O tênis faz parte da minha escola da vida. Ele me ensina muito dentro e fora das quadras.
Quando eu ganho, tenho a oportunidade de trabalhar melhor no dia seguinte. Quando perco, estou aprendendo para fazer de novo.
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Apesar de o tênis ser considerado um “esporte de elite” ou “de glamour”, ele tem uma realidade muito solitária. São basicamente oito ou nove meses do ano que você passa em hotéis de torneios, indo do clube para o hotel, do hotel para o clube e, consequentemente, abre mão de muitas coisas.
São datas fora de casa, como aniversários (fiquei oito anos sem passar meu aniversário com minha família, por exemplo). Passei por momentos difíceis ao longo da minha carreira. Foram lesões, cirurgias, uma suspensão que me afastou 13 meses da quadra, entre outros momentos de derrotas, distância da família, etc.
Mas sempre me inspirei nesses momentos. A palavra que levo comigo é resiliência.
Resiliência para começar de novo. Para tirar forças de dentro de mim. Para saber que teria que ter paciência, mas que isso me tornaria mais forte.
Sempre tive meus objetivos muito claros. Onde estou e onde quero estar. Sempre busquei e encontrei as pessoas certas para cada situação. Tenho uma família que é a base de tudo o que sou hoje. Desde os meus avós até minhas tias, primas, meus pais e minha irmã. Acho que nesses momentos difíceis, eles são a minha fonte de força maior.
Houve dias difíceis, mas tudo isso me inspirava. Me fazia olhar para a vida com outra perspectiva. Valorizar o privilégio que tenho de poder tentar mais uma vez. De levantar e buscar a minha melhor versão diariamente.
Na vida, muita gente não tem a opção de escolher ou a oportunidade de tentar. Esses momentos eram apenas mais degraus que me deixavam mais próxima dos meus objetivos.
Ano especial
Este ano de 2021 foi especial na minha carreira, o mais consistente e consciente. Comecei na 360ª posição do ranking mundial e cheguei à 80ª, conquistei cinco títulos, realizei cem jogos em um ano e terminei com 76 vitórias no circuito. Tive a minha maior vitória na carreira, contra Karolina Pliskova. Tudo isso representa muito para mim. Pois são muitos anos de entrega e um trabalho duro meu e de toda a minha equipe. Essas pequenas conquistas mostram que estamos no caminho certo, e nos dão confiança para seguirmos firmes.
Foi no final do ano passado que eu reencontrei o Rafael Pacciaroni, que é meu atual treinador. Ele foi a ponte entre mim e o projeto do Rede Tênis Brasil (RTB), onde estou inserida atualmente, e tem sido muito importante no meu dia a dia. Quando se fala em trabalho com jogador que viaja o circuito profissional, temos que levar em consideração o quanto se abre mão de tudo e o quanto é caro viabilizar isso, principalmente nas viagens.
Nosso objetivo desde o começo do ano era estar saudável, consciente e com o tênis pronto. E tudo isso – ter um técnico viajando comigo o ano todo – só foi possível com o projeto do RTB nos apoiando. Isso é muito raro de se encontrar hoje, e o Rafa tem sido uma peça fundamental nesse processo.
O RTB é um projeto fundamental para o tênis nacional. O Brasil é um país grande, e sabemos da dificuldade de unir e de ter um intercâmbio tanto de atletas como de treinadores.
Acredito que todos dentro do projeto têm um sonho em comum, de fazer a diferença através do tênis. Sempre acreditei que fosse essencial estar em um centro onde todos os jogadores e treinadores poderiam conviver e trocar experiências. Onde o ambiente competitivo estaria presente, onde crianças em formação teriam um contato mais próximo com os profissionais.
O objetivo é contribuir para a transformação do tênis brasileiro, para que possamos um dia nos tornar uma potência dentro do esporte.
A gente sabe das dificuldades de conseguir fazer um projeto grande como esse. Do custo, da dimensão e de quanto trabalho é necessário para isso acontecer. Mas vejo um projeto consolidado, que segue tentando melhorar ao longo de todos esses anos e, agora, mais do que nunca, está em sua melhor versão e força.
Vejo algo grande sendo construído e fico feliz por fazer parte do time. Vou seguir firme agora para a pré-temporada e buscando os meus objetivos para este ano, que são em curto prazo: permanecer na elite do tênis e estar presente consistentemente nos grandes torneios. E em médio e longo prazo aprender a superar o jogo interior e, consequentemente, ser uma campeã de WTAs.
Quer saber mais sobre o Rede Tênis Brasil? Acesse nosso site www.redetenisbrasil.com.br e nossas redes sociais @redetenisbrasil.
Quer fazer sua doação para o projeto? Acesse https://www.brazilfoundation.org/pt-br/fundoredetenisbrasil.
Beatriz Haddad Maia é atleta do Time RTB. Já chegou a ser a 58ª colocada no ranking mundial e, desde que retornou ao circuito após 13 meses de afastamento, em um ano já pulou praticamente da posição zero para a de número 80 no ranking da WTA.
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