Para criar mudanças duradouras, devemos mudar a economia para criar resultados positivos. O atual sistema econômico global é autodestrutivo. De um lado, o governo tenta resolver os problemas tributando a todos, do outro, os investidores e as empresas se concentram apenas em ganhar mais dinheiro.
Até o momento, esse modelo não nos serviu bem. Basta que se veja o tamanho da nossa desigualdade social e ambiental. O investimento que gera impacto é a direção da nova agenda de desenvolvimento do planeta. Transforma o setor privado de poluidor e impulsionador da desigualdade em uma força poderosa para o bem. Otimizando o risco-retorno-impacto, empreendedores e empresas criam novos produtos e serviços que melhoram a vida das pessoas e das relações com seus territórios.
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Dada a escala dos desafios sociais e ambientais que se enfrenta hoje, o governo necessita que as empresas desempenhem um papel central no desenvolvimento de soluções inovadoras. É essa a direção para os investimentos de impacto, onde a decisão sobre consumo e capital fica baseada em risco-retorno-impacto.
A direção para o investimento de impacto real representa uma mudança fundamental na forma como nossa economia funciona – uma mudança de ver negócios e dinheiro como puramente sobre lucro para entender que eles são necessários para trazer as soluções do que precisamos. O setor privado fazendo a sua parte na criação de novas soluções, e os governos adotando novos caminhos para lidar com grandes problemas.
Pobreza, falta de educação, desemprego, envelhecimento da população e destruição ambiental são apenas alguns dos grandes desafios da atualidade. Apesar dos esforços, os governos não conseguiram encontrar soluções necessárias, principalmente porque o investimento é arriscado. O apetite pela inovação não está no DNA do governo. Agora, é importante e estratégico impulsionar o investimento de impacto.
Na direção do investimento de impacto, o momento se torna propício para a transição de uma economia linear para uma economia circular — uma economia que, em sua concepção, adota um modelo econômico de produção e consumo que elimina resíduos e poluição, circula produtos e materiais e regenera a natureza. Uma economia circular oferece um modelo para a criação de prosperidade econômica de longo prazo e contribui para diversos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
O papel do governo na criação de mudanças sistêmicas é crucial. No Brasil, há obstáculos. Basta ler o documento “Economia circular na América Latina e no Caribe: Uma Visão Compartilhada”.
Segundo Luisa Santiago, líder da Fundação Ellen MacArthur na América Latina, “…Atualmente, o governo brasileiro se distancia de uma tendência mundial e caminha na contramão de uma economia circular e da ideia mais ampla que ela propõe, que é a regeneração da natureza, a eliminação dos resíduos e da poluição a circulação de materiais e produtos e o consequente enfrentamento de desafios mundiais como as mudanças climáticas e perda da biodiversidade…”.
É oportuno registrar que a Fundação Ellen MacArthur é uma das lideranças da Coalizão de Economia Circular para a América Latina e o Caribe e que conta com 16 países membros, representados por seus governos, dispostos a cooperar em direção a um desenvolvimento econômico de baixo carbono. A má notícia é que o Brasil não é um deles.
A boa notícia é que no Brasil já existem evidências de uma atividade econômica inovadora e regenerativa com investimentos privados de impacto. A Natura Cosméticos e a Beraca, por exemplo, estão valorizando os nossos recursos naturais e contribuindo com a conservação dos biomas ao comercializar ativos da biodiversidade brasileira e manter um comércio justo com as comunidades locais.
Vale lembrar que o Grupo Balbo e a Rizoma Agro estão produzindo alimentos com práticas que regeneram a natureza em grande escala, mostrando que é possível produzir alimentos de qualidade e em grande quantidade favorecendo a natureza.
A Klabin criou novas práticas de produção que contribuem com a biodiversidade em vez de prejudicá-la.
Na moda, grandes varejistas já colocam no mercado produtos alinhados a uma economia circular, como é o caso das Lojas Renner, com uma grande gama de peças feitas de fios reciclados, movimentando toda a sua cadeia produtiva têxtil para torná-los possíveis.
A C&A oferece linha de produtos certificados Cradle to Cradle, que preservam o solo e a água em todo o seu ciclo de vida. Ambas as varejistas contam com sistema de logística reversa de roupas usadas para reuso e reciclagem em escala.
Nos eletrônicos, a marca HP e a fabricante Flex fundaram a Sinctronics, empresa para fazer logística reversa e reciclagem de equipamentos eletrônicos, mantendo-os em uso em novos produtos.
A ReUrbi vai além e remanufatura equipamentos eletrônicos recolocando-os no mercado em sua linha de produtos Remakker.
Exemplos desses negócios com investimentos de impacto permitem imaginar como é crucial o modelo da economia circular para o nosso Brasil — no qual os recursos naturais sejam usados e regenerados em vez de exauridos e no qual culturas tradicionais e modernas possam se unir para produzir benefícios sociais, econômicos e ambientais positivos para a natureza.
Haroldo Rodrigues é sócio-fundador da investidora in3 New B Capital S.A. Foi professor titular e diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Universidade de Fortaleza e presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Ceará.
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