O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse ontem (28) que a instituição estava preparada para fazer intervenção maior no mercado de câmbio, mas que posteriormente o real apreciou.
Ainda assim, Campos Neto disse entender que essa será uma variável que seguirá volátil. Nesse contexto, o BC segue com a mesma política de atuação que vinha adotando até então.
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“Ou seja, nós entendemos que o câmbio é flutuante, mas em alguns momentos nós entendemos que estava muito descolado do risco. Nós fizemos intervenções maiores, até estávamos preparados em algum momento para fazer uma intervenção maior, acabou (que) o câmbio voltou recentemente um pouco”, disse ele, em live promovida pelo banco BTG Pactual.
Sobre o fluxo cambial, ele pontuou que alguns elementos “atípicos” estavam em jogo, fazendo com que o fluxo tivesse distorção maior.
De um lado, ele lembrou que os bancos atuavam na cobertura de uma “arbitragem fiscal”, o overhedge, que era muito grande. Quando o dólar subia frente ao real, esse processo se acentuava.
A referência era ao fato de a variação cambial dos investimentos dos bancos no exterior não ser sujeita à tributação, mas a cobertura de risco (hedge) desses investimentos feita no Brasil, geralmente por meio de contratos futuros de dólar e de cupom cambial, ser tributada.
No fim de março, o governo publicou medida que muda a tributação de investimentos de bancos no exterior a partir do próximo ano, buscando eliminar essa distorção.
“Nós fizemos uma medida que elimina esse problema para frente, mas que cria uma janela de compra que teria que ser até o final do ano. Nós sabíamos disso. Estávamos mapeando que existia uma compra de alguns agentes de mercado nesse sentido”, disse ele.
Campos Neto também destacou a visão do BC de que o fluxo especulativo estava ficando mais balanceado, e que o reflexo do risco no câmbio era proporcional ao Brasil e a sua situação fiscal.
“Entendemos que em algum momento começou a ter uma indicação mais clara que a parte de contas externas ia ter reação mais favorável. E aí entendemos que os players em algum momento iam entender isso”, afirmou ele, destacando que o BC ficou então “um pouco mais tranquilo”.
O presidente do BC ressaltou que isso aconteceu e o câmbio teve uma melhora. Ele avaliou ainda que, na parte institucional, apesar de todo o ruído político o mercado enxerga que o governo está achando uma forma de trabalhar.
Em outro trecho da sua participação, contudo, ele ressaltou que é muito importante para o Banco Central que o país volte ao trilho após o desvio de gastos vultosos imposto pelo enfrentamento à crise do coronavírus.
“Não existe juro baixo com inflação baixa com fiscal descontrolado. Essas coisas não se falam”, disse.
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O real deprecia 22,16% neste ano até dia 26 ante uma cesta de moedas, pior desempenho, em termos nominais, entre 60 taxas de câmbio calculadas pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS) e muito atrás do vice-lanterna, o rand sul-africano, que perde 16,46% no período.
POLÍTICA MONETÁRIA
Sobre a condução da política para os juros básicos, hoje em 3% ao ano, Campos Neto ressaltou que o entendimento do Comitê de Política Monetária (Copom) é de que a política monetária não está esgotada e que recorrer a outros instrumentos antes de exauri-la acaba criando prejuízo à credibilidade.
“É muito perigoso começar a testar ferramentas mais arriscadas”, disse ele. “Entendemos que a política monetária não está exaurida, nós entendemos que existem formas de atuar com título público onde você estabiliza mercado e atinge outras funções que não é a monetização da dívida.”
Ele reconheceu a existência de um lower bound –nível de juros abaixo do qual a política monetária perde eficácia para estimular a economia–, mas frisou que o BC não sabe exatamente qual é esse ponto, uma vez que seu cálculo depende de variáveis dinâmicas, como o quadro fiscal, a saída de recursos e a ocorrência ou não de crise política.
“Existe um lower bound? Nós entendemos que sim. Qual é o lower bound? É uma função de precificar esse risco relativo”, afirmou.
CRÉDITO
Campos Neto também reconheceu a existência de críticas ao fato de o crédito não estar chegando na ponta para pequenas e médias empresas, e afirmou que novas ações serão anunciadas em breve, com mais direcionamento.
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“Realmente acho que a gente tem que acelerar”, afirmou.
Sobre o programa de financiamento à folha de pagamento, que tem tido baixa execução até agora, Campos Neto afirmou que ele vai sofrer ajustes que devem ser divulgados na semana que vem para ampliação de seu alcance, incluindo a expansão do faturamento das empresas elegíveis.
Hoje, apenas os negócios com faturamento entre R$ 360 mil e R$ 10 milhões ao ano podem solicitar empréstimo para o pagamento de salários no âmbito do programa. (Com Reuters)
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