No ano passado, muito antes de sabermos que uma pandemia iria virar o mundo de ponta cabeça, foram realizadas três das dez maiores rodadas de investimento em empresas brasileiras de educação, totalizando mais de US$ 12 milhões.
Segundo um relatório divulgado no final de 2019 pelo hub de inovação Distrito, o Brasil possui, atualmente, 434 edtechs, como são chamadas as startups voltadas para a educação. Desse total, 229 surgiram nos últimos cinco anos. Hoje, 63,5% delas estão concentradas na região Sudeste e 20,7% no Sul, enquanto Nordeste, Centro-Oeste e Norte estão logo em seguida, com 8,2%, 6,4% e 1,3% respectivamente.
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O Distrito Edtech Report dividiu as startups do segmento em sete categorias. As de ferramentas para instituições (25,4%), que são as startups que desenvolvem soluções para entidades tradicionais de ensino, é a categoria que engloba o maior número delas. Na sequência vem as categorias novas formas de ensino (20,8%); plataformas para a educação (17,3%); ensinos específicos (17,1%); foco no estudante (12,7%); conteúdo educativo (4,2%); e financiamento do ensino (2,5%).
“A diversidade de startups que atuam no segmento educacional foi o que mais chamou a atenção nesse universo. O levantamento identificou empresas nos mais diversos estágios de maturidade e trabalhando para públicos muito distintos, sejam eles estudantes secundaristas ou até mesmo outras instituições de ensino. É muito positivo acompanhar o surgimento de empresas que atendem um campo essencial para melhorar os indicadores educacionais do país”, diz Tiago Ávila, líder de produto do Distrito Dataminer, braço do Distrito responsável pela elaboração de estudos do ecossistema de startups.
Essa ebulição do setor no país ficou clara no LATAM EdTech 100, um estudo inédito sobre o setor divulgado em junho deste ano que listou as 100 startups de educação mais inovadoras da América Latina. O trabalho conduzido pela HolonIQ, plataforma norte-americana de inteligência global para educação, considerou 3.700 organizações diretamente ligadas a atividades educacionais na região e catalogou dados de 1.700 delas, levando em consideração a atratividade da empresa para o mercado no qual atua, a qualidade do produto ou serviço oferecido, a expertise e a diversidade da equipe, a saúde financeira do negócio, e o momento, ou seja, se houve mudanças positivas no tamanho e na velocidade da empresa ao longo do tempo. O Brasil foi o país que o maior número de startups da lista – mais de 30. O México, segundo colocado, teve apenas 20 representantes.
Um dos fatores para esse movimento é óbvio, já que o Brasil é um dos países mais desiguais do mundo, e a educação ocupa um espaço fundamental nas discussões sobre políticas públicas e desenvolvimento. O tema é urgente e exige soluções inovadoras e em escala, capazes de fornecer respostas rápidas. E é exatamente isso que os 12 profissionais selecionados pela Forbes para a sexta parte desse especial estão fazendo.
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Veja, a seguir, 12 inovadores negros estão levando a educação a outro nível no Brasil:
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Divulgação Aline França, ChatClass
Com apenas 30 anos, Aline França já se questionou muitas vezes se deveria ir a uma entrevista de emprego com o cabelo black power solto. Isso porque perguntas sobre sua capacidade de adaptação a um ambiente de trabalho formal eram corriqueiras durante os processos seletivos. “Claro que todo mundo já se deparou situações como essa ou com ‘nãos’ ao longo da vida, e é muito difícil saber quando o fator raça teve alguma influência. Muitas vezes, nem a pessoa responsável pelo recrutamento tem isso muito claro, já que ninguém se considera racista. São os vieses inconscientes”, diz ela. “Mas o fato é que essas coisas acabam nos lembrando de que sempre temos algo a mais a provar.”
Ciente dessa realidade, Aline começou a trabalhar aos 14 anos, de maneira informal, já que essa era a única possibilidade de garantir a continuidade dos estudos após o Ensino Médio. Na faculdade de Comunicação Social, foi contemplada com uma bolsa pelo ProUni – Programa Universidade para Todos, do Ministério da Educação. “Graças a ela, tive a oportunidade de deixar um emprego com carteira assinada para estagiar na área”, conta.
Após uma década na iCarros, plataforma de compra e venda de veículos do grupo Itaú Unibanco onde teve a oportunidade de ter uma visão mais 360º da comunicação, Aline começou a produzir conteúdo em vídeo, atuou como gestora de mídias sociais e acabou migrando para a área de comunicação corporativa.
“Este ano, decidi que era hora de partir para novos desafios profissionais e, nessa busca, encontrei a ChatClass”, diz a jovem paulistana contratada, em fevereiro deste ano, pela edtech norte-americana que tem como meta democratizar o ensino do inglês por meio de uma plataforma de inteligência artificial. “O acesso à educação foi algo que me permitiu mudar completamente as minhas perspectivas de vida. Poder proporcionar isso a outros jovens é trabalhar por um propósito”, diz ela, que também já conclui uma pós-graduação em Comunicação e Mídias Digitais pela ESPM e mantém, em paralelo, um canal no YouTube sobre empoderamento feminino, beleza da mulher negra e questões raciais.
Como especialista de comunicação e marketing da edtech, Aline tem que usar todas as ferramentas disponíveis para levar conhecimento aos usuários, seja capacitando professores a utilizarem a tecnologia em sala de aula, seja buscando alternativas para engajar os alunos com o aprendizado. Para isso, tem feito um trabalho intenso nos canais digitais, incluindo YouTube e TikTok.
“Sabemos o quanto a falta do inglês pode ser uma barreira para jovens que, assim como eu, vieram da periferia e não têm a fluência necessária para ingressar em grandes corporações. Meu objetivo de vida é trabalhar para que eles tenham acesso ao idioma e, não apenas eliminem esse tipo de obstáculo, como conquistem um mundo de possibilidades”, revela. “Inovar, para mim, é mais do que desenvolver um produto ou serviço novo. É entender o impacto que isso pode ter na vida de outras pessoas.”
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Divulgação André Antunes Vieira, MeSalva!
Embora pareça paradoxal, o gaúcho André Antunes Vieira abandonou a faculdade de Engenharia Elétrica numa universidade federal nos últimos semestres porque queria perseguir seu sonho: ajudar milhões de pessoas a receberem uma educação de qualidade.
Esse desejo, no entanto, tem uma explicação que vem da infância. André começou estudar aos seis anos numa escola particular, graças ao salário da mãe, que era funcionária pública concursada. “Embora não tivesse o apoio do meu pai e nem ganhasse muito, ela tinha uma vida financeira estável”, lembra. Até que decidiu empreender com um amigo. “Deu tudo errado e ela ficou desempregada por três anos. Lembro da minha mãe chorando e pedindo dinheiro aos meus tios para poder me alimentar”, conta.
Com a nova realidade, André foi transferido para uma escola pública. “Mas fiquei com aquele gostinho do que era uma educação de qualidade. Para complementar, minha mãe me ensinava em casa. Ela nunca mais voltou a ter um bom emprego, mas devo a ela essa capacidade de valorizar o conhecimento.”
Nerd desde sempre, segundo sua própria definição, André cursou técnico em Eletrônica e projetou toda a sua carreira para trabalhar na área. Atuou como projetista autônomo e, paralelamente à faculdade não concluída, fez um curso rápido de webdesign. “Acabei abrindo uma agência e comecei a prestar serviço para o MeSalva!”, conta ele, referindo-se à plataforma educacional focada em conteúdo de alto desempenho didático para estudantes criada por Miguel Andorffy, Under 30 da Forbes em 2017.
“Sempre me interessei pela intersecção entre tecnologia, educação e acessibilidade, e procuro me envolver com iniciativas do tipo, como o Afropython, projeto destinado a ensinar programação para afrodescendentes”, diz.
Em 2014, André chegou ao MeSalva! “oficialmente”, ou seja, não mais como prestador de serviço, mas como colaborador em tempo integral. Hoje, aos 32 anos, é o CTO da startup e, mais recentemente, foi alçado a sócio. “Sinto muito orgulho de ter participado de todo o processo de criação de uma empresa que através da tecnologia impacta mais de 1 milhão de alunos todo mês”, diz.
Ele é responsável por coordenar todo o time de tecnologia, além de participar das principais decisões do negócio. Para André, inovação é derrubar as barreiras entre as áreas e aproximar ideias que pareciam distantes para resolver um problema em comum. “A inovação não está apenas em criar soluções disruptivas. Às vezes, ela está justamente em apenas ligar os pontos.” Um sonho? Na verdade, já está em curso. “Quebrar as barreiras sociais e econômicas para poder levar educação de qualidade para todos.”
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Divulgação Camila Paula Bezerra Silva, Descomplica
A recifense Camila Paula diz ter um “sangue dividido entre dois estados”, por ter vivido no Rio de Janeiro desde os dois anos de idade. Foi na capital fluminense que construiu uma visão idealizada do jornalismo, influenciada por filmes de comédia romântica, e, quando entrei em Comunicação Social, na Universidade Federal do Rio de Janeiro em 2009, percebeu que seu interesse estava em outras áreas relacionadas à comunicação. Com 29 anos, Camila, que hoje é gerente de marketing e growth da Faculdade Descomplica, começou sua vida profissional como bolsista no museu da UFRJ, onde cuidava das redes sociais da instituição – na época, uma página na finada rede Orkut e outra no Facebook.
Trabalhou na Esporte Interativo, mesmo sem entender nada de futebol, mas eu agregava criatividade na equipe, além do pensamento imparcial. “Eu tinha as ideias, trocava com meus pares e entendia como encaixar o Barcelona ou Chelsea dentro do post maluco que eu tinha idealizado para o Facebook”, conta. Foi fazer intercâmbio na França em 2012 e voltou cheia de ideias e desejo de entrar de cabeça no mundo digital. Logo encontrou um estágio em uma startup de jogos, que quebrou oito meses depois.
Naquela época, Camila, que já morava sozinha, correu para se ajustar à situação inesperada e um quartinho de empregada na zona sul do Rio para morar mais perto do trabalho e da vida social que tinha. Logo entrou em uma agência de marketing digital para trabalhar com mídia de performance e analytics. “Não era o meu forte, mas me dispus a aprender tudo que podia para cumprir meu trabalho”, relembra Camila, que ao mesmo tempo trabalhou como freelancer para complementar a renda. O esforço rendeu frutos e Camila se tornou especialista em marketing digital, um mercado ainda carente de expertise.
Depois de uma passagem no governo do Estado do Rio de Janeiro, onde se consolidou como profissional especialista em conteúdo criativo e análise de dados, entrou na Descomplica, em 2016, como analista de performance da vertical de preparatório de concursos que a edtech estava testando na época. “Meu escopo de trabalho era: ‘vamos fazer esse negócio crescer’, então tive todo o espaço possível para testar caminhos, errar, aprender e testar mais ainda, ao melhor modo startup”, aponta. Os resultados culminaram num convite para assumir a a gerência de marketing e growth da Faculdade Descomplica e Pós Descomplica, onde lidera 12 pessoas e bate metas mensais agressivas.
Segundo Camila, a proposta do Descomplica, de democratizar o acesso à educação de qualidade, é inovadora por si só, mas o marketing que lidera na startup prova que educação é algo que deveria ser divertido, leve, acessível e gerar aprendizado sempre. “Isso é inovador, principalmente em uma indústria tão tradicional. Nós não medimos esforços para ensinar e engajar os nossos alunos e audiência de formas nunca vistas antes dentro do mundo educacional”, acrescenta, citando ações como um debate que a edtech promoveu entre Flávio Bolsonaro e Marcelo Freixo sobre o armamento civil mediado por um professor da startup para a construção de argumentos para uma redação sobre o mesmo tema.
A inovadora conta que os maiores obstáculos que percebeu em sua trajetória foram subjetivas, geradas pela insegurança intrínseca de ser uma mulher preta no mercado de trabalho. “Síndrome do impostor, as inseguranças pela falta de experiência, a comparação com pares e expectativas internas projetadas que sempre geram frustrações acabam escalando conforme as ambições de crescimento vão aumentando. Isso gera uma capacidade de autossabotagem gigantesca, e é preciso ter uma rede de apoio para te colocar de volta na rota certa quando esses sentimentos tomam conta”, frisa.
Com o objetivo de chegar em um board como executiva com boa estabilidade financeira, Camila vê a inovação como a capacidade de encontrar caminhos diferentes e realizar coisas, apesar das dificuldades. Segundo ela, é também mudar o status quo de sistemas aparentemente impossíveis de quebrar. Por outro lado, a especialista em marketing acredita ser necessário remover o estigma do empreendedorismo que o conceito de inovação frequentemente carrega.
“Não é necessário ter uma metodologia com nome em inglês, uma roupagem marketeira e um pitch atrelado para ser uma inovação relevante. Uma mãe solteira, acima dos 40, 50 anos, entendendo que agora ela tem a possibilidade e deve voltar a estudar, almejando crescer profissionalmente é inovador no Brasil”, ressalta.
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Divulgação Carine Alcantara, Provi
A frase que Carine Alcantara, analista de inovação da startup de financiamento educacional Provi, mais ouvia da mãe, então dona de casa, durante sua infância, em Suzano (SP) era: “Você é uma mulher preta, periférica e pobre, precisa estudar para tirar 11”. O incentivo para buscar uma realidade melhor do que a da mãe e do pai caminhoneiro deu frutos: Carine fez o ensino médio da ETEC e o técnico no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP) de Suzano. Posteriormente, entrou no curso de Engenharia de Produção na Escola Superior de Engenharia e Gestão em São Paulo, com uma bolsa parcial – e também convenceu a mãe a entrar na faculdade, um ano depois.
Os anos de faculdade de Carine foram cansativos – ela viajava por quase cinco horas diárias no transporte público – mas isso não a impediu de ter uma participação extremamente ativa, incluindo duas iniciações científicas e diversos desafios. Um deles a levou para a sede da gigante de bens de consumo Reckitt Benckiser em Londres, para apresentar uma proposta de modelo de negócio que auxiliaria na redução do gasto de água, em 2018.
O interesse por inovação e empreendedorismo aproximou Carine do ecossistema de startups. Na fintech Guiabolso, fez um estágio na área de business intelligence e data science e lá, tornou-se analista de negócios, trabalhando em novos produtos baseados em insights obtidos por dados. Surgiu, então, a oportunidade de se juntar à Provi, apresentada a ela por Ana Baraldi, head de inovação da empresa, em 2019.
“Com todas as experiências na faculdade, os desafios extracurriculares e a visão de resolução de problemas que criei ao longo do tempo, não poderia negar, ainda mais que o propósito da Provi faz muito sentido com toda a minha história e relação que tive com a educação como ferramenta para realmente mudar a minha realidade”, conta Carine, que na edtech também é cofundadora da frente de diversidade e inclusão da startup que atende os alunos financiados e os colaboradores internos.
Carine aponta que a frente de diversidade é importante para gerar um senso de comunidade e pertencimento, para que as pessoas sintam que existe um ambiente seguro para trocar vivências e se fortalecer. Segundo ela, a formação da frente teve como ponto de partida a observar da falta de diversidade no setor de tecnologia: “Pensamos no quanto [a falta de diversidade em tech] era ruim não só em termos de representatividade populacional, mas para realmente entender quem atendemos – especialmente no meu caso, trabalhando com ISA, que é um produto que tem um elevado potencial de mudança na vida das pessoas”, conta a analista de inovação.
“Pensei em como poderia fazer algo para que, daqui 10 anos, eu possa olhar para trás e ver que minha ação realmente gerou uma mudança, tornou o mercado mais inclusivo e, por consequência, o mundo um pouco melhor.”
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Divulgação Caroline Andrade, Jovens Gênios
Um terninho bem cortado, um belo salto alto e decisões importantes tomadas em uma grande sala de um daqueles clássicos edifícios do centro do Rio de Janeiro. Era assim que, na infância, Caroline Andrade imaginava que seria sua vida profissional. Criada na zona oeste do Rio de Janeiro, já no Ensino Médio ouvia dos pais que deveria estudar onde estavam os ricos: nas universidades públicas. “Analítica e apaixonada por números, acreditei que a Engenharia Química seria a minha profissão para a vida toda. Para chegar nela, fiz cursinhos pré-vestibulares como bolsista por três longos anos”, conta.
Uma vez na UFRJ, Caroline rapidamente se frustrou. “Sempre gostei de pessoas e tentei, por meio de vários projetos paralelos, como empresa júnior e diretório acadêmico, relacionar as matérias da grade curricular com relacionamentos interpessoais, mas não funcionou”, lembra. No ano passado, acabou abandonando a universidade e começou a trabalhar como a primeira estagiária da Jovens Gênios, edutech que usa a inteligência artificial e a gamificação para individualizar o aprendizado fundada por Bernard Caffé e Fernando Costa.
“Por ser a primeira na família a ingressar em uma faculdade pública, ouvi muitas críticas por abandonar uma carreira tida como segura para me aventurar em uma startup criada por colegas de faculdade, em uma área pouco conhecida atualmente. Ano passado, eu era chamada de louca pela maioria das pessoas que eu conheço”, conta. “Mas eu enxerguei na empresa a oportunidade de colocar minhas duas paixões em prática.”
Aos 25 anos, hoje Caroline é head de sucesso do cliente, responsável pela maior equipe da empresa e pela missão de gerenciar a usabilidade de mais de 10 mil clientes das mais variadas idades. Todos os dias, busca experiências novas que, além de escaláveis, encantem os usuários da plataforma.
Segundo ela, embora quase tudo tenha mudado graças à tecnologia, essa é uma máxima que ainda não se aplica à maioria das escolas. “As salas de aula atuais trocaram o giz pela dupla power point/projetor. Ou seja, muito pouco. E, na prática, a forma de aprender continua engessada como no século 19, o que não é mais aceito pelas crianças e adolescentes dessa geração”, explica. “Estamos aí para resolver essas questões, com um aprendizado divertido com metodologias ativas e personalização.”
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Divulgação Isaac Batista, Trybe
Natural de Natal, capital do Rio Grande do Norte, Isaac Batista foi contratado pela escola de desenvolvimento de software Trybe neste mês, como instrutor de tecnologia. Com 22 anos, Isaac deve terminar o curso de licenciatura em informática no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) no ano que vem. A tecnologia é a carreira que escolheu por afinidade e curiosidade, sem muita pretensão de ser exclusivamente professor, mas por saber que abriria muitas portas.
Desde que iniciou o curso, Isaac trabalhou em duas empresas como desenvolvedor web e surgiu a oportunidade na Trybe, que decidiu abraçar por motivos que incluem a interação com pessoas de outros locais do Brasil e a possibilidade de integrar, no mercado real, seus conhecimentos técnicos com os pedagógicos. “Faço parte do mercado há pouco tempo, mas já entendi que nessa área não podemos ficar com o pé atrás por não sermos tão experientes, ou não termos tanto conhecimento. É apostar e, como dizemos: desenrolar”, aponta.
Segundo Isaac, o Modelo de Sucesso Compartilhado da Trybe – em que o aluno só paga a mensalidade do curso quando for empregado e ganhar no mínimo R$ 3,5 mil, ou seja, a escola tem sucesso quando o aluno também tem – é o que torna sua função de instrutor inovadora, já que realça o foco no aprendizado. “Isso é essencial e absolutamente inovador: colocar em evidência o que realmente é importante! Nós sabemos de muitas coisas óbvias, tanto na nossa vida pessoal como profissional, mas acabamos não sendo tão eficientes por não darmos a devida prioridade, evidência e importância”, ressalta.
Isaac acredita que a inovação atualmente é um ingrediente crucial não só para empresas, mas de pessoas que querem se destacar. Segundo ele, “inovar está nas coisas simples que se faz para melhorar seu projeto como um todo. É ter visão, entender a necessidade das pessoas, perceber o que é importante e ter a humildade de aceitar que sua ideia pode não ser tão boa como parecia antes. Pode ser ir contra a maré, ou não. Inovar é aceitar as informações que o mundo te dá, e se colocar na equação.”
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Divulgação Jan Klever, Quero Educação
O cearense de 27 anos Jan Klever iniciou sua trajetória no design na adolescência, quando ganhou seu primeiro computador e começou a utilizar ferramentas de edição de imagem. A semente germinou mais tarde, durante o curso de Engenharia de Computação, quando fez um curso de design gráfico e mudou os planos, para a carreira de Publicidade. Jan conservou, no entanto, a paixão por tecnologia e trabalhou como Designer de Interfaces em diferentes projetos até que surgiu a oportunidade de trabalhar na Quero Educação, em abril de 2019. A edtech de São José dos Campos (SP) tem como carro chefe o Quero Bolsa, plataforma de financiamento de educação.
Jan então se mudou de Fortaleza para o interior paulista, para assumir o cargo de designer de produto. Em poucos meses, assumiu a responsabilidade de desenvolver e alavancar o Zilla, sistemas de design da empresa e atualmente, dá suporte ao time de design e atua na criação e interação de projetos em conjunto com diversos times na empresa. “Foi trabalhando numa edtech que conheci minha real motivação profissional: ajudar outras pessoas”, conta.
Em sua função atual, Jan conta que o ambiente de trabalho é “totalmente favorável à inovação”, com oportunidades diárias de transformar o negócio por meio de design e tecnologia. O trabalho do publicitário envolve, entre outras tarefas, a criação de uma biblioteca que padroniza os componentes dos sites da Quero e encurta o caminho para os desenvolvedores criarem novas páginas, o que ajuda a manter a consistência e acessibilidade dos outros produtos da empresa, potencializa o alcance das ofertas e garante a escalabilidade do produto e da marca.
“A oportunidade de inovar acontece à medida que o meu trabalho potencializa e até pré-viabiliza alavancas de crescimento em produtos e projetos voltados para tecnologias para educação. Trabalhar com um design system e com a garantia de consistência de nossos produtos é uma forma de criar possibilidades de desenvolvimento de tecnologias disruptivas. É como preparar o campo para que novas sementes floresçam”, aponta Jan.
Segundo Jan, inovar não é inventar, já que a inovação pode ser alcançada por meio de métodos já convencionais. “Para mim, inovação está muito mais no campo da geração de valor. Inovar é idealizar, planejar e executar algo em prol de resultados claros,” ressalta.
A trajetória e desafios enfrentados por Jan mostram a importância de perseguir objetivos. Tendo crescido em uma família com pouca instrução, a formação acadêmica sempre foi prioridade: “E mesmo toda essa proteção familiar não foi suficiente para me livrar do racismo enraizado em nossa sociedade. Para mim, sempre ficou claro que, para alguns, era inconcebível um preto do subúrbio sonhar para além de ‘suas fronteiras'”, aponta Jan.
Ir contra as realidades pré-concebidas é descrito pelo inovador como um ato de luta, ilustrado pela vivência de muitos brasileiros, incluindo nordestinos como ele: “E essa luta sempre haverá de existir por mais que alcancemos sonhos mais distantes, voos mais altos.”
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Divulgação Janine Rodrigues, Piraporiando
Durante sua trajetória de mais de uma década trabalhando na área ambiental, principalmente junto a comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas, bem como pequenos agricultores, Janine Rodrigues desenvolveu um fascínio pelas histórias destes povos tradicionais. “Sempre amei escrever, ler, ouvir histórias. Comecei a criar histórias literárias que contavam sobre o empreendimento, sobre seus impactos e o que poderíamos fazer para mitigá-los”, conta a fundadora da Piraporiando – Educação para a diversidade.
Janine foi escrevendo cada vez mais histórias até que em 2013, publicou uma delas, sobre bullying e solidão, baseada numa amiga de escola que tinha uma doença grave. O livro foi adotado por escolas e, partir daí, começaram a surgir múltiplos projetos e convites para palestras. Em 2015, a Piraporiando surgiu e Janine passou a se dedicar integralmente à empresa. A startup começou com com os projetos de educação, entrou com livros – que antes eram publicados por outras editoras e passaram a ser editados pela Piraporiando – e expandiu para incluir um programa de educação para a diversidade, que contém formação continuada dos professores, atividades que transversalizam o currículo pedagógico e a diversidade, conteúdo para as famílias e os livros, tanto em meio físico como no formato digital.
“As minhas memórias de infância sempre me inspiram muito e eu adorava bonecos de papel. Nossos livros físicos vêm com encarte de atividades, com uma proposta de entrar na história e brincar com os personagens de papel. Os ebooks têm animações e são narrados por crianças”, conta Janine. Quando a escola e as famílias assinam o programa da Piraporiando, recebem conteúdos educativos todos os meses, que focam na educação antirracista, antibullying e antipreconceito.
A carioca de 38 anos fala da resiliência como principal ferramenta para enfrentar as diversas dificuldades que enfrentou para colocar a Piraporiando de pé, entre elas a “indiferença e egoísmo” que teve que lidar, principalmente quando decidiu que iria editar os próprios livros. Para tal, buscou informações sozinha na Internet e através de eventos. “Ainda assim, em muitos momentos que conversava com pessoas da área editorial pensava na frieza e no incômodo com os ‘novos autores’, ou na ideia elitizada que rodeia quem quer se autopublicar. Mesmo me considerando uma pessoa forte tive muitos momentos complicados”, conta a fundadora, relembrando sua experiência em eventos de mercado:
“Era deixada de lado nos almoços, confraternizações. E como eu não parava, como insistia em seguir, muitas vezes era chamada de soberba, metida. O racismo tem disso: se a branquitude nos vê fragilizados, somos fracos, sem potencial. Se seguimos em frente, somos metidas, soberbas. Seja como for é uma violência”, diz Janine. No outro lado da moeda, a empreendedora hoje sente a satisfação de ver seu trabalho chegar a muitas crianças negras, atuando como referência e uma forma de potencializá-las, bem como em crianças não-negras, que precisam ser educadas a partir da ótica antirracista.
“Fico feliz de a cada dia mais perceber que a diversidade é algo inerente à vida. As escolas, as crianças, educadores, todos os dias iam me mostrando a potência da Piraporiando”, conta Janine. Hoje a empresa alcança cerca de 40mil crianças, 26 mil educadores, reconhecimentos nacionais e internacionais, com sua proposta de conteúdo multiplataforma com a diversidade no centro da educação.
Segundo Janine, por mais que a tecnologia seja algo enriquecedor e atue como um meio de viabilizar avanços para a sociedade, é um meio e não fim. “Acho que nosso elemento inovador é abordar o fato de que não há educação, não há equidade, não há justiça, não há nada sem a diversidade”, ressalta a fundadora, que vê a inovação como algo transformador – mas que inclui outros elementos essenciais para gerar real impacto:
“Antes da inovação é preciso análise crítica. E antes da análise crítica, repertório. Para ter repertório preciso experienciar. E experienciar está diretamente relacionado a viver coisas diversas”, diz a fundadora, cujo discurso vai de encontro a um de seus grandes desejos pessoais: dar a volta ao mundo, de motorhome.
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Divulgação Juliana Bueno, Camino School
Aos 34 anos, a paulistana Juliana Bueno faz malabarismo para conciliar o trabalho, a faculdade de Pedagogia e os cuidados com os dois filhos. Mas nem passa pela sua cabeça reclamar. Depois de trabalhar como operadora de telemarketing, vendedora de loja, babá, bartender e monitora de festas infantis, ela se reencontrou há alguns anos com a cultura popular e nunca mais a abandonou.
“Minha família é do samba”, conta. “Sempre viajei com a minha avó para festas de cultura negra em Aparecida, Tietê e Pirapora [interior de São Paulo]. Quando criança, eu não entendia o porquê de ter que estar ali, mas não tinha muito opção”, lembra. Em 2012, já adulta, Juliana relembrou o passado ao participar de uma festa de rua. “Senti algo pulsar em mim de um jeito muito forte e, a partir dali, mergulhei de cabeça nesse mundo da educação e inovação.”
Neste ano, Juliana juntou-se à Camino School, escola referência da Camino Education, edutech que integra educadores, gestores, pais e estudantes de diferentes partes do mundo para enriquecer o processo de aprendizagem. Lá, ela é professora de cultura popular brasileira, disciplina que trata a pluralidade cultura do nosso país e as influências afro e ameríndia.
Faz parte da sua função a coordenação do projeto Sankofa – O Velho Mundo de África e o Brasil Pindorama, iniciativa que atende à legislação nacional que obriga a inclusão do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira na educação básica. “A cultura popular me ajudou no resgate de minhas próprias raízes e tornou-se também um ofício”, diz.
Ela explica que todo o trabalho é realizado por meio da metodologia de aprendizagem ativa, que tem como foco o protagonismo do estudante, o desenvolvimento de competências e habilidades e está alinhado com as diretrizes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Além disso, o tema também é abordado nas expedições da Cloe, plataforma digital da Camino Education, que está em diversas escolas do Brasil levando a aprendizagem ativa por meio da tecnologia e de conteúdos digitais para as salas de aula e, agora com a pandemia, para a casa dos estudantes.
Para além de sua própria trajetória, recheada de episódios de racismo velado e sensação de não pertencimento, Juliana acredita na disseminação de fatos históricos como fator essencial para a construção de uma sociedade antirracista. “E é urgente endereçar a temática racial nas escolas, principalmente nas particulares, onde a maior parte dos alunos é branca.”
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Divulgação Larissa Lopes, Escola em Movimento
A mineira Larissa Lopes, de 31 anos, formou-se em Engenharia da Computação e desde 2018 atua como analista de implantação de sistemas na Escola em Movimento, aplicativo escolar que propõe uma comunicação simples e segura para instituições de ensino focadas em melhorar o contato com os pais, alunos e colaboradores.
“Meu primeiro emprego formal foi como técnica em eletrônica. Depois, já na faculdade, fiz estágios como monitora de informática em escolas e trabalhei em suporte de TI”, lembra. Sua função atual é auxiliar as instituições de ensino a alcançarem seus objetivos por meio do entendimento das necessidades, personalização do aplicativo e treinamentos e apoio técnico. “Em paralelo, estamos trabalhando com a utilização de técnicas ágeis e automatização na alocação de recursos internos”, conta.
Larissa explica que, no setor de tecnologia, não sentiu dificuldades para se sentir inserida no mercado de trabalho, mas relembra situações vividas antes da faculdade, durante a busca por emprego. “Eu estava em processo de transição capilar e, apesar de ir bem e até mesmo ser elogiada durante as entrevistas, nunca era selecionada. A partir do momento que voltei a escovar o cabelo, fui escolhida por várias empresas.”
Agora, bem empregada, ela só quer saber de se tornar uma profissional cada vez melhor. “E ser um exemplo de vida para minha família, principalmente para minha filha.”
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Divulgação Lucas Dantas de Souza, Sanar
O jornalista soteropolitano Lucas Dantas de Souza, hoje gerente de produtos senior na Sanar, edtech focada em médicos e estudantes de medicina, tinha uma carreira diferente planejada há 13 anos. Conquistou um cargo público através de um concurso em 2007, mesmo ano em que entrou na faculdade, no TJBA. Conciliou os estudos, o emprego público e estágios em jornalismo, e foi assessor júnior de comunicação no TJBA. No entanto, a carreira no funcionalismo público não atendia os desejos de Lucas: “Não inconformado com o conservadorismo, falta de inovação, ausência de meritocracia e falta de dinamismo do serviço público, busquei outras oportunidades”, conta.
Essa busca incluiu uma experiência como empreendedor, em que Lucas criou um app, o Clicou Partiu, e aprendeu sobre marketing digital trabalhando neste produto. O app não deu certo, mas levou Lucas até a Sanar, onde entrou em 2016 para liderar o novo setor de marketing. Pediu licença sem vencimento do emprego público e em 2019, pediu exoneração do cargo. Sair do serviço público não foi fácil, no entanto:
“[Precisei de] confiança para abandonar o serviço público. Nossa cultura preza pela estabilidade e, muitas vezes, exalta que, no trabalho, deve valer a lei do menor esforço. Sempre fui demovido da ideia de sair de um cargo público tedioso mas confortável, porque seria burrice”, conta Lucas, que também enfrentou o desafio da falta de informações e oportunidades, especialmente em Salvador, em carreiras no ambiente digital.
Em seu atual cargo, Lucas coloca seus conhecimentos em marketing digital em prática para construir produtos com o objetivo de diminuir a assimetria de informação que existe entre estudantes de medicina e médicos. “As informações e conhecimentos de qualidade ainda estão disponíveis apenas para uma pequena parcela privilegiada da população. Acadêmicos e pessoas de classe alta têm acesso a informações e conhecimentos – e, por consequência, oportunidades – melhores, mais atuais e em formatos mais inovadores”, ressalta Lucas.
Com 32 anos, Lucas não desistiu de empreender e tem como objetivo futuro a criação um produto ou serviço em que possa aproveitar as oportunidades que identificou em marketing e produtos digitais. “Quero ajudar a nivelar o jogo para todos, independente da origem que eles têm, mostrando quais são as carreiras possíveis e como chegar lá.” Ele define a inovação como a capacidade de “transformar o fantástico em possível.”
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Divulgação Thâmillys Marques de Oliveira, Mundo4D
Para ela, inovar é construir pontes, tornando o conhecimento da tecnologia acessível a todos. Aos 26 anos, Thâmillys Marques de Oliveira é educadora tech da Mundo4D, startup que tem como missão levar a Educação 4.0 para dentro da sala de aula onde atua desde 2018.
Entusiasta da tecnologia desde muito cedo, aos 14 anos já dava aulas de informática no EJA, programa do governo federal destinado a jovens, adultos e idosos que não tiveram acesso à educação na escola convencional em idade apropriada. “Desde então descobri na computação uma verdadeira paixão”, conta.
Thâmillys passou, então, a investir em conhecimento. “Era a válvula de escape para a dura realidade que as diferenças físicas e sociais impunham”, conta a jovem nascida em Petrolina, no interior de Pernambuco. Oriunda de uma família de baixa renda, optou por cursar o ensino médio integrado ao técnico em informática e, em seguida, formou-se em Computação pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano. Hoje, faz mestrado em Ciência da Computação na Universidade de São Paulo.
“A educação tecnológica me conquistou”, confessa. Nessa trajetória, aprofundou-se em gamificação, robótica, programação de jogos e internet das coisas (IoT) – tudo voltado ao ensino. Ao mesmo tempo, trabalhava em empresas que tinha essa abordagem até que, há dois anos, conheceu a Mundo4D. “Estar em um negócio que vai ao encontro dos valores de inovação, educação e tecnologia criativa nos quais acredito foi um achado”, diz.
Thâmillys conta que faz parte do seu dia a dia na startup buscar novas formas de fomentar a inovação tecnológica na educação. “Nós inovamos quando enfatizamos o aprendizado de maneira criativa e priorizamos a busca pelo desenvolvimento de novas habilidades nos alunos e professores da educação brasileira. Inovamos ao atrelar os pilares, metodologias e conteúdos STEAM (Ciências, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática) ao ensino das habilidades socioemocionais, tão importantes para essa geração. Inovamos quando, mesmo em meio à pandemia, descobrimos meios de ampliar nosso alcance, possibilitando assim, uma maior abrangência do ensino da educação 4.0 e o acesso à tecnologia criativa a alunos que antes não tinham esta oportunidade.”
Em retrospectiva, a educadora lembra que as dificuldades não foram poucas. “Ter que trabalhar e estudar acabou deixando lacunas. Nunca pude fazer cursos de idiomas ou pré-vestibulares e tive que ser autodidata. O campo das ciências exatas ainda é repleto de preconceitos. Sofri diversos prejulgamentos velados por ser mulher, por causa da minha pele e cabelo e por ser oriunda de escolas públicas, entre outros. No âmbito profissional, diversas vezes tive que exceder minhas funções para provar minha competência perante os colegas e, assim, eliminar quaisquer estereótipos pré-concebidos”, diz.
Com persistência e determinação, Thâmillys venceu todas essas barreiras. Agora, seu próximo objetivo é ser referência em sua área. “Quero saber que contribuí ativamente para que o ensino da tecnologia deixe de ser visto apenas como uma inserção de diversos aparatos tecnológicos nas salas de aulas e passe a ser usado para gerar autonomia e fomentar a criatividade.”
Aline França, ChatClass
Com apenas 30 anos, Aline França já se questionou muitas vezes se deveria ir a uma entrevista de emprego com o cabelo black power solto. Isso porque perguntas sobre sua capacidade de adaptação a um ambiente de trabalho formal eram corriqueiras durante os processos seletivos. “Claro que todo mundo já se deparou situações como essa ou com ‘nãos’ ao longo da vida, e é muito difícil saber quando o fator raça teve alguma influência. Muitas vezes, nem a pessoa responsável pelo recrutamento tem isso muito claro, já que ninguém se considera racista. São os vieses inconscientes”, diz ela. “Mas o fato é que essas coisas acabam nos lembrando de que sempre temos algo a mais a provar.”
Ciente dessa realidade, Aline começou a trabalhar aos 14 anos, de maneira informal, já que essa era a única possibilidade de garantir a continuidade dos estudos após o Ensino Médio. Na faculdade de Comunicação Social, foi contemplada com uma bolsa pelo ProUni – Programa Universidade para Todos, do Ministério da Educação. “Graças a ela, tive a oportunidade de deixar um emprego com carteira assinada para estagiar na área”, conta.
Após uma década na iCarros, plataforma de compra e venda de veículos do grupo Itaú Unibanco onde teve a oportunidade de ter uma visão mais 360º da comunicação, Aline começou a produzir conteúdo em vídeo, atuou como gestora de mídias sociais e acabou migrando para a área de comunicação corporativa.
“Este ano, decidi que era hora de partir para novos desafios profissionais e, nessa busca, encontrei a ChatClass”, diz a jovem paulistana contratada, em fevereiro deste ano, pela edtech norte-americana que tem como meta democratizar o ensino do inglês por meio de uma plataforma de inteligência artificial. “O acesso à educação foi algo que me permitiu mudar completamente as minhas perspectivas de vida. Poder proporcionar isso a outros jovens é trabalhar por um propósito”, diz ela, que também já conclui uma pós-graduação em Comunicação e Mídias Digitais pela ESPM e mantém, em paralelo, um canal no YouTube sobre empoderamento feminino, beleza da mulher negra e questões raciais.
Como especialista de comunicação e marketing da edtech, Aline tem que usar todas as ferramentas disponíveis para levar conhecimento aos usuários, seja capacitando professores a utilizarem a tecnologia em sala de aula, seja buscando alternativas para engajar os alunos com o aprendizado. Para isso, tem feito um trabalho intenso nos canais digitais, incluindo YouTube e TikTok.
“Sabemos o quanto a falta do inglês pode ser uma barreira para jovens que, assim como eu, vieram da periferia e não têm a fluência necessária para ingressar em grandes corporações. Meu objetivo de vida é trabalhar para que eles tenham acesso ao idioma e, não apenas eliminem esse tipo de obstáculo, como conquistem um mundo de possibilidades”, revela. “Inovar, para mim, é mais do que desenvolver um produto ou serviço novo. É entender o impacto que isso pode ter na vida de outras pessoas.”
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