O dólar voltou a mostrar firme alta ante o real hoje (19), indo a máximas em quase três meses, com o mercado de câmbio afetado ainda por mal-estar em relação ao cenário fiscal no Brasil, o que também impactou os juros futuros.
O real teve o pior desempenho entre as divisas comparáveis neste pregão. Às 15h29, com o dólar perto das máximas do dia, o Banco Central anunciou oferta líquida de US$ 500 milhões em contratos de swap cambial. A moeda desacelerou os ganhos, mas, faltando uma hora para o fim das operações no mercado à vista, recuperou terreno até encerrar próxima dos picos intradiários.
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O BC vendeu todo o lote de 10 mil contratos de swap cambial ofertados.
O dólar à vista subiu 1,14%, a R$ 5,5309 na venda, maior patamar desde 22 de maio (R$ 5,5739).
Ao longo do dia, o dólar variou entre alta de 1,29%, para R$ 5,5393, e queda de 0,60%, a R$ 5,4356.
O dia foi negativo para outras praças financeiras brasileiras. Os juros longos <0#DIJ:> dispararam quase 20 pontos-base, enquanto o Ibovespa, termômetro do mercado local de ações, caiu 1,2%, segundo dados preliminares.
A piora em Wall Street no meio da tarde, após a divulgação da ata da última reunião de política monetária do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) endossou o movimento negativo nos mercados domésticos. Mas o real desde o fim da manhã operou de forma mais pressionada que seus pares emergentes, que chegaram ao fim da tarde em valorização.
O tema fiscal continua como uma nuvem sobre a confiança dos investidores locais. “Apesar do noticiário recente (sobre tentativas de consenso), ainda há muita incerteza sobre o futuro do teto de gastos e da agenda de reformas de modo geral”, disse Paloma Brum, economista da Toro Investimentos, que citou “desancoragem” das expectativas do mercado em termos de ajuste das contas públicas.
“Difícil falar em patamar exato de dólar, mas no atual contexto com certeza ele fica acima de 5,50 reais. Ainda há muita coisa para ser desvendada (sobre o debate fiscal)”, completou.
Helena Veronese, economista-chefe na Azimut Brasil Wealth Management, avaliou que uma flexibilização na agenda de correção das contas públicas é o principal risco aos mercados brasileiros neste momento. “À economia como um todo, ainda existe a preocupação sobre o elevado desemprego e ao risco de a economia perder fôlego passados os efeitos do auxílio emergencial”, disse.
Segundo pesquisa do Bank of America com gestores de fundos, a deterioração fiscal foi citada por 67% dos respondentes como o maior risco de cauda para o Brasil, seguida por ruído político (selecionado por 15%) e pelo coronavírus (8%).
No mercado, a percepção é que o Banco Central pode ter “exagerado” na dose de corte de juros. Na última reunião do Copom, de 4 e 5 de agosto, o BC reduziu a Selic em 0,25 ponto percentual, para mínima histórica de 2% ao ano, e não fechou totalmente a porta para nova distensão monetária, mesmo citando preocupações do lado fiscal.
O temor é que a deterioração das contas públicas obrigue uma correção de rota na política monetária, com alta antecipada da Selic, o que causaria desconforto entre investidores e elevaria a percepção de risco, impactando negativamente dólar e bolsa.
Na ata do Fed divulgada nesta quarta-feira, o BC dos EUA fez referência ao Brasil, citando que o real desvalorizou ante o dólar entre as reuniões de junho e julho do Fed em meio a “turbulência política” e a “crescentes” casos de Covid-19 no país. (Com Reuters)
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