Para muitos brasileiros, o trabalho remoto tem sido uma realidade já há algum tempo, bem antes do isolamento social decretado para conter a pandemia de Covid-19. E, entre eles, há aqueles que, de suas casas, prestam serviço para companhias internacionais e recebem, principalmente, em dólar e euro.
Embora não exista um levantamento oficial capaz de apontar o número de profissionais nessas condições no país, a Husky, startup que desenvolveu um aplicativo para facilitar a transferência de dinheiro entre países do exterior e o Brasil, realizou uma pesquisa entre novembro de 2019 e março deste ano para identificar essa população. Dos entrevistados, 51,7% trabalham para empresas no exterior e 48,3% para empresas localizadas no Brasil. O que se sabe, de acordo com um levantamento da Global Workplace Analytics do início de 2020, é que a quantidade de pessoas que trabalha remotamente no mundo cresceu 140% desde 2005.
Por aqui, a pesquisa descobriu que a maioria – 54,4% – é formada por desenvolvedores de software, seguidos por empreendedores (9,5%), profissionais de marketing (9,2%), de vendas (4,6%), influencers/gamers (0,6%) e outros (21,7%). Do total, 79% prestam serviço para uma única empresa, enquanto 13,6% trabalham para de duas a quatro companhias com jornadas parciais, freelancers ou consultoria, e 7,4% atuam para várias empresas. “Em 2012, o setor de tecnologia não estava nem no Top 3. Em oito anos, o cenário é completamente diferente”, diz Maurício Carvalho, CTO e cofundador da Husky.
Os dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) sobre o volume de dinheiro movimentado por cada setor dentro de um regime de exportação e importação de serviços corroboram essa realidade e mostram que os gastos com TI são praticamente o dobro do que com gestão/consultoria, a segunda colocada:
No que diz respeito à faixa etária, 44,8% dos entrevistados pela pesquisa têm entre 30 e 40 anos, 40% entre 18 e 29, 11,6% entre 41 e 50, e 3,6% estão acima dos 51 anos. A grande maioria – 77,4% – é formada por homens. A explicação provável para essa diferença entre homens e mulheres é o fato de o setor de tecnologia ser o principal recrutador – segundo o IBGE, em 2018 apenas 20% das vagas do setor eram dedicadas às profissionais do sexo feminino.
Entre os fatores que contam a favor da contratação de mão de obra brasileira está a diferença de câmbio, que torna a remuneração dos nossos profissionais altamente atrativa para empresas localizadas no exterior. Os Estados Unidos são, de longe, o país que mais contrata brasileiros. Na sequência, estão Colômbia , em função das políticas de incentivo e exportação, Holanda, Alemanha, Suíça, Reino Unido, Chile, Canadá, Irlanda, Argentina e Japão. A renda gerada pela prestação de serviços para o exterior de forma remota em 2018 foi de US$ 5,8 bilhões, montante US$ 420 milhões maior do que em 2017.
ROTINA
A pesquisa da Husky, que contou com a colaboração das empresas remotebox e BeerorCoffee, revelou que 31,2% dos entrevistados não têm um escritório para onde ir, enquanto 20,1% afirmam que, apesar de possuírem um espaço físico, não têm necessidade de comparecer. Apenas 21,2% dos entrevistados trabalham remotamente de escritórios físicos todos os dias.
Outra coisa que a pesquisa identificou é que 69,5% dos participantes já trabalham remotamente há, pelo menos, três anos, e 76,8% delas consideram a mudança para esse formato positiva. Entre as vantagens apontadas por 68,5% dos entrevistados está a melhora na qualidade de vida, provocada principalmente pela ausência de locomoção e, consequentemente, de trânsito, mais horas de sono com aumento da produtividade e mais tempo disponível para atividades prazerosas. A liberdade de horários é outro fator apontado por 59,7% dos entrevistados como um dos principais benefícios do trabalho remoto. Maior liberdade para a execução do trabalho (52,7%), melhor remuneração (46,3%), possibilidade de viajar (25,1%), oportunidade de trabalhar com tecnologias, processos e empresas mais avançadas (19,9%) e saudabilidade (9,6%) também foram fatores citados.
Tiago Santos, CEO da empresa, diz que o número está de acordo com uma pesquisa feita pela Flexjobs sobre os millenials. “Cerca de 85% dos representantes dessa geração almejam um trabalho 100% remoto. O nomadismo digital ganha força entre essa população graças à capacidade de juntar trabalho, turismo e conectividade”, diz.
REMUNERAÇÃO
De acordo com o levantamento, 46,3% dos profissionais afirmaram encontrar no trabalho remoto o benefício de uma melhor remuneração. Apenas 0,5% ganham mais de R$ 50 mil por mês, mas uma parcela grande – 38,5% – ganham entre R$ 10 mil e R$ 50 mil, que, segundo um estudo da Nexo, é uma renda maior do que a conseguida por 98% da população brasileira.
No caso dos desenvolvedores de software, a média salarial é de R$ 14.439 por mês, valor que perde apenas para os profissionais especializados em auditoria e compliance (R$ 17.500). Santos explica que isso reflete a tendência de as empresas estrangeiras procurarem profissionais brasileiros para funções ligadas à tecnologia da informação, com remuneração em dólar ou euro. “Existe uma competição global pelos talentos brasileiros.”
Já os especialistas em gestão são capazes de ganhar, em média, R$ 13.937, enquanto os engenheiros beiram os R$ 12.500. O Top 5 fica completo com os empreendedores, parcela dos trabalhadores remotos que ganham cerca de R$ 10.937. A menor remuneração é destinada aos contadores – R$ 1.000 por mês.
Por fim, a pesquisa mostra o perfil das empresas que estão contratando nesse modelo. Grande parte delas – 61,3% – é formada, atualmente, por negócios com menos de 20 colaboradores, uma inversão na curva de alguns anos atrás, quando só as grandes corporações adotavam esse modelo. Apenas 5,6% das big companies com mais de 1.000 funcionários contratam colaboradores para atuação remota.
“A pandemia está mostrando que o trabalho remoto é possível. As taxas de crescimento desse modelo estavam aumentando e, a partir dessa crise, devem aumentar muito mais. Existem desafios e adaptações. Para os colaboradores, que muitas vezes não conseguem se organizar e acabam trabalhando muito mais. E para as empresas, que precisam entender que, assim como no espaço físico, horários e determinados protocolos precisam ser respeitados. Mas a produtividade tende a ser cada vez mais reconhecida, o que, consequentemente, vai impulsionar algo que já é tendência”, diz Maurício Carvalho, lembrando que essa é uma alternativa não apenas para vender serviços daqui para o exterior, mas também para comprar. “O trabalho remoto permite obter o melhor profissional que você pode pagar, independentemente do lugar onde ele esteja”, finaliza.
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Estudo detalha custo de incidentes de privacidade de dados
Plataformas de mídias sociais podem perder uma média de US$ 12,8 bilhões no caso de grandes incidentes de privacidade de dados. O valor é um alerta a tomadores de decisão de empresas menores sobre o impacto financeiro de cyber ataques bem-sucedidos, segundo um novo estudo.
O levantamento, publicado pela empresa de computação de nuvem iomart, analisa os desdobramentos de violações de dados consideradas típicas, graves e catastróficas, para determinar quanto cada tipo de incidente custaria a cada uma das principais plataformas de mídias sociais.
A perda típica de dados em uma grande empresa é entre 10 e 99 milhões de registros por incidente, resultando em uma queda média do valor da empresa de 7,27%. Segundo o relatório, isso equivale a uma perda potencial média de US$ 32 bilhões para as principais empresas da Nasdaq 100 e de US$ 8,8 bilhões para as empresas do FTSE 100.
Considerando a análise de violações anteriores, o estudo detalha que as plataformas de mídias sociais geralmente sofrem perdas de dados do tipo grave, que excedem 200 milhões de registros por incidente. Para uma violação deste tipo, o custo é equivalente a 8,8% do valor de mercado da plataforma.
Se, por exemplo, o Facebook sofrer uma grave violação de dados, isso poderia impactar até 2,5 bilhões de usuários e resultar em uma perda de valor de mercado de até US$ 18,6 bilhões, enquanto o Twitter perderia US$ 7,85 bilhões, segundo o estudo.
O relatório acrescenta que se essas violações das mídias sociais infringissem as diretrizes da Lei Geral de Proteção de Dados (GDPR, na sigla em inglês) e incorressem na multa máxima de 4% do faturamento anual global de uma empresa estabelecida pelas regras, o Facebook perderia mais US$ 2,8 bilhões e o Twitter outros US$ 138 milhões, resultando em um custo total de violação de US$ 21,4 bilhões e US$ 928 milhões, respectivamente.
Na análise de como violações de dados podem afetar as principais empresas de tecnologia do mundo, a Apple tem mais a perder, segundo o estudo, com uma queda de valor de mercado estimada em US$ 95,7 bilhões após uma violação típica, enquanto a Microsoft pode perder US$ 81,5 bilhões e a Amazon US$ 68,7 bilhões.
As multas caras impostas pela lei de proteção de dados e o aumento previsto de incidentes fazem com que o investimento em proteção de dados seja ainda mais importante, principalmente quando se trata de empresas menores, que não tem como suportar uma perda de até 10% do seu valor de mercado.
Estas empresas menores não sobreviveriam aos efeitos operacionais de um ataque cibernético bem-sucedido, e o impacto financeiro de uma grande multa seria a gota d’água, diz Bill Strain, diretor de tecnologia da iomart. “A maioria dos ataques cibernéticos começa explorando vulnerabilidades humanas”, aponta. O especialista acrescenta que treinar a equipe para identificar e-mails ou links suspeitos é uma das formas de “trancar a porta da frente” quando o assunto é minimizar a chance de que estes desastres aconteçam.
O Brasil está na lista dos países que mais têm registrado ciberataques relacionados à crise do novo coronavírus. Segundo pesquisa da Trend Micro, mais de 22,7 mil URLs de endereços de web maliciosos que tinham relação com a Covid-19 foram registrados durante o primeiro trimestre do ano.
Em 2019, o mercado de segurança brasileiro teve uma alta em vendas de 3%, por conta da Lei Geral de Proteção de Dados, que estabelece as normas de uso e armazenamento de dados digitais no Brasil e seria implementada em agosto deste ano. No entanto, a medida provisória 959, assinada no mês passado, permite que organizações só se enquadrem somente a partir de 3 de maio de 2021.
Quase 30 entidades ligadas ao varejo se uniram para desenvolver uma plataforma online de geração de empregos no setor. Com a iniciativa, intitulada Vagas no Varejo, o segmento espera minimizar os impactos provocados pelo novo coronavírus ao garantir a recolocação de profissionais no mercado de trabalho. O aplicativo estará disponível em todas as plataformas móveis. Após criar a conta, o profissional precisa somente destacar sua área de atuação, experiências anteriores e disponibilidade de horários, podendo também inserir seu currículo. As entrevistas e avaliações serão realizadas online. As empresas interessadas em recrutar profissionais também terão uma área exclusiva no portal , na qual poderão cadastrar suas oportunidades.
A associação de e-commerce Camara-e.net promove ciclo de palestras gratuitas e online para empreendedores digitais, no dia 28 de maio. Durante a iniciativa, chamada de Ciclo MPE, participantes serão conduzidos por todos os passos de como planejar, montar e operar uma loja virtual, e como administrar aspectos como infraestrutura, gestão de crise, operação e marketing. Será possível tirar dúvidas com os especialistas e receber mentoria em tempo real. É necessário fazer inscrição .
MAIS:
– A Uber anunciou hoje (11) no Brasil a categoria Uber Flash. A partir de agora, os usuários poderão solicitar viagens da categoria para enviar itens e artigos pessoais para seus amigos e familiares sem sair de casa. Inicialmente, a categoria estará disponível em cinco regiões – São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e Salvador -, pelo mesmo preço do UberX;
– O GetNinjas, aplicativo de contratação de serviços, lançou o serviço de teletriagem com médicos preparados para dar orientações sobre o novo coronavírus. A iniciativa vai ao encontro à aprovação realizada pela Câmara dos Deputados da PL 696/20, que regulamenta o uso da chamada telemedicina, em caráter emergencial, para auxílio durante a crise gerada pela pandemia. As consultas de teletriagem oferecidas pela plataforma possibilitam que pacientes tenham suporte diagnóstico com médicos de maneira remota, com um atendimento prévio durante a quarentena para orientação em relação aos sintomas relacionados à Covid-19. Esse atendimento preliminar pode, portanto, auxiliar e evitar que as pessoas se dirijam aos hospitais sem real necessidade, proporcionando um possível alívio na sobrecarga dos centros de saúde, assim como, evitando que os pacientes se exponham ao vírus.
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