Um dos melhores momentos do Brasil no tênis, com maior quantidade de jogadores entre os top 100 e 200, talvez tenha sido a década de 1990, quando havia muitos torneios realizados por aqui. Eram três ou quatro de nível ATP, 20 challengers (torneios medianos) e pelo menos três circuitos satélites, que depois foram substituídos pelos futures (torneios menores para os jogadores que estão na transição entre o juvenil e o profissional).
No final do ano passado tivemos uma boa sequência de challengers no Brasil e mais alguns no início do ano. Esse é o caminho, um calendário maior e mais consistente de torneios futures e challengers em casa. Em paralelo ainda temos o Rio Open, nosso carro-chefe, que representa a capacidade que temos de realizar grandes eventos e proporcionar aos brasileiros a oportunidade de jogarem um torneio ATP 500 e verem um tênis de alto nível, já que dele participam alguns dos melhores atletas do mundo. Sua dimensão, apelo e qualidade são enormes.
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Os torneios em casa também ajudam bastante na questão econômica. É muito mais acessível para os jogadores brasileiros fazerem um calendário adequado. Claro que é sempre importante jogar na Europa, “onde o tênis acontece”, como falamos.
Os Estados Unidos têm também seus momentos no ano, mas a condição de o tenista fazer cerca de 60% do calendário dentro do seu país é um diferencial muito importante, crucial, principalmente para os mais jovens, que estão buscando seu lugar ao sol e que na realidade de hoje sofrem muito financeiramente para bancar seus treinadores e equipe nas viagens internacionais. A gente enfrenta já há algum tempo um dólar alto, o que implica em passagens, refeições e hotéis caros.
Torneios dentro do país ainda proporcionam a integração do trabalho de treinadores, preparadores físicos e fisioterapeutas, gerando evolução na comunicação, nas ideias e relacionamentos. Com eles surge um ecossistema e um clima cada vez mais favorável a todo mundo. São parte essencial para qualquer país que tenha a ambição de desenvolver seu tênis em alto nível com consistência, e a motivação que os profissionais envolvidos têm de saber que estarão sempre presentes é insubstituível. Precisamos ter um olhar aguçado para essa construção de um calendário robusto no Brasil.
Um exemplo mais recente desta realidade é a Itália, onde há muitos torneios atualmente, de todos os níveis. Isso trouxe para o tênis italiano uma realidade completamente diferente do que há dez anos. Não é um efeito imediato, mas que em pouco tempo começa a trazer uma mudança muito importante. Outro exemplo interessante é Portugal, que está indo por esse caminho. Não tenho dúvida de que logo vão aparecer vários jogadores portugueses no Top 100.
Jogando dentro do próprio país, todos os atletas e equipes têm uma condição muito maior de aparecer para seus patrocinadores e apoiadores, potencializando ainda mais a vontade e a motivação das empresas a investirem na modalidade. A transmissão de torneios e as mídias sociais aceleram ainda mais esse processo.
A Confederação Brasileira de Tênis tem também um papel fundamental nesse trabalho e vem se empenhando. Sabemos das dificuldades que estamos passando por causa da pandemia, mas acho que, se tivermos um plano bem feito e uma demonstração de união do meio tenístico, teremos plenas condições de atrair patrocinadores, investidores e apoiadores para voltar a criar esse calendário robusto.
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João Zwetsch é diretor-técnico do RTB. Foi treinador de diversos tenistas profissionais brasileiros de destaque, como Thomaz Bellucci, Flavio Saretta, Ricardo Mello, Rogério Dutra Silva, Thiago Monteiro, dentre outros. Foi capitão da Copa Davis por oito anos e técnico da equipe brasileira nos Jogos Olímpicos de Londres-2012 e Rio de Janeiro-2016. É também head coach da academia Tennis Route e técnico do tenista Thiago Wild.
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