Há um pouco mais de uma semana, Mariana Dias, se emocionou no estacionamento do Expo Center Norte, centro de exposições de São Paulo. No mesmo local, onde a CEO e cofundadora da Gupy viveu seu baile de formatura da faculdade há mais de duas décadas, aconteceu o HR4Results, uma das principais conferências de recursos humanos do país, que atraiu mais de 5 mil pessoas e foi realizada pela empresa que fundou. Algo assim teria sido quase impensável para a formanda do curso de administração da USP, hoje CEO da maior startup focada em recursos humanos do Brasil.
As coisas certamente mudaram para Dias nos últimos anos, e também para a empresa que fundou com Bruna Guimarães, Guilherme Dias e Robson Ventura, em 2015. Os últimos 12 meses foram particularmente significativos para a startup: neste período, a Gupy adquiriu três startups, sendo que uma delas, a Kenoby, era sua maior concorrente. Para isso, a empresa captou R$500 milhões em janeiro de 2022, em uma das poucas grandes rodadas que aconteceram no Brasil desde a desaceleração em investimentos de venture capital.
Apesar de não descartar mais M&As de empresas de RH em áreas como gestão de demissões ou mesmo tecnologia, a prioridade atual da Gupy tem sido “digerir” as aquisições feitas até agora. Além disso, a empresa também quer se firmar como um ecossistema de soluções para recursos humanos, com atuação em áreas como recrutamento, admissão, desenvolvimento e avaliação de performance. No HR4Results, o tema da inteligência artificial (IA) em HR foi recorrente nos diversos lançamentos anunciados. “O futuro do departamento de recursos humanos chegou: ele é tecnológico e vai se apoderar muito de inteligência artificial”, diz a fundadora, em entrevista à Rumo Futuro.
O posicionamento da fundadora reflete um amadurecimento no segmento de tecnologia para recursos humanos. O relatório Future of Work 2022, da IDC, previu que 60% das organizações globais devem implantar ferramentas de IA e aprendizado de máquina para gerir todo o ciclo de vida na empresa do funcionário. O estudo prevê que, até 2024, 80% das organizações globais usarão IA e ML para contratar, demitir e treinar colaboradores.
Administradora de empresas com um currículo que inclui experiências como executiva de HR em companhias como Unilever e Ambev, Dias percorre o mundo de olho em tendências em seu universo, e o que pode ajudar a startup a criar departamentos de recursos humanos mais modernos e ágeis nas empresas que atende. Entre tendências como a Grande Resignação e a Demissão Silenciosa, a fundadora tem pesquisado caminhos no futuro do trabalho e como empresas podem ajudar a contratar mais rápido, desenvolver colaboradores e promover retenção através de um maior engajamento, através de tecnologia.
“[A tecnologia] vai nos tornar mais humanos, mais justos, em aspectos desde a avaliação de desempenho até o desenvolvimento que as pessoas precisam. Muitas vezes, pessoas não são boas líderes não por falta de vontade, mas por não saber [como desenvolver equipes], algo que a tecnologia pode ajudar mostrando o que não está legal: a partir daí, é possível fazer algo para mudar. E o fazer é insubstituível”, diz a CEO.
Para responder às demandas de gestão de pessoas na era digital, a Gupy investiu R$8 milhões em tecnologia no último ano. Entre os 9 produtos lançados no HR4Results, está uma plataforma que cria soluções de micro-aprendizado em formato de jogo, específicas para as necessidades específicas do profissional. Outra novidade promete que o empregador saiba se o colaborador tem altas chances de pedir demissão, antes mesmo da pessoa considerar esta possibilidade. A ideia é que os dados consolidados das diversas plataformas gerem insights que ajudam empresas a gerir e desenvolver melhor suas forças de trabalho.
O uso de ferramentas de IA para automatizar e otimizar várias funções tem o potencial de revolucionar o setor de RH, que até pouco tempo atrás era pouco digitalizado, segundo Dias. Por outro lado, a fundadora alerta para a necessidade da implementação cuidadosa dessas tecnologias para evitar problemas como vieses.
“Empresas que planejam integrar a IA em suas operações de RH devem investir não apenas na própria tecnologia, mas também na criação de um setor ético para governar o uso da IA,” frisa Dias. Segundo a fundadora, este setor seria responsável por desenvolver estratégias para mitigar os riscos inerentes ao uso de inteligência artificial, e garantir que a tecnologia seja usada de forma responsável e eficaz.
Além disso, Dias reforça que uma abordagem ética à IA em RH envolve também a implementação de auditorias, e o desenvolvimento de uma metodologia robusta e garantir a explicabilidade das decisões da IA, algo que a Gupy afirma fazer para identificar vieses diretos e indiretos em seus algoritmos. “O uso futuro da tecnologia em RH será um equilíbrio entre o entusiasmo pelas possibilidades que ela oferece, e o investimento sábio para assegurar a implementação correta e ética”, conclui.
Em Rumo Futuro, Angelica Mari acompanha os movimentos e ideias de pessoas que protagonizam a inovação e o pensar futuros no Brasil e além. Para sugerir histórias e dar seu feedback, entre em contato.