O investidor estrangeiro continua “muito reticente” com o Brasil e não há no curto prazo perspectiva de retorno consistente de fluxos externos, a despeito do ambiente global de farta liquidez, disse Drausio Giacomelli, estrategista-chefe para mercados emergentes do Deutsche Bank, destacando o peso das eleições no Congresso para as já fragilizadas perspectivas fiscais.
“Basta olhar o posicionamento de estrangeiros no mercado de títulos, que está em menos da metade do pico. O posicionamento em bolsa está em níveis mais baixos, perto de mínimas históricas, as entradas são táticas, não são estruturais”, afirmou.
Segundo ele, o “denominador comum” para isso é a discussão sobre que rumo o Brasil quer tomar. “O estrangeiro esperava mais e se frustrou muitas vezes. Ele está no modo ‘show me the money’, ele quer ser convencido. E nesse sentido a agenda do clima é importante. Meio ambiente é negócio. Espero que o Brasil passe a ver o meio ambiente como negócio, e não como ideologia.”
Para Giacomelli, o mercado conta com que até o fim de março a PEC emergencial e a reforma administrativa estejam em devida tramitação nas casas legislativas. A primeira propõe a criação de “gatilhos” que seriam acionados sempre que a regra de ouro fosse descumprida, enquanto a segunda tem como objetivo reduzir o custo da máquina pública.
“O Brasil está numa encruzilhada, está decidindo o caminho que vai tomar. Tem condições de tomar o caminho correto, mas a realidade é que já está tarde, estão fazendo isso na prorrogação”, disse o estrategista, referindo-se à intenção do governo de pautar reformas no Congresso e de articular com os parlamentares.
Giacomelli destaca que, se o Orçamento aprovado pelo Congresso para 2021 não for crível ou ameaçar o teto de gastos haverá pressão maior sobre juros e câmbio. “O cenário-base do Banco Central não se verificaria. O tempo de ação é o tempo de expiração do teto de gastos”, afirmou.
Para o estrategista, no ritmo atual de atenção à pauta fiscal, o Brasil caminha, de novo, para manter o “voo de galinha” que tem marcado o país nos últimos 40 anos.
“Mais importante do que ter data é ter rumo, um caminho de credibilidade, não tem ‘quick fix’ aqui, não tem reparo rápido. É um processo de anos…E, por ora, temos pouca ou nenhuma notícia sobre o rumo das pautas positivas, da agenda de reformas, do governo.”
O estrategista disse que o mercado até tem paciência de esperar a definição política, mas se incomoda com a ausência de definições sobre políticas econômicas.
“Há um vácuo na política de reformas e na indicação de rumo que tornam a moeda do Brasil um termômetro da economia”, afirmou, lembrando que o real está, em seus cálculos, entre as três moedas com maior excesso de desvalorização.
E o real permanecerá fadado a uma “montanha-russa” ao longo deste ano, segundo o estrategista. Ele diz que já era prevista maior pressão cambial com a aproximação das eleições para o Congresso, mas se projeta algum alívio nos meses seguintes, considerando o encaminhamento das reformas.
“Você supera a tensão no segundo trimestre, mas depois elas ressurgem no fim do ano com as discussões sobre o Orçamento e o teto de gastos. No fim, o dólar deve fechar o ano em R$ 4,80.”
A projeção oficial para a Selic é de 3% ao término de 2021, ante os atuais 2%, mas Giacomelli disse que o BC sinalizou no comunicado do Copom da véspera que a taxa pode ir a 3,5% até dezembro.
“Prevemos crescimento da economia de 3,2% e não vejo motivos para se pensar que poderá ficar acima disso”, finalizou. (Com Reuters)
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