O cenário brasileiro atual está longe de refletir a potencialidade do país. Temos recursos ambientais abundantes, território de proporções continentais, uma população ansiosa por mais e melhores oportunidades de educação, emprego, saúde e moradia, mas dificuldades históricas, agravadas pela pandemia, de virar o jogo. Nesse ambiente, organizações da sociedade civil vêm ganhando cada vez mais protagonismo: conseguem compensar, ao menos em parte, a capacidade reduzida do governo de atuar em políticas sociais e trazem soluções aos interessados em investimento social, sejam eles pessoas físicas ou organizações privadas, das quais se espera hoje plena adesão aos princípios do ESG (sigla em inglês para environmental, social and governance).
A atuação dessas instituições, no entanto, esbarra em um grande desafio: a sustentabilidade financeira. Por um lado, faltam incentivos à doação, grande impulsionadora dos projetos sociais. Por outro, não há uma cultura de doação bem estabelecida no país. Esse contexto faz com que as organizações tenham dificuldades em desenvolver um planejamento estratégico de médio e longo prazo – porque estão sempre focadas em garantir financeiramente sua existência e em realizar seus projetos – e também limita sua capacidade de inovação, tendo em vista que, para inovar, é preciso ter capacidade de investir em desenvolvimento e fortalecimento institucional, além de correr riscos.
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Iniciativas que contribuam para a sustentabilidade financeira das organizações, portanto, são fundamentais para garantir o desenvolvimento e o fortalecimento da sociedade civil. Os EUA resolveram bem essa questão há 20 anos, com os Fundos de Doações Direcionadas, os DAF, na sigla em inglês, que asseguram aos doadores atraentes incentivos fiscais. Por aqui, ainda se espera por uma legislação que ofereça mais incentivos às doações, mas a filantropia vem se sofisticando. Hoje, além de caritativa, com investimentos pontuais, é também estratégica, dada sua capacidade de fomentar investimentos de impacto, o que atrai o interesse de um público doador mais jovem e sensível à agenda ESG. Cresce também o empenho de organizações estruturadas, com expertise em aproximar recursos e causas, fazendo as doações chegarem a um número maior de beneficiados. Em consequência, ampliam-se também os modelos de financiamento das demandas sociais.
Um desses modelos são os Fundos Designados (FD) criados pela BrazilFoundation (BF), organização nascida há 22 anos, que tem um pé no Brasil e outro em Nova York e o propósito de mobilizar recursos para ideias e ações transformadoras. Entre os diferenciais desses fundos está o fato de beneficiarem não apenas a população brasileira ou de fora do país, com interesse em investimento social no Brasil, mas também de possibilitar acesso a outras formas de doação, como as fundações e os DAF.
Como o nome diz, um fundo designado recebe recursos de doadores engajados com a causa defendida pela instituição, que podem ser empregados de imediato ou aplicados e resgatados conforme a necessidade das instituições. As doações feitas por meio do fundo criado pela BF para o Rede Brasil Tênis (RTB), por exemplo, são destinadas diretamente à instituição, que os usa de maneira exemplar: além de capacitar crianças de quaisquer situações financeiras e geográficas para a prática de um esporte de acesso ainda limitado, estimulando valores como disciplina, resiliência, trabalho em equipe, o RTB leva seu engajamento para fora das quadras, com aulas de reforço escolar, aprendizado de inglês e inclusão digital. É um exemplo perfeito da parceria que transforma.
Rebecca Tavares é CEO da BrazilFoundation. Diplomata da ONU, profissional de desenvolvimento e filantropia, atuou como representante regional da ONU Mulheres na América Latina e no sul da Ásia por quase dez anos. Nascida na Califórnia, Rebecca se formou na Universidade de Yale e é Doutora em Educação pela Universidade de Harvard. Em 2019, recebeu o primeiro YaleWomen Impact Award.
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