A lacuna econômica racial é normalmente analisada a partir da renda, do desemprego e do patrimônio das pessoas. No entanto, a economia é mais que dinheiro. A única maneira de causar um impacto na desigualdade econômica e racial nos EUA é entender que ela é derivada de vários fatores, os quais também apresentam lacunas na sociedade.
Cada indivíduo tem pelo menos quatro ativos: dinheiro, habilidades, tempo e networking. Tradicionalmente, pensamos apenas em ativos financeiros (que é apenas a primeira categoria: dinheiro), e só olhamos para a renda e o patrimônio. As soluções de política são direcionadas a dinheiro, por exemplo, títulos infantis (política governamental norte-americana em que toda criança recebe ao nascer uma conta com financiamento público). Contudo, o dinheiro, se não for gasto de uma forma que traga segurança financeira, não resolverá a lacuna econômica racial, que continua de geração em geração.
Também consideramos habilidades (o que os economistas chamam de capital humano); para isso, despejamos enormes quantias de dinheiro em educação, programas de subsídios, empréstimos estudantis, etc. Podemos continuar a fazê-lo e podemos canalizar nossas tentativas de fechar a lacuna econômica, por exemplo, através de políticas, como o financiamento da educação para construir capital humano. A educação pode permitir que indivíduos de diferentes origens alcancem um status quo socioeconômico mais elevado. Entretanto, a mobilidade econômica nos Estados Unidos, infelizmente, está abaixo do que se poderia esperar do ‘sonho americano’. Os problemas que surgem com os empréstimos estudantis e as perspectivas inseguras de emprego não necessariamente desaparecem com a educação. A educação, de fato, demonstrou aumentar a mobilidade intergeracional. No entanto, também tem o efeito de reforçar as diferenças de origem familiar, reduzindo sua eficácia em diminuir a lacuna socioeconômica.
“Embora a educação possa às vezes aumentar o desempenho e a renda das crianças de famílias relativamente pobres, o efeito médio da educação em todos os níveis são para reforçar as diferenças sociais e familiares que os jovens estão inseridos e que levam para a sala de aula ”, explicaram em 2014 Leslie Kaplan e William Owings na obra Educational Foundations.
Agora, vamos considerar os recursos sobre os quais falamos com menos frequência: networking e tempo. A realidade é que as classes altas têm mais de ambos. Eles têm tempo porque o dinheiro compra tempo, o dinheiro permite que eles não precisem fazer muitas tarefas ao longo da vida, como cuidar das crianças e fazer compras do supermercado. O dinheiro também permite que tenham flexibilidade com seu tempo, dando-lhes empregos que lhes permitem trabalhar de casa ou de locais diferentes. Aqueles que trabalham em empregos de baixa renda têm menos flexibilidade. Eles têm menos tempo porque se acontecer alguma emergência que interfira com seu trabalho, eles ficarão presos na escolha do dinheiro ou do tempo, enquanto aqueles com mais recursos podem fazer ambos.
Quando falamos sobre networking, por exemplo, é costume pensar no antigo clube dos homens brancos. Contudo, a realidade é que nossas redes são muito mais amplas do que raça e gênero, elas são um recurso. Ninguém reconhece nossas habilidades simplesmente através de um currículo enviado em uma caixa preta. A maioria dos empregos é obtida por meio da rede. Na verdade, “70% de todos os empregos não são abertos em sites de empregos e até 80% dos empregos são preenchidos por conexões pessoais e profissionais (networking).” Nosso networking nos permite ter pessoas que conheçam nossas habilidades, nos dá a possibilidade de ganhar dinheiro, além de fornecer ajuda de qualidade, permitindo-nos ter mais tempo.
Dessa forma, cada um desses quatro ativos impacta no acúmulo dos outros três. Tanto os indivíduos quanto as instituições precisam reconhecer a conexão entre esses ativos para ter um impacto na mobilidade socioeconômica individual e coletiva. Na verdade, algumas instituições demonstraram essa consciência ao abordar as lacunas econômicas; por exemplo, a Elevest oferece coaching executivo para mulheres porque a companhia percebeu as habilidades necessárias para ajudá-las a obter promoções e, consequentemente, aumentar sua riqueza, ajudando, assim, as mulheres em duas das quatro áreas. Instituições semelhantes podem ser necessárias para atender grupos minoritários.
Não está claro se a política pode lidar com todas essas quatro áreas potenciais para preencher as lacunas existentes. A política pode não ser muito boa para promover networking. No entanto, programas de mentoria de empresas para escolas e comunidades podem ajudar a providenciá-los. Grupos como o Above Board buscam mudar a liderança das empresas concentrando-se em auxiliar mulheres e minorias a expandir suas redes.
A política social também pode não ser ótima em dar às pessoas tempo e flexibilidade. Mas pensar sobre o tempo pode nos dar uma compreensão melhor de quais mudanças precisam ser feitas em nossa infraestrutura social e corporativa. Em todo caso, o que devemos saber é que o dinheiro por si só não eliminará a lacuna econômica dessa corrida. Assim como o tempo e o dinheiro são semelhantes, no sentido de que ambos são recursos que devem ser orçados (como disse Sendhil Mullainathan em seu livro, A Ciência da Escassez), todos esses recursos podem ser esgotados muito facilmente quando você não tem um deles. Em especial, menos dinheiro tende a tornar todo o resto menos disponível, e o mesmo ocorre com qualquer um dos outros três ativos.
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