Há pouco mais de 10 dias, Cristina Junqueira voltou à linha de frente do Nubank. Com o fim da licença da pequena Bella, a executiva, que também é mãe de Alice, de cinco anos, está vivendo algo totalmente inusitado, difícil, inclusive, de comparar com a sua estreia no mundo da maternidade.
Por causa da pandemia, que fechou escolas e berçários, a logística imaginada pela executiva – e adotada com a primeira filha – mostrou-se inviável. Por outro lado, ela conta, agora, com uma ajuda extra de peso: a sogra que, por viver em Santos, no litoral sul de São Paulo, está quarentenada na casa da família. “Foi o que me salvou, porque ela fica com a Bella a maior parte do dia”, diz.
Para dar conta de tudo, ela revela que evita marcar reuniões online muito cedo, assim garante algum tempo com as meninas e encaminha o dia delas. Feito isso, segue trabalhando direto até 18h30 ou 19h, quando faz novo intervalo para cumprir a rotina de banho, mamada e sono da pequena. “Dependendo do dia, eu volto a trabalhar. Mas, se não tem nada muito urgente, eu deixo para o dia seguinte e passo algum tempo com a Alice”, conta a executiva, que já introduziu a mamadeira na vida da Bella, que, aos quatro meses, usa roupas de nove.
Mas as diferenças não são ocasionadas apenas pela pandemia. Muitas delas estão diretamente relacionadas ao momento da empresa. Quando Cristina engravidou da primeira vez, o Nubank era um recém-nascido. “Eu e 30 homens estávamos alocados numa casinha, com apenas dois banheiros. Eu pegava o carro e ia até minha casa quando precisava usar o toalete”, ri, dizendo que não era justo dividir os banheiros entre feminino e masculino já que ela era a única mulher da empresa.
“Aos nove meses, eu trabalhava sentada num banquinho de plástico com o computador plugado na tomada do microondas, na cozinha, porque os lugares melhores eram para os desenvolvedores, que corriam contra o tempo pra lançar a plataforma. Agora, na gravidez da Bella, até secretária eu tinha. É outra estrutura.”
A executiva reconhece, também, que ela era uma pessoa diferente, menos experiente no assunto, claro, e totalmente envolvida numa empresa que estava começando. “Eu praticamente fingi que não estava grávida. Agora, mais vivida e com o banco em outro momento, eu colocava o pé pra cima se fosse necessário”, conta. “Além disso, eu não tive licença da primeira vez. Dei à luz numa quarta-feira e, no segunda-feira seguinte, estava trabalhando. Dessa vez, eu fiquei seis semanas totalmente focada na família, até que a pandemia chegou”, lembra.
Como qualquer situação emergencial, as decisões eram todas de extrema importância e ficou difícil não se envolver. “Foi inevitável participar de algumas reuniões do comitê de crise, além de ter que acompanhar o que estava acontecendo nos outros países do mundo. A diferença é que não senti a transição para a quarentena como a maioria das pessoas porque eu já estava isolada”, diz, contando que, ainda hoje, sente-se confortável, já que sua personalidade é de alguém que curte ficar em casa. “Acabei passando um mês no interior de São Paulo, em uma casa alugada, por causa da Alice. Mas agora, de volta, ela anda até de bicicleta no apartamento.”
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Cristina lembra, no entanto, que nem tudo foi tão simples como parece. No início da pandemia, por exemplo, foi necessário entender o impacto que a crise poderia ter sobre os clientes do Nubank e como apoiá-los. “Esse foi o processo mais difícil. Tivemos que agir como no avião: colocar a máscara primeiro em nós para depois colocá-la nos demais passageiros. Precisávamos cuidar da saúde do nosso time para, só então, poder ajudar os clientes. Por isso colocamos todo mundo em home office praticamente de um dia pro outro. Foram mais de 1.300 cadeiras para a casa dos colaboradores.”
Depois foi a vez de entender qual era a real situação financeira do banco. Segundo Cristina, a captação feita em 2019 – US$ 400 milhões, em julho, do fundo norte-americano TCV, além de Tencent, Sequoia Capital, Dragoneer, Ribbit, Thrive Capital e DST Global, – estava intacta. “Além disso, já estávamos gerando caixa operacional há mais de dois anos”, diz.
A partir daí, o banco tomou uma série de medidas para que seus clientes continuassem operando, como a criação de um fundo de apoio de R$ 20 milhões, da oportunidade de faturamento parcelado com taxas menores do que as de crédito consignado e o desenvolvimento de um produto de financiamento de dívida com carências de até dois meses. “Tudo isso não foi fácil, porque algumas dessas iniciativas dependiam de alterações na plataforma. Até colocar tudo isso na rua foi um período turbulento”, lembra.
Cristina diz, no entanto, de que não tem dúvidas de que a empresa vai sair dessa crise muito mais forte. Segundo ela, a operação, no geral, ganhou mais foco, mais eficiência e a certeza de que pode operar de forma remota, o que significa, entre outras coisas, poder contar com talentos onde quer que eles estejam. “Também desenvolvemos, muito rapidamente, um sistema de monitoramento diário de métricas, coisa que, até então, fazíamos em intervalos maiores. Isso vai nos ajudar a identificar problemas e oportunidades com muito mais velocidade e, consequentemente, tomar decisões de maneira mais ágil. Tudo isso, aliado à aceleração da transformação digital que estamos presenciando, só nos beneficia”, diz.
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A cofundadora do Nubank conta, ainda, que aproveitou a distância da operação do dia a dia para analisar alguns aspectos da companhia de uma maneira mais macro e que está, neste momento, promovendo alterações nos times para cumprir três principais objetivos até o final do ano. Um deles é sobreviver à tempestade, ou seja, garantir liquidez e capital, ter a inadimplência no foco e controlar os principais fatores que envolvem uma instituição do mercado financeiro.
O segundo é se posicionar de forma contundente no que diz respeito ao atendimento dos clientes. “Nós sempre acreditamos nisso. Mas, num momento sensível como o que estamos vivendo, isso é ainda mais importante. Todas as equipes do banco, cada uma sob a sua ótica, estão elaborando maneiras de fazer mais pelos nossos clientes. Um exemplo disso foi a inclusão de supermercados e farmácias nos nossos programas de resgate de pontos. São coisas que as pessoas estão precisando muito, gêneros de primeira necessidade.”
Por fim, a executiva menciona a aceleração da retomada e o foco nas oportunidades que tendem a surgir nos próximos meses. “Está todo mundo empenhado em definir maneiras de voltar para um negócio que tinha uma trajetória grande de crescimento”, diz.
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