A possibilidade de criarmos uma realidade paralela há muito tempo fascina o ser humano. Isso já foi tema de filmes, livros e de tentativas da indústria de tecnologia de gerar essa aproximação com um número maior de pessoas, como no lançamento do Second Life. O espaço tridimensional simulava a vida real e, lá, éramos todos avatares. Não avançou como prometia, e provavelmente tenha sido mais um caso de um produto à frente do seu tempo, que chegou quando o mercado ainda não estava preparado para ele.
Hoje o cenário é diferente, o que nos leva a acreditar que o Metaverso, considerada a próxima plataforma de computação baseada em Realidade Virtual e Aumentada, tem potencial para ir além do buzzword. Apostas não faltam. Uma das maiores delas é a do Facebook. Recentemente, o fundador da gigante global, Mark Zuckerberg, anunciou que vai investir US$ 50 milhões em pesquisas e programas parceiros para garantir o desenvolvimento do metaverso nos próximos anos.
LEIA TAMBÉM: Cenário de maior valorização das startups desafia investidores de risco
Pense em um conjunto de espaços virtuais, que poderão ser explorados pelas pessoas mesmo que elas estejam distantes fisicamente. A perspectiva é que muito do que vivemos no mundo físico, passe a acontecer também no metaverso, como reuniões de negócios, um passeio com um amigo por um shopping virtual, um concerto musical, uma aula ou um jogo realístico. A Epic Games, avaliada em US$ 8,7 bilhões, concluiu uma rodada de financiamento de US$ 1 bilhão, que permitirá à empresa apoiar futuras oportunidades de crescimento, entre elas, a aposta no metaverso.
Players do mundo todo estão se movimentando para esse novo momento que começa a ser construído. Mais de 90 startups no mundo já estão envolvidas na criação dos blocos fundamentais para o metaverso, revelam dados do CB Insights. O foco vai desde o desenvolvimento das plataformas virtuais que permitirão aos usuários interagirem socialmente ou no mundo do trabalho de forma mais imersiva, na criação de ferramentas virtuais e nas tecnologias dos avatares. Outro direcionamento das startups é a construção dos ambientes de serviços financeiros, para a troca de ativos, que permitam às pessoas, por exemplo, adquirir produtos nestes ambientes virtuais.
Criar uma versão mais digitalizada da vida está mais próxima da realidade do que nunca. Claro que precisamos entender os limites disso, mas, hoje, a tecnologia está disponível – o que não aconteceu no passado. A capacidade de processamento, armazenamento e uso inteligente dos dados cresce exponencialmente, as tecnologias como Realidade Virtual e Aumentada avançaram e, em breve, o 5G viabilizará conexões cada vez mais rápidas e baixas latências.
E, o mais importante, existe um amadurecimento e uma pré-disposição muito maior dos consumidores de estarem presente no mundo digital desde a aceleração criada pela pandemia da Covid-19. O exercício que podemos fazer é vislumbrar o quanto esses espaços virtuais poderão trazer de novas possibilidades para a forma como vemos o mundo hoje. Que atividades do nosso dia a dia serão transpostas para essa realidade virtual e, assim, criarão a oportunidade da construção de novos negócios?
Como empreendedores, investidores e empresários, precisamos nos antecipar para podermos entender como nos posicionarmos. E mesmo que o metaverso ainda leve cinco ou dez anos, esse novo mundo que está desenhado à nossa frente exige uma postura mais digital e, especialmente, um entendimento do que motiva esse novo consumidor.
O que faz uma pessoa pagar US$ 2,9 milhões pelo primeiro tweet feito pelo fundador do Twitter, Jack Dorsey? Ou comprar um meme, um tênis virtual da Gucci ou ainda investir US$ 500 mil no projeto 3D de uma casa? As transações de criptoarte, feitas via NFT – Non-Fungible Tokens, ou tecnologia de tokens não fungíveis, nem eram imaginadas até bem pouco tempo.
Um novo mundo está sendo construído, e ele passa pela capacidade de entregar melhores experiências para os consumidores no mundo físico e digital, sem esquecer, claro, da privacidade e segurança. O que será do metaverso ainda não sabemos, mas, uma coisa é certa: a evolução passa não pela tecnologia em sim, mas pelo que conseguiremos criar a partir dela.
Camila Farani é um dos “tubarões” do “Shark Tank Brasil”. É Top Voice no LinkedIn Brasil e a única mulher bicampeã premiada como Melhor Investidora-Anjo no Startup Awards 2016 e 2018. Sócia-fundadora da G2 Capital, uma butique de investimentos em empresas de tecnologia, as startups.
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.