O diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, disse hoje (12) ser natural imaginar que o “estímulo extraordinário” que o Banco Central está concedendo à economia via política monetária será retirado de cena em algum momento.
“A gente sabe que a taxa estrutural da economia brasileira não é 2%, não é a taxa de juros com que a gente vai conviver em situações normais”, afirmou Serra em live promovida pela XP, acrescentando que esse patamar foi necessário para fazer frente ao cenário atípico gerado pela pandemia.
“É natural imaginar que esse estímulo extraordinário vai sair de cena em algum momento”, disse o diretor. “Esse é um debate que vai acontecer no devido tempo ao longo dos próximos bimestres. Esse debate já está ocorrendo no mercado e é natural que ele ocorra do nosso lado também.”
Serra também ressaltou que, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) retirar da sua comunicação o forward guidance (orientação futura) – por meio do qual tem se comprometido a não subir os juros se mantidas algumas condições -, a política monetária voltará a funcionar como antes, seguindo o balanço de riscos e as projeções macroeconômicas.
O diretor frisou que não há relação mecânica entre a retirada do forward guidance e a elevação dos juros, mas que tampouco há impedimento para que seja dado início a um novo ciclo de alta de juros assim que a orientação futura saia de cena.
O diretor disse ainda não ser simples avaliar que o choque da pandemia visto entre abril e maio será reprisado agora e avaliou que o recrudescimento da Covid-19 ocorre mais em função de aumento da mobilidade social, mas com diferente impacto sobre a atividade econômica.
Inflação
Serra afirmou que, em meio às incertezas relacionadas à saúde e também na ausência de um Orçamento aprovado pelo Congresso para 2021, o cenário é de “nevoeiro”, mas que ainda assim a direção macroeconômica está bem melhor do que o Banco Central imaginava há seis meses. Ele citou a atividade produtiva e a própria inflação, destacando como positiva a alta recente.
“Em setembro, se não me engano, o próprio Banco Central projetava 2,1% de inflação, se não me engano o mercado esperava uma inflação abaixo disso para 2020, que era abaixo do piso da meta”, disse Serra. Ele afirmou que, passados três meses, o BC está entregando uma inflação que é acima do centro da meta, “o que nunca é desejável”, mas ainda assim é “espetacularmente melhor” do que 2,1%.
Sob forte pressão dos preços dos alimentos, a inflação oficial do Brasil encerrou 2020 em 4,52%, a maior taxa em quatro anos e acima da meta central do governo para o ano, de 4,0%.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado nesta terça pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ficou, contudo, dentro do limite máximo da meta, que tem um intervalo de tolerância de 1,5 ponto para mais ou para menos.
Serra destacou a alta recente das commodities no mundo, como resultado do pagamento de auxílios para se contrapor ao impacto econômico da pandemia e também por questões climáticas.
Sobre câmbio, Serra avaliou que a incerteza fiscal é um fator muito importante para explicar o nível atual do dólar, além da mudança nas regras de tributação de hedge, a redução da dívida em dólar por parte de algumas empresas e a própria redução do diferencial de juros.
Falando em variáveis macro, o diretor afirmou, contudo, que sua expectativa no longo prazo é que haja um retorno a um equilíbrio estrutural.
Serra disse também não ver muita mudança no cenário fiscal desde a última reunião do Copom, ocorrida nos dias 8 e 9 de dezembro e afirmou que o BC segue trabalhando com seu cenário-base, que contempla manutenção do teto de gastos.
O diretor disse ainda não ser simples avaliar que o choque da pandemia visto entre abril e maio será reprisado agora e avaliou que o recrudescimento da Covid-19 ocorre mais em função de aumento da mobilidade social, mas com diferente impacto sobre a atividade econômica. (Com Reuters)
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