O dólar renovou máxima em três meses frente ao real hoje (20), dia de intensa pressão nos ativos financeiros brasileiros em meio a temores sobre o futuro das contas públicas do país depois de o Senado Federal ter imposto derrota ao governo, com todas as atenções agora voltadas para a Câmara dos Deputados.
O Senado derrubou na quarta-feira veto presidencial a projeto sobre reajuste salarial a categorias do serviço público durante a pandemia de Covid-19, movimento classificado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, como um “péssimo sinal”.
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O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), defendeu nesta quinta-feira a manutenção do veto do presidente Jair Bolsonaro. Os deputados votarão pela manutenção ou derrubada no veto em sessão ainda nesta quinta.
De acordo com cálculos do Ministério da Economia, uma eventual derrubada do veto pode gerar perdas de até R$ 120 bilhões.
Além da deterioração adicional das contas públicas num cenário fiscal já apertado e com mais gastos contratados para este ano devido, entre outras medidas, à esperada extensão do auxílio emergencial, o temor do mercado é que um endosso pela Câmara à decisão do Senado enfraqueça ainda mais a posição do ministro da Economia, o que poderia realimentar especulações sobre eventual saída dele do posto.
“Hoje é o dia de vermos se de fato existe acordão entre o Executivo e o centrão… A bola está com o centrão… Se (os deputados) derrubarem o veto, não sobra nada para Paulo Guedes”, disse um profissional do mercado financeiro em São Paulo.
Guedes tem estado sob intensa pressão nas últimas semanas, quando dois de seus mais importantes auxiliares pediram demissão alegando insatisfação com o andamento das privatizações e da reforma administrativa. O ministro expôs tensões com alguns colegas da equipe ministerial de Bolsonaro e até mesmo com o presidente da República.
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Diante de fortes rumores sobre risco de saída do ministro do governo, Guedes e Bolsonaro tentaram acalmar os ânimos do mercado e esfriar boatos sobre eventual queda do chefe da Economia.
Em um cenário no qual a Câmara não contrarie a decisão do Senado sobre a derrubada do veto do presidente da República, “já estamos vislumbrando a possibilidade de ver um dólar acima de R$ 6,00”, disse Fernando Bergallo, sócio da FB Capital, acrescentando que “a situação fiscal do país se deteriora muito (nesse caso)… pois mostraria que o Congresso não está alinhado com a agenda liberal do Ministério da Economia”.
O dólar se aproximou de R$ 6 em meados de maio.
A tensão fiscal afetou de forma ampla os mercados brasileiros nesta sessão. As taxas de juros futuros da B3 de prazos mais longos chegaram a disparar quase 20 pontos-base, enquanto o Ibovespa caiu 1,71% na mínima da sessão, para 99.131,40 mil pontos. No fim da tarde, esses mercados melhoraram o sinal, assim como o de dólar, diante de esperança de que a Câmara mantenha o veto.
No pico intradiário, alcançado perto das 11h, o dólar saltou 2,59%, a R$ 5,674, mas deixou essa máxima depois de o Banco Central vender US$ 1,140 bilhão em dois leilões de moeda à vista nesta sessão. Na véspera, o BC fez oferta líquida de swap cambial, operação retomada na semana passada após cerca de três meses de pausa.
O volume de dólar à vista vendido nesta quinta é o maior para um dia desde 24 de abril, quando a autoridade monetária injetou US$ 2,175 bilhões em quatro operações de venda de moeda spot.
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Na mínima do dia, atingida perto do fim da sessão, o dólar foi a R$ 5,544, leve alta de 0,24%.
No fechamento, a cotação valorizou-se 0,42%, a R$ 5,554 na venda. É o maior patamar desde 22 de maio, quando a moeda encerrou a R$ 5,5739.
“O BC fez certo. Quando começa a intervir, não pode tirar o pé, tem que pôr algum medo. Senão, passa a mensagem que a munição é limitada e o efeito acaba sendo o contrário”, disse Sergio Goldenstein, que já chefiou o Departamento de Operações de Mercado Aberto do Banco Central.
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, participou de evento nesta quinta, mas não comentou sobre câmbio ou o comportamento dos mercados neste pregão.
O fato é que o real voltou a ser, com folga, a moeda mais volátil entre seus principais rivais emergentes.
A volatilidade implícita nas opções de dólar/real para três meses –uma medida da incerteza atribuída ao cenário para a moeda brasileira– saltava a 21,6% nesta quinta, superando a volatilidade implícita da lira turca (19,4%). A moeda da Turquia vem renovando mínimas recordes e sofre com baixo volume de reservas internacionais e inflação persistentemente alta. (Com Reuters)
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