Em 2008, no centro de São José do Rio Preto, os irmãos Zanon se depararam com uma situação delicada: o risco de falência da Seguralta, empresa familiar fundada pelo pai dos empresários, Reinaldo Zanon, em 1968. Após 40 anos sob gestão desorganizada, a corretora de seguros acumulava uma dívida de R$ 300 mil, sem caixa para escapar da situação.
“Meu pai não fazia contas e tinha um sócio que também não se atentava para isso. Eles definiam um valor de retirada sem saber se a empresa aguentaria aquilo”, relembra Gustavo Zanon. Em meio a uma bola de neve, a única solução viável parecia ser a venda da companhia. No entanto, Gustavo e Reinaldo –primogênito que carrega o nome do pai– decidiram tomar as rédeas do empreendimento para tentar salvá-lo.
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“Pensamos em desengavetar um sonho que minha mãe tinha desde 1994: franquear a empresa”, conta Reinaldo. Visionária, Fátima Zanon havia feito um curso sobre franchising nos Estados Unidos e enxergava potencial na aplicação da estratégia no caso da Seguralta. “Na época, meu pai e o sócio dele achavam que ela estava maluca. Quando se falava em franquias, todos imaginavam McDonald’s, Burger King, Natura. Não franquias de corretoras de seguros.”
Em 2008, essa parecia a ideia perfeita para tirar a empresa das dívidas. “O primeiro ano foi muito difícil, não entendíamos como funcionava. Na ocasião, eu fui atrás de empresas de seguro, que não se interessavam”, lembra Reinaldo, que logo percebeu que seu público comprador era outro. “Um despachante nos procurou em uma cidade vizinha dizendo que havia ficado sabendo da nossa franquia e tinha interesse em comprar. Foi aí que eu percebi que estava atrás das pessoas erradas. Mudei o foco e comecei a ir atrás de despachantes, contadores e bancários. Foi o que acelerou nosso crescimento.” Com apenas dez unidades franqueadas, a companhia já havia gerado cerca de R$ 150 mil para o caixa da empresa.
Foi um início valioso para um negócio desacreditado. No entanto, embora os jovens empresários tivessem todo o apoio do pai, o mercado não os enxergava com tanta confiança, o que atrapalhava o business. “O setor de seguros precisa de credibilidade. As pessoas precisam confiar naquela imagem”, explica Gustavo. “Foi aí que contratamos o jornalista Paulo Henrique Amorim para nos ajudar no marketing e na criação do branding da companhia.”
Reinaldo relembra com humor sobre a decisão que tomaram. “Nós já estávamos endividados e, para fazer esse trabalho, precisávamos de mais R$ 200 mil. Falamos com nosso pai e ele disse: ‘Quem está devendo R$ 300 pode dever R$ 500”. Com pensamento positivo, os irmãos fizeram mais essa dívida para tentar alcançar o crescimento desejado. “Foi a grande virada do nosso negócio. Um ano depois, já tínhamos explodido, com 120 franquias”, conta orgulhoso.
Após pagarem a dívida, os empresários conquistaram o primeiro milhão e seguiram o crescimento da empresa. Em 2014, com a percepção de que sabiam lidar muito bem com o sistema de franchising, uma nova ideia surgiu. “Decidi fundar uma holding de franquias”, conta Reinaldo sobre o nascimento do Grupo Zanon. Atualmente, a Seguralta, junto de mais três marcas –Los Mex, SegCredi e Ateliê Nail Design– fazem parte do grupo, que tem mais de 2.500 franqueados espalhados pelo Brasil e fechou 2020 com um faturamento de R$ 500 milhões.
Como escapar da falência
De uma dívida de R$ 300 mil para um faturamento de meio bilhão, os irmãos Zanon aprenderam na prática como escapar da derrocada. Reinaldo conta que o primeiro acordo firmado entre eles após a quitação das dívidas foi não fazer financiamentos. “Se eu tenho caixa, simplesmente vou lá e compro. Se não tenho, espero a oportunidade certa”, explica.
Para ele, esse é um dos pontos-chave para que a situação não chegue a níveis preocupantes. Além disso, o empresário ressalta a importância que o marketing teve no crescimento de sua empresa. “O [negócio] mais conhecido é maior do que o melhor”, diz. “Hoje, com o marketing digital e as redes sociais, o processo é muito mais fácil.” Seguindo o seu próprio conselho, Reinaldo conta que nunca deixa a companhia longe dos holofotes. “Recentemente, nós fizemos parceria com o campeonato brasileiro. Temos placas divulgando nossa empresa pelo campo inteiro.”
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Já para Gustavo, o mais importante é tirar o foco da dívida. “Você precisa pensar na solução e nas ações que te fizeram chegar ali. Primeiro estanca o sangramento, depois cuida da ferida”, destaca. Segundo o empresário, apenas assim é possível se recuperar e entender as estratégias que precisam mudar para se alcançar o sucesso.
Indo mais além, Reinaldo relembra todo apoio recebido de seu pai, morto há dois anos. “Ele vendia verduras em uma feira em Jundiaí, cidade onde nasceu. Depois de um tempo, começou a trabalhar em uma grande seguradora, o que o inspirou a criar seu próprio empreendimento no setor”, conta. Mesmo com alguns descrentes à sua volta, criou a Seguralta, a qual geriu por 40 anos. “Muita gente também riu da nossa ideia de franquear. Assim como aconteceu com a minha mãe”, relembra. Para ele, só há uma explicação para tudo isso: “Quando você é visionário, também é facilmente desacreditado”.
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