O ano de 2021 foi memorável para o universo das startups e confirmou que o capital está aí para apoiar projetos com elevado potencial de crescimento, que possam rapidamente transformar-se em unicórnios. Nesta elite das startups, onde estão as empresas que valem mais de um US$ 1 bilhão, os números também impressionam, porque nunca existiram tantos e de ascensão tão rápida como hoje.
Só para se ter uma ideia, as startups brasileiras contrataram em 2021 mais de 100 mil pessoas, segundo o Relatório 2021 Wrapped Brazilian Startups elaborado pela plataforma Sling e lançado neste mês. De acordo com esse material, o ecossistema brasileiro de inovação nunca contou com tantos trabalhadores. Além disso, 2021 foi um ano histórico para o setor, com aumento de 200% no volume aportado nas startups brasileiras. Outro ponto é que o valor médio dos investimentos aumentou, partindo de US$ 5,5 milhões em 2020 para US$ 13,7 milhões em 2021.
Por trás desses números superlativos há outro fenômeno. Nunca antes os investidores foram tão generosos na avaliação das startups e esse momento positivo é bem fácil de ser explicado. No front dos investimentos, a diferença cambial entre o real e o dólar tornou o Brasil mais interessante para fundos globais, trazendo combustível para startups crescerem.
Um outro ponto que contribuiu para esse ciclo virtuoso foi a aproximação entre fundos de venture capital e private equity, que tradicionalmente faziam aportes em negócios de natureza distinta e em diferentes estágios de maturidade, e que recentemente têm operado de forma mais coordenada, preenchendo lacunas de investimento em rodadas de maior valor e favorecendo o crescimento das investidas de modo encadeado.
As restrições de investimento na China, que está fechando o cerco às empresas de internet, também têm feito muitos investidores internacionais olharem para outras regiões do mundo. E uma parte desse dinheiro tem como destino o Brasil e a América Latina.
É nesse contexto que vemos tantas empresas brasileiras virarem unicórnios. A startup unicórnio é um termo criado para se referir a um tipo específico de corporações jovens, com modelos repetíveis e escaláveis, avaliadas em mais de US$ 1 bilhão. Por conta da raridade, elas recebem o nome desse animal mítico. Porém, ao contrário de quando o termo foi usado pela primeira vez, hoje essa é uma definição cada vez mais usada, afinal, se tornou uma meta para os empresários.
Em seus primórdios, nos anos 70 e 80, as startups eram vistas como empreitadas de jovens nerds enriquecendo a partir de garagens do Vale do Silício. Esse tipo de empresa ganhou fama após a bolha das “ponto com”, nos anos 2000, quando o Google se consolidou, o Facebook surgiu e empresas como Uber e AirBnB definiram o conceito de disrupção.
No Brasil, o tipo de negócio ganhou tração da última década para cá. Aliás, nosso país ganhou 10 unicórnios em 2021 e há outras dezenas de candidatas a integrar o seleto grupo de startups bilionárias nos próximos anos (neste exato momento pode ter surgido mais uma!). É o recorde de criação desse tipo de negócio em um ano, acompanhando um volume também recorde de investimento. Já são 24 unicórnios ao todo desde a primeira startup bilionária brasileira lançada em 2018, o aplicativo de transporte 99. No ano passado, os unicórnios se espalharam pelos setores de e-commerce, mídia, fintech, segurança e logística. Devem chegar a 100 no ano de 2026, segundo a Associação Brasileira de Startups (Abstartups).
No mundo de hoje, os unicórnios representam mais do que um número bilionário. Eles representam uma filosofia, um espírito e um processo de construção focado na inovação. Uma ferramenta que agora faz parte do nosso dia a dia de uma forma muito mais acentuada. A todo instante temos contatos novos com diferentes formas de trabalhar, processos, tecnologias. Uma realidade que funcionava há seis ou oito meses, já mudou. Ao gerar soluções inovadores, a startup unicórnio ganha clientes das empresas incumbentes, antes acostumados com serviços e produtos ultrapassados.
Trabalhar com inovação tem correlação com aquela frase do Rocky Balboa, do filme do Stallone, de não ser sobre o quão forte você bate, mas o quão forte você consegue apanhar e seguir em frente. E o Brasil está se consolidando no Olimpo dessa vertente.
Filipe Sabará tem 38 anos, é empresário, filantropo e palestrante. É Fundador da ARCAH, Associação de Resgate à Cidadania por Amor à Humanidade, uma instituição sem fins lucrativos que promove o desenvolvimento social de pessoas em situação de vulnerabilidade
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.