A pandemia de Covid-19 que assolou o mundo nos últimos meses provocou uma série de mudanças na forma como nos comportamos, inclusive na maneira como fazemos compras. O isolamento social diminuiu nossas idas ao supermercado, à padaria e à feira, à medida que aumentou a demanda pelos serviços de delivery.
Prova disso são os números do mais recente relatório da Compre&Confie, empresa de inteligência de mercado com foco em e-commerce. No primeiro trimestre do ano, o varejo digital faturou R$ 20,4 bilhões – 26,7% mais do que no mesmo período do ano passado. A cifra é reflexo do aumento do volume de compras realizadas pela internet: 49,8 milhões, número 32,6% maior do que o do primeiro trimestre de 2019.
Apesar da alta, os consumidores estão gastando significativamente menos em suas compras online. De acordo com o estudo, o tíquete médio dos pedidos realizados no período foi de R$ 409,50 – valor 4,5% menor do que o registrado em 2019 –, um fator já relacionado à chegada do coronavírus ao Brasil e às mudanças estruturais no hábito dos consumidores, que cada vez mais optam por adquirir pela internet itens de necessidade básica, como produtos de supermercado.
Ainda nessa linha, outra tendência que vem sendo observada é a das lojas de conveniência. O Reino Unido, onde a modalidade estava praticamente esquecida, registrou aumento médio de 35% nas vendas, enquanto o tíquete médio cresceu 25% desde o dia 9 de março segundo o Retail Data Partnership. Agora, estratégias estão sendo definidas para que a modalidade mantenha esse novo impulso constatado nas últimas semanas também no pós-pandemia. Will Broome, fundador e CEO da Ubamarket, empresa de tecnologia para o varejo, acredita que as lojas de conveniência têm uma enorme oportunidade de desenvolver sua base de clientes e garantir o sucesso a longo prazo, especialmente se elas adotarem rapidamente ferramentas tecnológicas.
Por aqui, esse movimento indica já estar acontecendo, com a aceleração das lojas de conveniência autosserviço em condomínios residenciais. A Onii, que começou a oferecer a alternativa em meados do ano passado e concluiu seu teste piloto em dezembro, no Condomínio Village Damha 1, em São Carlos, interior de São Paulo, é um dos players deste segmento. Depois dessa primeira experiência, a empresa vai começar maio com 25 lojas em operação e uma fila de espera de 200 unidades.
“A proposta é levar o modelo de conveniência para dentro da casa do consumidor, mas de maneira autônoma e com acesso 24 horas, o que vem totalmente ao encontro do momento atual que estamos vivendo”, diz Ricardo Podval, cofundador da Onii ao lado de Victor Azouri Bermudes, Winston Ricetti e Conrado Rantin. “É a democratização da Amazon Go”, compara, referindo-se à iniciativa semelhante da gigante do varejo.
Na versão norte-americana, uma combinação de tecnologias – inteligência artificial, sensores e câmeras – é usada para identificar o que o consumidor está comprando, e cobrar apenas por isso, e evitar que produtos sejam levados sem cobrança. Na versão brasileira da Onii, o sistema é parecido. As pessoas baixam o aplicativo, fazem o cadastro e vão às compras. Para entrar na loja, um código de barras é gerado, de maneira que o sistema identifique o cliente. Uma vez lá dentro, é só escanear os produtos, dotados de QR Code, e pagar direto no app.
A estrutura física da loja de conveniência possui 20 metros quadrados de área de venda e o condomínio, de casas ou apartamentos, não precisa fazer nenhum investimento, nem acompanhar a operação no dia a dia. “Nós instalamos a loja e oferecemos toda a tecnologia por trás desse nível de automação. Somos responsáveis pelas compras, logística de reposição e controle financeiro. Em troca, o condomínio recebe um repasse de até 2% da receita”, conta Podval.
O projeto piloto revelou números que podem corroborar essa tendência. No residencial de São Carlos, com 240 casas, 200 pessoas baixaram o aplicativo em 10 dias. Em dezembro, a loja registrou um faturamento de R$ 5 mil. Atualmente, são R$ 30 mil, e a expectativa é chegar a R$ 50 mil em junho.
Podval explica que existem dois modelos de negócio. No primeiro, a administração fica toda por conta da Onii, que conta com uma pessoa para acompanhar algumas atividades da rotina da loja – podendo, inclusive, ser um morador do condomínio ou alguém da região. No segundo, essa pessoa pode atuar como um licenciado, sendo dono do negócio e usando toda a infraestrutura da empresa. “Neste caso, cobramos 10% do faturamento da loja”, explica o executivo, estimando que a margem de lucro pode variar entre 35% e 40% dependendo da região.
Todo o know how da operação passa pela tecnologia, que além de controlar os processos, usa a inteligência de dados para entender o comportamento de compras de cada loja e, assim, definir o mix de produtos, que pode variar imensamente entre regiões. “Esse nível de informação também nos permite aproximar a marca do consumidor por meio de ofertas totalmente direcionadas. Essa habilidade tem feito com que a indústria também olhe para este modelo de negócio com outros olhos”, diz Podval, que mantém conversas com empresas do porte de Ambev e BRF para o abastecimento das lojas.
A proposta de automatização do varejo passa, ainda, por dois aspectos comportamentais que devem sair fortalecidos pós-pandemia. Um deles é a humanização das compras, já que, além dos produtos tradicionais, como bebidas alcoólicas e refrigerantes, snacks, chocolates, congelados, itens de higiene pessoal e de limpeza, a iniciativa tem espaço para incluir, em seu portfólio, guloseimas artesanais, feitas pelos moradores dos condomínios, ou até o pãozinho da padaria do bairro, fortalecendo os pequenos comerciantes. A outra é a inclusão dos consumidores no chamado honest market, ou mercado honesto, em português. “É claro que existem mecanismos nas lojas para evitar fraudes, mas está na hora de mudar velhos hábitos”, diz o executivo.
Segundo Podval, a expectativa é terminar 2020 com 60 lojas instaladas, entre unidades próprias e licenciadas, e entre R$ 15 milhões e R$ 20 milhões de faturamento. Atualmente, já contam com a facilidade condomínios das incorporadoras e/ou administradoras MRV, Luggo, Bild, Tecnisa, BBZ, Village Damha, Empresta Capital e Alphaville no Estado de São Paulo. Nos próximos meses, Curitiba, Florianópolis, Recife, Fortaleza e Brasília também terão suas unidades. Entre junho e agosto, será aberta a primeira loja do tipo no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, e, até o fim do ano, em residenciais do Chile e da Argentina.
PIVOTANDO EM MEIO À CRISE
Quem segue caminho semelhante é a Numenu, que nasceu abastecendo com salgadinhos, chocolates, camisinhas e outros itens de conveniência os veículos de aplicativos. Com o isolamento social, a empresa viu o movimento gerado pelos seus 2 mil motoristas parceiros minguar. “Eu não podia deixar o negócio morrer”, diz Rafael Freitas, cofundador da empresa ao lado do sócio Sebastian Netto.
A Numenu então passou a empregar seu expertise e sua tecnologia em ruptura de estoque na operação de estantes que funcionam como mini mercados, também em condomínios residenciais, mantendo seu propósito de levar conveniência aos consumidores. O sistema é bem parecido com o da Onii, com algumas variações no modelo de negócio – não há, ainda, um sistema de franquia ou licenciamento e toda a compra é feita via site e não app. Nesse início, para validação, a empresa está focando em espaços residenciais de 150 a 300 unidades e média de 80 metros quadrados cada. Até agora, 20 condomínios na zona sul da capital paulista já contam com a novidade e a meta é chegar a 50 até o fim de maio. Cada um deles fatura, em média, R$ 3 mil.
“Os preços dos produtos ficam entre os praticados pelos supermercados e pelas lojas de conveniência tradicionais, ou seja, a margem de lucro é interessante”, diz Freitas, revelando que, neste momento, a indústria tem se mostrado uma forte apoiadora do canal de vendas, bonificando, inclusive, uma grande parte dos produtos disponíveis. “O interesse dela está no nosso potencial como ferramenta de marketing, já que somos capazes de fornecer dados qualitativos para suportar campanhas segmentadas e novas ativações”, diz o executivo.
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Organização de direitos humanos alerta para uso de aplicativos na pandemia
O Conselho da Europa, organização de defesa dos direitos humanos no velho continente, alertou sobre os possíveis efeitos colaterais do uso de aplicativos na prevenção da pandemia de Covid-19, como ferramentas que rastreiam possíveis contatos com infectados. Em uma declaração divulgada ontem (28), a presidente do comitê de proteção de dados, Alessandra Pierucci, e o comissário de proteção de dados, Jean-Philippe Walter, falaram sobre os aplicativos, que estão sendo introduzidos em países como o Reino Unido, e pediram a criação de medidas adequadas para evitar riscos aos dados pessoais e à privacidade dos cidadãos.
Governos e partes interessadas em controlar a pandemia têm usado análise de dados e tecnologias digitais, e os aplicativos têm sido considerados como uma resposta complementar à necessidade urgente de monitorar pessoas que tenham tido contato com o vírus. Mas o Conselho da Europa nota que, se tais soluções forem implementadas, isso deve acontecer somente por um tempo limitado e com adesão voluntária. A organização nota que considerações de privacidade devem estar no design destes sistemas para evitar ou minimizar riscos, impedindo que dados de localização dos indivíduos não sejam, por exemplo, usados e que nenhuma identificação direta seja possível.
Pandemia aumenta importância do debate sobre privacidade online
Embora as políticas de privacidade do aplicativo de videoconferência Zoom e o fato de meio milhão de contas terem ido parar na dark web tenham colocado a empresa sob os holofotes, a discussão sobre privacidade online não deve ser simplificada. A conclusão de um relatório da empresa de análise GlobalData veio acompanhada de uma constatação: as pessoas se acostumaram a abrir mão de sua privacidade em nome da conveniência e isso precisa mudar.
Para evitar o ciclo contínuo de escândalos de privacidade de dados, essa troca onde a conveniência é alcançada através do sacrifício da privacidade deve terminar, segundo a empresa, que argumenta que isso só deve ocorrer com regulamentação, ou com uma conscientização de consumidores sobre a sua responsabilidade em proteger seus próprios dados.
“Durante anos, a conveniência superou as preocupações com a privacidade. O [distanciamento social] trazido pela Covid-19 levou algumas empresas de tecnologia desconhecidas, como a Zoom, a se tornarem centrais na vida cotidiana”, aponta a analista. “As pessoas colocam sua segurança em risco para continuar trabalhando e se comunicando com outras pessoas.”
A Zoom anunciou um plano de 90 dias para melhorar suas medidas de segurança, e seu CEO, Eric Yuan (foto), tem feito webinars semanais sobre as últimas novidades da empresa no quesito privacidade. A GlobalData diz que as iniciativas são positivas, mas reitera o ponto de que a mudança começa pelos consumidores, que devem tomar medidas para proteger sua própria privacidade.
LEIA MAIS: O que acontece com a privacidade em tempos de pandemia
Chevrolet turbina transformação digital e lança compra online
A Chevrolet digitalizou seu processo de venda de automóveis como resposta à pandemia. A montadora lançou no Brasil uma plataforma com o nome original de Operação Virtual Chevrolet, que engloba vendas de mais de 500 concessionárias da marca. A opção de compra online está disponível tanto nas concessionárias fechadas por conta de orientações de quarentena, quanto nas lojas que seguem operando normalmente.
O processo começa com um tour virtual e segue para uma fase de contato remoto com vendedores, incluindo a possibilidade de avaliação remota de veículos. Há também a opção de um delivery de carros teste, onde o carro é levado até o cliente interessado, além de opções de financiamento. Segundo a empresa de pesquisa Ipsos, consumidores buscarão adquirir carros particulares no pós-pandemia: a intenção de compra de um carro próprio antes da crise de saúde pública era de 34% e passou para 66% depois do alastramento global do vírus.
LEIA MAIS: Pesquisa revela os setores que estão se dando bem na crise causada pela pandemia
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Plataforma abre acesso a cientistas e pesquisadores de Covid-19
A Elsevier, empresa global de informação analítica que ajuda instituições e profissionais a progredir na ciência e cuidados avançados com saúde e melhorar a performance para benefício da humanidade, disponibilizou recursos de pesquisa gratuitos para combater a pandemia de Covid-19, como o Centro de Informações do Coronavírus e o Clinical Skills Online.
Para isso, a companhia criou o Hub Centro de Saúde Covid-19, que oferece suporte aos profissionais de atendimento e facilita o acesso aos conteúdos científicos. “O site é fácil de navegar e trabalharemos nas próximas semanas para continuar seu aprimoramento. Planejamos desenvolver versões multilíngues e adicionar uma função para que os usuários possam receber um alerta sempre que o conteúdo for atualizado”, conta John Danaher, presidente global de Clinical Solutions da Elsevier.
Na plataforma, as informações são disponibilizadas por categorias, como “Cuidados Comunitários”, que oferece recursos para ajudar o profissional a gerenciar pacientes em casa, por telefone ou telemedicina, e “Cuidado de Emergência”, com diretrizes clínicas, monografias de medicamentos e planos de assistência para serem realizados nos hospitais.
Há, ainda, uma série de podcasts, que trazem informações especializadas sobre tópicos críticos da pandemia em evolução, incluindo ciência, tecnologia e resposta a crises. Já a seção “Diretrizes Covid-19” reúne orientação clínica das autoridades de saúde de todo o mundo sobre diagnóstico e tratamento. Todos os cientistas e profissionais da saúde podem acessar a plataforma.
– A fintech Stone e a escola de programação Codenation estão oferecendo 150 bolsas para um programa de capacitação gratuito nas linguagens C# e Python. Inscrições para o programa de 10 semanas estão abertas até 4 de maio;
– A empresa de educação digital DOT digital group e a brasileira TIVIT se uniram para oferecer a 2 mil profissionais de TI o acesso gratuito a cursos online. A ação tem como objetivo atender a um antigo gargalo do mercado: a falta de profissionais especializados em tecnologia. No início deste ano, pesquisa da Brasscom mostrou que, para atingir a meta de dobrar o setor de software e serviços em seis anos no país, 70 mil profissionais serão demandados anualmente até 2024. É necessário fazer inscrição.
Amanhã (30), às 17h, a Brasscom – Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação promoverá uma live para discutir a retomada da economia pós-pandemia do coronavírus. Entre os convidados, estará o CEO da BRQ Digital Solutions, Benjamin Quadros, Laércio Consentino, presidente do conselho da TOTVS, e Luiz Mattar, presidente da TIVIT. A mediação ficará a cargo do presidente executivo da entidade, Sérgio Paulo Gallindo. O objetivo é propor políticas públicas e ações de responsabilidade social que reduzam o impacto à população, além de levantar aplicações com uso de tecnologias para enfrentar crises epidemiológicas;
No dia 30 de maio será realizada a sexta edição do Startup Day, evento do Sebrae que, pela primeira vez, será totalmente online e simultâneo em todos os estados do país. A iniciativa tem como objetivo facilitar a troca de experiências e a realização de negócios. “O Startup Day é uma oportunidade de fortalecer o ecossistema de startups, para ajudar não só a superar a crise causada pelo coronavírus como também a enfrentar o mundo pós pandemia”, explica a analista de inovação do Sebrae, Cristina Mieko. Serão 5 mil vagas para participação em um ambiente virtual específico, mas todo o evento será transmitido ao vivo por meio do site do Sebrae.
– O Instituto Votorantim e a Beneficência Portuguesa de São Paulo estão desenvolvendo projetos de inovação para o enfrentamento à Covid-19. A iniciativa, liderada em parceria com o programa Mining Lab, de inovação em mineração e metalurgia, tem duas frentes: o apoio a pequenos municípios na crise de saúde pública e a preservação dos profissionais de saúde que atuam no atendimento à população. O programa, que será realizado online e tem o apoio da empresa de aceleração de negócios corporativos Neo Ventures, receberá ideias de projetos escaláveis e de implantação imediata até 8 de maio, no site da Mining Lab;
– A startup de entregas Rappi se uniu ao Instagram para viabilizar a possibilidade de fazer pedidos online através do Stories da rede social. Restaurantes parceiros com conta comercial podem adicionar o novo adesivo “pedir uma refeição” ao seu conteúdo efêmero, que direciona usuários para o app de entregas. O recurso foi lançado nos Estados Unidos e Canadá e começou a funcionar na América Latina no dia 24 deste mês;
– Nesta semana, a IBM assinou o Open COVID Pledge, concedendo acesso gratuito ao portfólio de patentes da empresa àqueles que desenvolvem tecnologias para ajudar a diagnosticar, prevenir, conter ou tratar a Covid-19. A participação cobre milhares de patentes de inteligência artificial da companhia, incluindo patentes da tecnologia Watson, além de mais de 900 patentes ativas dos Estados Unidos na área geral de vírus biológicos;
– O Cartão Carrefour passou a permitir, para 100% da sua base de clientes, a realização de alguns serviços por meio do WhatsApp. Pelo aplicativo de mensagens é possível consultar a fatura fechada, o código de barras para pagamento, acompanhar lançamentos, consultar limites e o melhor dia de compra. O acesso é feito por meio da assistente virtual para os clientes do cartão, a Carina, e o serviço vale para aqueles que têm o número do celular cadastrado no Cartão Carrefour. Quem não tem, deve acessar um terminal de autosserviço em alguma das lojas para fazer o cadastro;
– A Mobbuy, plataforma de pagamentos móveis baseada em smartphones, acaba de anunciar sua fusão com a área de processamento de subadquirentes da Infocards. Com a fusão, nasce uma nova Mobbuy, agora com capacidade de atender o mercado desde a captura de transações até o processamento de pagamentos, atendendo seus clientes com mais rapidez e segurança. De acordo com os sócios da nova empresa, Luciano Barbezani e Marco Antonio José, as soluções das duas companhias que agora unem operações são absolutamente complementares, o que deve ampliar em muito a atuação da companhia, que continuará com o mesmo nome.
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