A Renda Fixa (RF) está como muitas de nós ficamos durante a TPM: com a autoestima baixa. Por quê? Existem muitos investimentos na RF que são indexados à taxa Selic ou ao CDI, e os dois índices se encontram em patamares mínimos históricos, rendendo 2,25% ao ano. Mas a renda fixa não se resume a esses dois indicadores, e nós, mulheres, também não somos espelho das inseguranças que borbulham na cabeça a cada ciclo reprodutivo. Em ambos os casos, o (auto)conhecimento é um aliado de primeira hora para lidar com esses períodos.
No meu último artigo, falei sobre os produtos da Renda Fixa cobertos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) e pelo Tesouro Nacional, produtos que têm uma camada extra de segurança e, por isso, oferecem mais flexibilidade para quem quer investir em produtos de bancos menores, que têm maior risco de crédito e, por isso, pagam uma taxa de juros melhor pelo seu dinheiro.
Hoje, quero falar sobre o funcionamento dos produtos da renda fixa que não têm essas coberturas, mas contam com garantias do emissor da dívida, oferecem maior rentabilidade e são excelentes opções de diversificação também para a sua carteira de investimentos. São eles: Debêntures, Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI) e Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA).
Estes produtos compõem o que chamamos de mercado de crédito privado, que nada mais é do que uma das formas das empresas captarem recursos para o financiamento dos seus projetos. Na prática, quando você investe em debêntures, CRIs e CRAs, está emprestando dinheiro às empresas emissoras desses títulos. O risco de não pagamento (risco de crédito), portanto, está atrelado à capacidade financeira dessas companhias, ele pode ser afetado por questões de natureza política, econômica e também pelo contexto do setor em que atuam.
Não apenas entender as diferenças entre os produtos na renda fixa, mas escolher como o seu dinheiro será remunerado é fundamental para, independentemente do cenário e das perspectivas do mercado, fazer escolhas que podem tornar os seus sonhos realidade.
Prefixado ou pós-fixado?
Investir na economia real é importante, mas devemos trabalhar em um plano consistente, frequente e com disciplina. Em primeiro lugar, devemos sempre analisar prazos semelhantes e produtos que tenham o mesmo tipo de garantia (Tesouro Nacional, FGC ou garantias do emissor).
Na hora de escolher um investimento na renda fixa, compare ativos que tenham vencimentos iguais, porque a rentabilidade é diretamente afetada pelo tempo que você deixa o seu dinheiro aplicado. Já as garantias determinam o risco atrelado a cada categoria de ativo. Logo, o correto é comparar apenas os produtos com garantias semelhantes.
Já sabe por quanto tempo pode deixar seu dinheiro investido? Então é hora de decidir por um investimento prefixado, pós-fixado ou híbrido. Quando um título de dívida é prefixado, significa que ele oferece uma rentabilidade previamente determinada no momento da aplicação. Logo, a rentabilidade bruta não irá mudar, desde que você respeite o prazo de resgate.
Um título pós-fixado, por sua vez, funciona na lógica inversa. Isso porque esses investimentos irão render de acordo com a variação de um indexador, como o IPCA e o próprio CDI, que é praticamente igual à taxa Selic (a taxa mãe da economia). No momento da aplicação, você saberá qual indexador irá remunerar o seu investimento. Assim, se você decide investir em um CRI ou em um FIDC (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios) que está indexado ao IPCA, por exemplo, o seu investimento irá render a variação acumulada do IPCA até o vencimento.
Os títulos híbridos, por sua vez, combinam as duas modalidades, oferecendo uma rentabilidade fixa, acrescida da variação de um indicador. Nessa opção é possível se proteger das mudanças na inflação e, ainda, obter uma rentabilidade extra. Vejam alguns os exemplos:
- Prefixado: rendimento bruto de 5%, 7% ou 10% ao ano, por exemplo, de acordo com o produto escolhido;
- Pós-fixado: se o IPCA, por exemplo, acumulou variação de 5% em um determinado ano (e é indicador atrelado ao seu investimento), a rentabilidade bruta da sua aplicação naquele ano será de 5%;
- Híbrido: IGP-M + 4% ao ano, por exemplo, de acordo com o produto escolhido.
Qual é a melhor opção para os seus sonhos?
A inflação tem de ser o motor da sua escolha. Isso porque ela impacta diretamente o poder de compra do seu dinheiro e, logo, pode comprometer a rentabilidade do seu investimento. Entenda as diferenças:
- Rentabilidade bruta: é quanto o seu dinheiro rendeu sem descontar a inflação, os impostos (quando for o caso) e as taxas;
- Rentabilidade líquida: é quanto o seu dinheiro rendeu já descontando a inflação, os impostos (quando for o caso) e as taxas.
Por isso, relacionar as expectativas da inflação com a escolha da forma de remuneração do seu investimento é fundamental para não fazer escolhas ruins.
- Inflação baixa: quando a expectativa está abaixo da meta, o ideal é escolher um título prefixado, já que a necessidade de se proteger da inflação está menor;
- Inflação alta: quando a expectativa é de inflação elevada, o ideal é procurar por ativos que ofereçam proteção para o seu dinheiro, como os pós-fixados e híbridos.
Elas que lutem.. e lucrem!
Você viu que a renda fixa pode não ser tão fixa assim, já que alguns investimentos podem variar conforme a rentabilidade escolhida. Por isso, é importante ter clareza sobre o prazo que você pode deixar o seu dinheiro investido, quais as expectativas para a economia e como esses critérios se encaixam com os seus objetivos financeiros. É fácil? Muitas vezes, não. Mas esse é um preço pequeno perto do valor da sua liberdade financeira e da certeza de que os seus sonhos estão sendo conquistados.
Tanto os prefixados quanto os pós-fixados, e até mesmo os títulos públicos, têm volatilidade até o vencimento. Ou seja: você deve respeitar o prazo acordado na hora da compra. Se precisar retirar o seu dinheiro antes do vencimento, irá receber o que o mercado quer pagar de acordo com as expectativas econômicas.
Primeiro, faça a sua reserva de emergência. Depois, invista em ativos da renda fixa com garantias (soberana ou FGC) para, então, partir para os ativos da renda fixa com garantias do emissor. Só depois de todas essas etapas, vá para a Renda Variável. Lembre-se de que não existe milagre no mercado financeiro. Se alguém a oferecer uma solução mágica, fuja. A fórmula é disciplina, frequência e diversificar. Investir é ser livre para escolher.
Francine Mendes é educadora financeira para mulheres, economista pela Universidade Federal de Santa Catarina, com mestrado em psicanálise do consumo pela Universidade Kennedy. Apresentadora do canal Mary Poupe, no YouTube, e comunicadora na RiCTV Record.
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