Parte do mercado fez uma interpretação equivocada sobre o dissenso que ocorreu na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) ao entender que alguns diretores já teriam defendido alta da Selic para janeiro, e não março, disse hoje (11) o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Em evento do banco JPMorgan, Campos Neto também frisou que a comunicação sobre a divergência entre os membros do Copom não é uma sinalização de política monetária, mas apenas parte do esforço do BC de aumentar a transparência da sua comunicação.
“Quanto tentamos ser transparentes sobre a discussão de que alguns membros gostariam de começar a conversar sobre uma normalização das taxas houve uma interpretação equivocada. Acho que algumas pessoas interpretaram isso erradamente como sendo janeiro, e não março”, afirmou Campos Neto.
O presidente do BC disse que essa leitura feita por parte do mercado seria contraditória com a política de transparência advogada pela autoridade monetária.
“Se você tinha membros que de fato achavam que a gente devia ter elevado em janeiro, teriam votado nisso e sido bem claros”, disse Campos Neto.
“Se nós estamos falando que vamos ser mais transparentes, para nós estava meio que implícito que, quando mencionamos isso, as pessoas entenderiam isso como sendo março, não janeiro”, afirmou. “Entendo que poderíamos ter sido mais claros sobre isso. Usei todos os eventos que tive para comunicar claramente que esse não era o caso, que as pessoas estavam falando sobre março”, acrescentou.
O Copom manteve a taxa básica de juros em 2% na sua última reunião, em 19 e 20 de janeiro, mas comunicou, em sua ata, que alguns membros avaliaram que o colegiado “deveria considerar o início de um processo de normalização parcial, reduzindo o grau ‘extraordinário’ dos estímulos monetários”.
Esses membros questionaram se esse grau de estímulo ainda seria adequado “frente à normalização do funcionamento da economia observada nos últimos meses”, segundo o documento.
O entendimento que predominou foi que, em meio às incertezas acima do nível usual, o Copom deveria aguardar a divulgação dos próximos dados sobre a pandemia, a atividade econômica e a política fiscal antes de definir os próximos passos da política monetária.
Campos Neto disse que o fato de o BC comunicar um dissenso não deve ser interpretado como uma sinalização sobre sua política monetária. “Fomos muito claros de que isso (o dissenso) não foi um sinal”, afirmou.
Ele afirmou, ainda, que o aumento da transparência por parte da autoridade monetária envolve um processo de aprendizagem e que ela se torna ainda mais importante no novo ambiente de autonomia do BC – a qual se tornará realidade a partir da sanção da lei da autonomia aprovada na quarta pela Câmara dos Deputados.
Auxílio Emergencial
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse hoje (11) que dados recentes parecem indicar que a retirada do auxílio emergencial está tendo um efeito maior sobre a desaceleração da atividade do que o esperado, mas frisou que a autoridade monetária ainda precisa de mais tempo para analisar o cenário.
“Eu provavelmente diria que, com os dados que temos de alta frequência das últimas duas, três semanas, que estamos vendo o efeito da retirada do auxílio que provavelmente é um pouco mais alto do que imaginávamos. Mas é muito incipiente, precisamos de mais tempo para analisar isso e não espero, e não quero, que ninguém tire nenhuma conclusão do que estou falando”, afirmou.
Segundo Campos Neto, os dados mostram uma queda “considerável” no consumo nos últimos dias, mas não dos preços, que têm sofrido também o impacto da alta das commodities, a qual tem se disseminado sobre a cadeia de alimentos e de outros preços.
“Estamos na fase de tentar entender essas duas dinâmicas, então as próximas duas semanas serão muito importantes para quantificar como isso vai evoluir”, afirmou.
“Na atividade acho que temos essa incerteza, mas hoje você pode dizer que temos uma desaceleração na margem. Na inflação, o problema principal é tentar avaliar o efeito da transferência, como isso vai impactar e qual o impacto de outros elementos, sendo o mais importante a elevação dos preços de commodities.”
Ao falar sobre o auxílio emergencial, Campos Neto reiterou o entendimento de que o país não pode criar novos gastos sem medidas fiscais que compensem esse aumento de despesa, sob o risco de acabar gerando um efeito contracionista.
“Se você pensar em uma nova onda de programa fiscal, se não for acompanhada por uma contrapartida com a qual as pessoas possam realmente ver uma preocupação com a projeção fiscal, você pode ter um efeito oposto ao que você quer”, afirmou. (Com Reuters)
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