O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu hoje (9) pela manutenção da taxa Selic em 2% ao ano em sua última reunião de 2020, indicando ainda a elevação dos juros para 3% a.a. em 2021, e em 4,50% a.a., em 2022. De acordo com ata da reunião “apesar da pressão inflacionária mais forte no curto prazo, o Comitê mantém o diagnóstico de que os choques atuais são temporários, mas segue monitorando sua evolução com atenção, em particular as medidas de inflação subjacente.”
No documento, o Copom destaca ainda que o “prolongamento das políticas fiscais de resposta à pandemia que piore a trajetória fiscal do país, ou frustrações em relação à continuidade das reformas, podem elevar os prêmios de risco. O risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos, ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária.”
A taxa Selic é um instrumento do Banco Central para o controle da inflação e estímulo econômico. Com a decisão, o juro real do país alcança patamares negativos na comparação com a inflação medida pelo IPCA, em 4,31% nos últimos 12 meses, segundo dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O cenário doméstico acompanha a atuação dos bancos centrais em outras economias pautada, em 2020, por juros baixos ou próximos de zero, além da aposta em injeção de liquidez nos mercados para fazer frente aos impactos econômicos dos lockdowns e quarentenas em função do coronavírus.
Economista e sócio da BRA Investimentos, João Beck comenta que, “apesar da alta na inflação nos últimos meses, o Copom olha mais para os anos seguintes do que propriamente a dinâmica de curto prazo. E tem sinalizado ao mercado, através de ‘forward guidance’, seu posicionamento, que deve continuar sendo enfático no tema do regime fiscal e na manutenção do teto para condução das políticas de juros decidida pelo Copom no futuro”, avalia. O forward guidance é uma indicação sobre a orientação futura, de médio prazo, sobre como Banco Central pretende conduzir a política monetária.
Segundo Alexandre Santo, economista-chefe da Órama, o cenário da inflação não está favorável há alguns meses, principalmente com o aumento de preços do cotidiano. De acordo com a FGV, o Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna (IGP-DI) teve alta de 2,64% no mês de novembro e o Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M) ficou em 1,28% na primeira prévia de dezembro.
Santo informa que os IGPs estão rodando em torno de 25% e os contratos na economia são indexados normalmente pelo IGP-M, “tenho receio que haja um contágio de um índice sobre o IPCA, assim sendo, acredito que o Banco Central precise subir a Selic antes do que ele havia prescrito no Forward Guidance”. Por fim, ele declara que a taxa Selic em 2% não interfere nos investimentos, mas os próximos passos do Bacen terão maior relevância para os investidores.
Lucas Carvalho, analista da Toro Investimentos, acredita que a taxa Selic fique no patamar de 2% até o final do primeiro semestre de 2021. Para ele, mesmo com o IGP-M valorizado mais de 20% no acumulado de 12 meses e apesar dos patamares do IPCA, o cenário ainda está sob controle, dando apenas um sinal amarelo para as próximas divulgações
Para 2021, o time da XP pondera que a taxa Selic deve encerrar o próximo ano em 3% (vs. 2% atualmente), cenário considerado ainda bastante expansionista. “Taxas mais altas do que o esperado são um risco para a atividade, para o fluxo de ações e até mesmo para números fiscais do governo. Como o Brasil terá quase 100% do PIB como dívida bruta, cada 1% de aumento na taxa de juros custa cerca de R$70 bilhões/ano, um valor bastante alto.”
De acordo com o Relatório Focus, do Banco Central, divulgado na segunda (7), a meta para a Selic em 2021 é de 3% e para os dois anos seguintes será de 2022 de 4,50% e 2023 de 6%.
Siga FORBES Brasil nas redes sociais:
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Siga Forbes Money no Telegram e tenha acesso a notícias do mercado financeiro em primeira mão
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.