Com sinais de recuperação do setor hoteleiro despontando em mercados globais, a startup indiana OYO quer usar seu arsenal tecnológico para se posicionar como aliada na recuperação de seus parceiros e reconquistar hóspedes no Brasil em um contexto de viagens transformado pela pandemia.
Cerca de 450 hotéis brasileiros trabalham em parceria com a empresa, que começou operações no país no ano passado, repaginando hotéis independentes e fornecendo a eles um canal de reservas online em troca de uma porcentagem da receita. Cerca de metade destes estabelecimentos continuam fechados e a ocupação média está em 18%.
Apesar das circunstâncias ainda desafiadoras, a tomada de decisões na OYO é embasada na análise avançada de dados, que mostra uma perspectiva de dias melhores à frente. Na China, a ocupação média dos hotéis da OYO era de 70% antes da Covid-19, caiu para 5% em janeiro e hoje está próxima dos 45%. Com base nas trajetórias do mercado chinês e da Europa, a empresa faz projeções e ajusta seu algoritmo, que determina preços de estadias para diferentes estágios de retomada.
“Somos uma empresa muito data-driven e temos usado os dados de outros países que já estão alguns passos à frente [no controle da pandemia] para conseguir ter algum nível de previsibilidade sobre como as coisas podem acontecer no Brasil”, diz o diretor geral da OYO no Brasil, Henrique Weaver, em entrevista à Forbes.
A empresa fechou mais de 3.600 parcerias globalmente com hotéis durante maio e junho e, segundo o executivo, isso é um testamento da percepção do valor da tecnologia que a OYO pode oferecer para aumentar o giro desses estabelecimentos nas atuais circunstâncias. Isso inclui não só o algoritmo da startup, que usa um modelo similar ao Uber para definir preços de diárias baseados na demanda, mas um app que realiza todas as transações no estabelecimento, desde o check-in até pagamentos por produtos e serviços durante a estadia.
“Temos a expertise para ajudar hotéis a saírem da crise assim que o contexto permitir, com os canais de demanda e a precificação inteligente para fazer com que eles tenham o mínimo de ocupação sem estimular viagens não essenciais”, aponta Weaver.
Além de apoiar os hotéis, outra grande preocupação da OYO é atrair hóspedes e criar condições para que as pessoas se sintam seguras o suficiente para usar os quartos. Isso inclui a implementação de mais tecnologias criadas pela empresa na Índia, como check-in com reconhecimento facial. Um programa de certificação com base em protocolos de limpeza criado depois do surgimento da Covid-19 também foi lançado e a empresa já verifica que os cerca de 100 hotéis que aderiram tem praticamente o dobro da ocupação.
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TENDÊNCIAS E LANÇAMENTOS
O caso de uso da OYO no Brasil tem mudado como consequência da pandemia. Entre as tendências atuais, está o interesse em localidades próximas à residência do hóspede para turismo hiperlocal, além de estadias de mais de uma semana por pessoas que precisam cumprir o isolamento, bem como uso de quartos de hotel para trabalho. “Estamos explorando bastante estas novas tendências para entender o que é permanente e o que vai durar somente na pandemia”, avalia Weaver.
A emergência do turismo próximo de casa coincide com um movimento de revisão do plano de expansão que a OYO vinha fazendo antes da crise, baseado em resultados dos hoteleiros e rentabilidade para a própria startup. Segundo o executivo, o foco atual da empresa é em grandes centros urbanos e outras cidades que podem fazer sentido, por fatores como turismo.
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Para atender novas demandas de mercado além das circunstâncias atuais, o time de Weaver está planejando uma série de lançamentos no Brasil. Um deles é o programa de fidelidade OYO Wizard, que será ofertado quando as condições de mercado estiverem mais favoráveis. Segundo Weaver, o programa vem como forma de estimular hospedagens recorrentes: em mercados como a Índia, este tipo de estadia representa cerca de 70% da receita do unicórnio, que faz parte do portfólio do mega fundo japonês SoftBank.
A empresa também está pilotando novos modelos de hospedagem no Brasil: o Hotel O, de hotéis super econômicos, e o Capital O, de hotéis premium, para complementar a oferta atual, que está no meio deste espectro. Além disso, o diretor da operação brasileira se diz aberto a parcerias com outras startups para incrementar sua capacidade de distribuição e levar a possibilidade de reservas de quartos da rede através de aplicativos de terceiros.
“O fato de termos uma capilaridade muito grande, além de uma previsibilidade da experiência do hóspede, nos faz bem atrativos como parceiro para uma empresa que queira navegar nesse tipo de opção” diz Weaver, referindo-se a startups que atualmente focam em mobilidade ou entregas e consideram ampliar sua gama de serviços.
Antes da pandemia, a OYO tinha planos agressivos de crescimento e a força de trabalho no Brasil chegou a ultrapassar os 700 funcionários. Esse número incluía um batalhão de profissionais de campo espalhados pelos quatro cantos do país, focados em áreas como vendas e novas parcerias, na transformação dos hotéis e na operação dos estabelecimentos que aderiram à rede.
Com a crise e a revisão da presença geográfica da empresa, mais de 500 pessoas, em sua maioria profissionais que atuavam em campo, foram demitidas entre março e abril deste ano. A subsidiária brasileira da OYO atualmente emprega 140 profissionais em setores considerados centrais, como financeiro e jurídico.
“Esperamos retomar [a contratação de funções que foram eliminadas] assim que retornarmos com a operação e estivermos em uma situação um pouco mais normal”, diz Weaver, acrescentando que a operação atual no Brasil é adequada para os planos da empresa e demissões futuras não estão no horizonte.
“Já fizemos os ajustes que tinham que ser feitos e agora estamos preparados para o futuro, enxergamos muita coisa impactante para fazer. Estamos aproveitando esse tempo para nos organizar, revisar alguns processos e garantir que estamos em nossa melhor forma para essa retomada que vai acontecer nos próximos meses.”
Angelica Mari é jornalista especializada em inovação há 18 anos, com uma década de experiência em redações no Reino Unido e Estados Unidos. Colabora em inglês e português para publicações incluindo a FORBES (Estados Unidos e Brasil), BBC e outros.
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