O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) terminou 2020 com uma alta acumulada de 4,52%, contra 4,31% em 2019, de acordo com os dados divulgados hoje (12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo a pesquisa realizada pela Reuters, as expectativas dos analistas eram uma alta de 1,21% em dezembro, acumulando avanço de 4,38% em 12 meses.
O resultado mostra que a inflação ficou acima do centro da meta do governo de 4%, mas no intervalo de tolerância, já que a margem era de 1,5% acima ou abaixo. Mesmo assim, foi a maior taxa em quatro anos, sob forte pressão dos alimentos ao longo de 2020.
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Essa foi a maior taxa acumulada no ano desde 2016, quando o IPCA subiu 6,29%. Ainda assim, o 4,52% marcou o terceiro ano seguido na banda, após terminar ligeiramente abaixo do piso em 2017.
Em dezembro, o IPCA registrou alta de 1,35%, terminando o ano com aceleração sobre o avanço de 0,89% de novembro. Esse é o resultado mensal mais elevado desde fevereiro de 2003 que atingiu 1,57% e o maior para um mês de dezembro desde 2002 que foi 2,10%. No mesmo mês, todos os setores pesquisados tiveram alta, com destaque para o salto de 2,88% de habitação, contra 0,44% em novembro. Isso porque os preços da energia elétrica subiram 9,34% no mês com a bandeira tarifária vermelha patamar 2.
Alimentação e bebidas registrou a segunda maior influência no último mês do ano, embora tenha desacelerado a alta a 1,74%, de 2,54% no mês anterior. Porém, foi exatamente a alimentação e as bebidas que provocaram o maior impacto no índice ao disparar 14,09% no ano, encerrando 2020 com a maior variação acumulada no ano desde 2002 (19,47%).
Na sequência vieram a habitação com alta de 5,25% e artigos de residência com um avanço de 6,00%. De acordo com o IBGE, os três grupos responderam em conjunto por quase 84% do IPCA de 2020.
O único grupo a apresentar deflação em 2020 foi o vestuário de 1,13%. “Por conta do isolamento social, as pessoas ficaram mais em casa, o que pode ter diminuído a demanda por roupas”, disse o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov.
A inflação de serviços, setor mais afetado pelas medidas de isolamento contra o coronavírus, alcançou taxa de 0,83% em dezembro, enquanto os preços acumularam alta de 1,73% no ano, uma forte desaceleração sobre os 3,50% em 2019.
O ano passado começou com o cenário de preços fracos, intensificado pelas paralisações e isolamento para contenção do novo coronavírus. Entretanto, em meados de 2020, os preços passaram a apresentar um repique, com os alimentos entrando em destaque no final do ano em meio a exportações, fortalecimento do dólar, auxílio emergencial e também a flexibilização das medidas de isolamento. “O câmbio mais pressionado nos últimos dias também pode pressionar um pouco o IPCA dos primeiros meses de 2021”, destacou a XP em relatório Macro Watch.
As maiores variações mensais entre os alimentos foram registradas em dois períodos distintos, nos meses de março (1,13%) e abril (1,79%), logo após o início das medidas de isolamento social devido à pandemia de coronavírus; e de setembro a dezembro, com variações superiores a 1,70% nos quatro últimos meses do ano. As maiores contribuições para a alta no grupo vieram de óleo de soja (103,79%), arroz (76,01%), leite Longa Vida (26,93%), frutas (25,40%) e carnes (17,97%).
O Banco Central, cuja avaliação é de que os choques atuais ligados à inflação deverão ser passageiros, encerrou o ano de 2020 com a taxa básica de juros na mínima histórica de 2%. Mesmo assim, destacou que, em função do quadro inflacionário, as condições para seu compromisso de não subir a Selic podem não estar mais satisfeitas em breve, ainda que isso não signifique que a taxa será mecanicamente elevada.
“Os dados do último mês apresentam diversos sinais de aumento de preocupação para o Banco Central, com especial destaque para avanço dos industriais subjacentes. Esperamos para janeiro um arrefecimento por conta da alteração da bandeira tarifária de energia dentre outros. Por outro lado, a aceleração de indústrias e a desvalorização recente do real sugere cautela”, afirmou Felipe Sichel, estrategista-chefe do banco digital ModalMais.
O BC projeta crescimento da economia de 3,8% em 2021, e prevê uma inflação de 3,75%, com margem de 1,5%, uma retomada mais lenta no mercado de trabalho e na volta à normalidade após as restrições impostas pela pandemia. 2021 começou com cautela em relação aos preços devido principalmente à desvalorização do real, a moeda brasileira já perdeu 5% ante o dólar. (com Reuters)
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