e orientação sexual é uma mola propulsora importante desse motor de desenvolvimento. Porém, não basta crescer. Afinal, uma economia deve crescer com uma visão compartilhada de prosperidade, inclusão e respeito ao meio ambiente.
Dessa forma, a prioridade é desbloquear o potencial dos negócios inclusivos e investir na desigualdade. Até porque o ESG no Brasil está aí para isso.
Haroldo Rodrigues é sócio-fundador da investidora in3 New B Capital S.A. Foi professor titular e diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Universidade de Fortaleza e presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Ceará.
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