Sem a criação da polêmica cédula de R$ 200, lançada oficialmente hoje (2), o país poderia viver problema de falta de dinheiro em espécie em meio ao aumento da demanda gerado pela pandemia da Covid-19, afirmou a diretora de Administração do Banco Central, Carolina Barros.
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“Diversos cenários de estresse foram modelados pela equipe econômica do BC e ficou claro que, se nenhuma medida incisiva fosse tomada, poderíamos sim ter falta de numerário”, disse ela, acrescentando que o problema poderia gerar dificuldade de acesso de grande parte da população a itens de consumo básico.
Projeções do BC indicavam a necessidade de um adicional de R$ 105,9 bilhões, em valor financeiro, que precisaria ser gerado em um espaço de cinco meses para fazer frente à demanda. O número veio como um adicional à encomenda de novas cédulas e moedas já previstas para o ano, da ordem de R$ 64 bilhões.
Barros justificou que a impressão de notas de R$ 100 não seria uma alternativa factível, considerando a necessidade de gerar maior volume financeiro em menor espaço de tempo.
Também presente no evento, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, frisou que o lançamento da nova cédula é resposta a mudanças provocadas pela pandemia de Covid-19, já que houve aumento expressivo da demanda da sociedade por dinheiro em espécie.
“Outras nações viveram fenômeno semelhante. Em momentos de incerteza, é natural que as pessoas busquem a garantia de uma reserva em dinheiro. Os programas de transferência de renda implementados para enfrentar os efeitos negativos da crise e a extensão do programa de auxílio emergencial também contribuem para essa maior demanda por dinheiro em espécie em nosso país”, disse Campos Neto. “Além disso, com a crise, o ritmo de retorno das cédulas à rede bancária é menor, já que diminuiu a quantidade de transações presenciais no comércio”, completou ele.
Segundo Campos Neto, uma cédula de maior valor já estava em pré-projeto desde o lançamento da segunda família de cédulas do real, em 2010. Mas o efetivo anúncio da medida neste ano, na esteira da crise, gerou as mais variadas manifestações contrárias, ligadas à preocupação com temas como segurança e inflação.
Em ação movida junto ao Supremo Tribunal Federal, inclusive, os partidos políticos PSB, Podemos e Rede Sustentabilidade tentaram barrar o lançamento e a circulação da nova nota.
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Em manifestação ao STF na semana passada, Campos Neto defendeu a legalidade da investida à ministra Cármen Lúcia, relatora do processo. A área jurídica do BC, por sua vez, apontou que 20 milhões de cédulas já haviam sido encomendadas num primeiro lote, ao custo de R$ 6,5 milhões.
Para 2020, o BC tem contrato assinado com a Casa da Moeda no valor de cerca de R$ 146 milhões para aquisição de 450 milhões de cédulas de R$ 200 reais, e a estatal responsável pela produção de numerário já adquiriu parcela significativa dos insumos.
Sobre o tema, a diretora Carolina Barros afirmou que o BC prestou todas as informações solicitadas ao STF e que agora aguarda a decisão da corte. “O BC respeita decisões judiciais”, disse.
Questionada sobre eventual ligação entre a nova cédula e a perda de valor do real, ela também afastou qualquer conexão nesse sentido. “Criação da cédula de R$ 200 não tem a ver com a perda de poder de compra da nossa moeda nem mesmo com inflação. Aqui o Banco Central verificou uma demanda excepcional por papel-moeda e é papel do Banco Central, portanto, atender essa demanda. Nós estamos num país com inflação baixa e estável”, disse.
No fim de agosto, o próprio Campos Neto reconheceu que o lançamento da nota de R$ 200 “de fato vai contra algumas coisas que o Banco Central está pregando”, em referência à preconização de um sistema financeiro cada vez mais moderno e digital. Mas ele pontuou que a medida foi necessária num momento em que o governo precisou emitir mais dinheiro e de forma mais rápida.
No mundo, diversos países caminham na direção contrária da escolhida pelo Brasil, tirando de circulação cédulas de maior valor para, com isso, coibir a lavagem de dinheiro e a realização de outras atividades ilegais usualmente feitas com dinheiro em espécie.
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Na coletiva, Barros negou tratar-se de uma solução permanente para um problema temporário. “Cédula de R$ 200 veio para ficar”, disse. “Quando essa demanda não mais se fizer presente, o Banco Central gradativamente vai ajustando”, disse.
A nova cédula, que começa a circular já nesta quarta-feira em algumas capitais do país, tem como personagem o lobo-guará. O animal foi o terceiro mais citado em pesquisa promovida pelo BC em 2001 para identificar quais espécimes da fauna a população gostaria de ver representadas nas notas do país. Os dois mais votados, tartaruga marinha e mico-leão-dourado, foram usados nas notas de R$ 2 e R$ 20, respectivamente. (Com Reuters)
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