Se existe uma área das grandes corporações em transformação nos últimos anos essa área é a de recursos humanos. Mais do que o tradicional pacote de benefícios, as empresas têm investido na relação com os colaboradores como estratégia para produzir mais e melhor, contratar e reter talentos e disseminar sua cultura interna e externamente.
Esse movimento tem provocado outras ondas. Boa parte das startups, de qualquer que seja o segmento, já nasce com essa mentalidade. Além disso, novas empresas do setor que usam a tecnologia, as chamadas HR Techs, estão ganhando espaço ao ajudar as companhias mais tradicionais nessa transição. Essas startups apresentam soluções para diferentes tipos de problemas, promovendo uma evolução na maneira como empresas e colaboradores se relacionam e trazendo gestão, eficiência e qualidade de vida para todos os envolvidos. Segundo um relatório produzido pelo centro de inovação Distrito ao qual a Forbes teve acesso com exclusividade, o Brasil já conta, hoje, com 373 startups voltadas para a área de recursos humanos. Do total, 85,2% surgiram há menos de 10 anos.
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“As HR Techs vêm acelerando as transformações no departamento de empresas, tomando como fim a preparação, o cuidado e a gestão dos times de uma companhia como diferenciais competitivos”, pontua Tiago Ávila, líder do Distrito Dataminer, braço do Distrito responsável pela elaboração de estudos do universo de startups.
Batizado de “Distrito HR Tech Report”, o documento, em sua primeira edição, dividiu as HR Techs em seis segmentos: Desenvolvimento e Gerenciamento de Talentos, que concentra a maioria delas, ou 42,9%); Recrutamento e Seleção (28,2%); HR Core (25,5%), Office Services (1,9%); HRMS (1,3%); e Offboarding (0,3%).
Para chegar a elas, a equipe de pesquisa examinou individualmente cada uma, levando em conta critérios como ter a inovação no centro do negócio, seja na base tecnológica, no modelo do business ou na proposta de valor, estar em atividade no momento da realização do estudo, desempenhar atividade diretamente relacionada ao setor e ser brasileira e operar em território brasileiro. Além dos resultados quantitativos, o estudo também usou um algoritmo de scoring que leva em conta o número de funcionários e/ou o crescimento da empresa no último ano, faturamento presumido, investimento captado, acessos no site e métricas nas redes sociais para elaborar um Top 10.
A categoria mais expressiva, Desenvolvimento e Gerenciamento de Talentos, contemplou as empresas que contribuem para a evolução dos colaboradores, promovendo resultados e bem estar. Das 160 representantes, duas entraram no Top 10: a Gympass, que provocou uma revolução na maneira como os colaboradores se relacionam com atividades físicas e de bem-estar, e a Sólides, plataforma de gestão de talentos com people analytics e gerenciamento comportamental.
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Já em Recrutamento e Seleção, categoria com foco no mapeamento seleção e análise de habilidades e perfis de candidatos que contou com 105 empresas, seis delas entraram no ranking das dez mais: 99jobs.com, Vagas, Kenoby, Catho, Gupy e Revelo. A última categoria a emplacar nomes no Top 10 foi HR Code, que contempla 95 empresas especializadas em soluções que colaboram na administração dos recursos humanos, como folha de ponto, admissão, pagamentos e benefícios, e da qual fazem Xerpa e ahgora.
As outras três categorias – Office Services (startups que ajudam na instalação física das empresas voltadas às pessoas, buscando melhor usabilidade do espaço coletivo), HRMS (empresas que oferecem softwares com diversos sistemas e processos de gerenciamento de RH) e Offboarding (soluções para o desligamento de funcionários e comunidade de ex-colaboradores) – somam, juntas, cerca de 13 startups.
Apesar do número, Ávila diz esse ecossistema ainda é incipiente aqui no Brasil. “Existem enormes horizontes a serem explorados. Hoje existem mais de 20 milhões de empresas no Brasil de acordo dados do Sebrae. Cerca de 70% são pequenos negócios (14 milhões) e 30% (6 milhões) são médias e grandes empresas. Todas elas, mas principalmente as grandes e médias, precisam de processos de recrutamento e seleção, desenvolvimento e gerenciamento de funcionários entre outras atividades formais que fazem parte de qualquer companhia. A tecnologia é capaz de dar acessibilidade para implementação desses processos de forma eficaz”, diz.
Além disso, o especialista diz que o Brasil concentrou apenas 2% dos investimentos feitos em HR Techs em todos o mundo desde 2014, algo como US$ 473 milhões. “Existe um amplo espaço para o surgimento de novas soluções na área para suprir este mercado, sanando dores que virão junto das transformações sociais provocadas pela transformação digital e transição do RH para uma área mais estratégica.”
RAIO X DAS HR TECHS BRASILEIRAS
A região Sudeste do país é a que mais concentra startups do setor, com 73,3%. Na sequência, estão as regiões Sul, com 20,1%, Centro-Oeste, 3,2%, Nordeste, 2,1%, e Norte, 0,8%. São Paulo é o Estado com maior densidade, 54,2%, seguido por Minas Gerais, com 11,3%, e Santa Catarina, com 7,8%.
No que diz respeito à representatividade na geração de empregos, as startups de RH empregam mais de 11 mil pessoas no país. O segmento de Desenvolvimento e Gerenciamento de Talentos é que mais emprega, com um total de 4.616 funcionários. A área de Recrutamento e Seleção vem logo em seguida, com 3.428 empregados, enquanto a categoria de HR CORE conta com 3.101 funcionários. Juntas, as três áreas dominam quase o total da oferta de vagas do setor. Cerca de 42,3% do total de empresas possuem entre seis e 20 funcionárias, enquanto apenas 0,3% delas contam com mais de 1 mil colaboradores.
Com relação ao modelo de negócio, a maioria das HR Techs mira outras empresas: 67,8% delas são B2B e apenas 6,7% prestam serviços direto ao consumidor (B2C). Do total, 25,5% trabalham com os dois públicos.
A exemplo do que ocorre em outros segmentos, a presença de mulheres entre os sócios das startups de RH ainda é bastante desequilibrada: apenas 21,1% são mulheres. Na média, uma startup do setor possui entre dois e três sócios, nascidos majoritariamente no Estado de São Paulo (50,5%) e com idade entre 31 e 40 anos.
No quesito investimento, as empresas do setor concentraram 11,6% do capital aportado em startups em 2019, atrás apenas das fintechs (35,6%) e das startups de mobilidade (14,4%). O pico de investimentos foi justamente no ano passado, influenciado pela rodada milionária – US$ 300 milhões – que transformou a Gympass no mais novo unicórnio brasileiro. As principais operações do segmento foram em 2012, quando a SEEK aumentou sua participação acionária na Catho de 30% para 51% graças a um investimento de US$ 78,8 milhões – quatro anos depois, a australiana comprou o restante e passou a deter 100% da brasileira – e a aquisição da Rock Content, em 2019, da Iclips. Sobre os investidores, Valor Capital Group, Redpoint eventures e Bossa Nova são os três principais, nessa ordem, tanto em número de deals quanto em quantidade de startups investidas.
O RH EM TEMPOS DE PANDEMIA
Para Ávila, a pandemia de Covid-19 deixou ainda mais claro o papel do departamento de recursos humanos para a manutenção dos negócios e sobrevivência das empresas. Soluções de onboarding digital, por exemplo, ganharam muito espaço nos últimos três meses. A gestão de documentos e processos que levam, em média, um mês, ganharam velocidade e eficiência em plataformas das HR Techs e, certamente, crescerá ainda mais de agora em diante. “É evidente que as soluções tecnológicas de recursos humanos estão só no início. Há um grande mercado a ser explorado.”
O levantamento também indicou dez startups do setor para ficar de olho nos próximos anos. São elas: Connekt, Gama Academy e Matchbox (Recrutamento e Seleção); Pontomais e Levee (HR Core); Flash, Qulture Rocks, Beedoo e Zenklub (Desenvolvimento e Gerenciamento de Talentos) e Convenia (HRMS).
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